sábado, 13 de março de 2021

Alguns itan (lendas) dos 16 principais "Odú Meji"

Apenas em português | 4 ITAN de cada odu aproximadamente




ITAN TI ODÙ OKANRAN



Buru, Boye e Boshe, eram os nomes dos Babalawo que consultaram Ifá para os macacos.

Naquela época, os macacos possuíam penas muito fracas, o que os impediam de trepar em árvores, permitindo-lhes apenas movimentarem-se com muita dificuldade sobre o solo.

Expostos a perigos constantes, resolveram consultar os três adivinhos, para saberem o motivo de tanta adversidade e de que forma poderiam fortalecer-se um pouco mais.

Quando foi feita a consulta para os macacos, surgiu Okanran Meji, que os mandou recolher todas as frutas que encontrassem e que as trouxessem junto com duas cabaças, duas galinhas, uma pequena talha com alças, uma outra de igual tamanho sem alça, duas estacas de madeira do tamanho de pernas humanas e oferecessem a Elegbara todas estas coisas, para que pudessem se tornar semelhantes aos homens.

Imediatamente os macacos saíram em busca do material necessário, voltando pouco depois com tudo, que entregaram aos adivinhos para procederem ao ebó.

Os adivinhos fizeram o ebó e recomendaram aos macacos, que voltassem no dia seguinte.

No outro dia, os adivinhos entregaram aos macacos um amasi, para que fosse utilizado em banhos durante 15 dias, garantindo que no décimo sexto dia, tudo estaria mudado, suas pernas estariam tão fortes que poderiam andar sobre dois pés como qualquer ser humano.

Acontece que os homens, dando falta das frutas da floresta e preocupados com o procedimento dos macacos foram também consultar os adivinhos, para saberem o que estava acontecendo.

Na consulta surgiu novamente Okanran Meji, que ordenou que fossem trazidas duas galinhas, duas cabaças e todas as frutas encontradas, para que fosse feita uma oferenda, que deveria ser transportada por duas pessoas.

As duas cabaças foram repartidas em dezesseis pedaços e, em cada um desse pedaços, foram colocadas as frutas mais deliciosas. Um homem foi encarregado de oferecer um pedaço a Mawu-Ji (Oeste) e se esconder nas proximidades. Um outro pedaço foi oferecido por outro homem, a Lisa-Ji (Leste), e o ofertante se escondeu ali por perto. Um terceiro e um quarto pedaços foram oferecidos, respectivamente a Vovoliwe e a Xu-Ji (Norte e Sul), restando, portanto, doze pedaços, dos quais, quatro deveriam ser colocados da seguinte maneira: um entre Mawu-Ji e Lisa-Ji, um entre Lisa-Ji e Vovoliwe, um entre Vovoliwe e Xu-Ji e o quarto entre Xu-Ji e Lisa-Ji.

Os oito pedaços restantes foram dispostos, simetricamente, entre cada um dos pedaços já oferecidos, permanecendo um homem escondido, perto de cada um deles.

Quando Ifá concedeu aos macacos a graça desejada, obrigou-os a jurar que jamais revelariam aos homens o ocorrido e também que jamais ficariam de pé diante deles, até que se passassem dezesseis dias, sob pena de nada dar certo.

Os macacos, sempre que encontravam um seu humano, punham-se de quatro, a fim de manter em segredo a dádiva recebida.

No décimo sexto dia, os macacos resolveram a se reunir, para fazerem o ultimo preceito e, antes da cerimônia, encontram os pedaços de cabaça com as frutas que os homens haviam sacrificado, sem saber, no entanto, que cada um estava sendo vigiado por um humano.

Neste momento, o macaco Lwe, chamou o macaco Xã e disse: “Xã, veja o que os nossos Bokono fizeram para nós! Está tudo bem, amanhã teremos o que comer em nossa floresta”, Xã passou a notícia a Kran, que avisou a Tokran, que comunicou a Ziwo, que avisou a todos os macacos: “Falta apenas um dia para que possamos fazer tudo na frente de todo mundo!”.

Empolgado, Kran ficou de pé. Como Lwe o reprovasse, afirmou em altos brados: “Não! Acabou! Nós podemos fazer tudo o que quisermos diante de todo mundo!” e caminhou imponente, apoiado nas pernas traseiras... e todos os macaco o imitaram, marchando e cantando:

“Meu Ashe disse que me levantarei amanhã,

Eu me levantarei amanhã,

Sim, eu me levantarei amanhã...”

Os homens que a tudo assistiam, de repente se mostraram: “Então é assim? Vocês são animais peludos, não são como nós! Se desejam ser semelhantes a nós, preferimos voltar a nossa origem em Mawu!”

E os macacos somente puderam ficar um pouco parecido com os homens, esboços de seres humanos, dos quais só tem semelhanças nos membros e nas nádegas.

Ainda hoje, cheios de inveja, os macacos gritam pela floresta:

“Kran we!

Kran we!

Akran we”!

(Foi Kran que errou! Foi Kran que errou! Foi Okanran que puniu!)!

Este Itan determina que a pessoa tem a sua posição ameaçada por outras pessoas que lhe tem inveja e querem vê-la derrotada. Um ebó deverá ser oferecido, para que o mal que lhe desejam, volte para quem o desejar.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Na antigüidade o Galo era um dos maiores Babalawo e sua fama corria longe.

O Rei de um povoado mandou convida-lo, para lhe fazer uma consulta sobre a grande seca que assolava aquela terra.

Antes de partir, o Galo Consultou o seu Ifá, surgindo Okanran Meji, que exigiu um sacrifício de sete cacetes, sete acarajés, um preá, epo pupa, mel e velas.

Oferecido o ebó, lá se foi o galo.

Quando chegou a porta da cidade, o porteiro lhe advertiu que não poderia entrar assim, sem fazer alguma declaração sobre sua procedência.

Ouvindo estas palavras, o Galo revoltou-se e tirando-se debaixo das asas os cacetinhos que trazia, fez uso deles, dando na cabeça do porteiro, provocando um grande derramamento de sangue.

Indignado, o homem rogou-lhe pragas de uma forma tal, que em poucos minutos os astros se transformaram em tempestade. Roncou muita trovoada, foi um verdadeiro horror.

Debaixo da tempestade seguiu o galo, direto para a casa do Rei do lugar e lá chegando, o soberano lhe disse: “É grande é teu poder! Só a tua presença faz chover abundantemente!”.

Mandou seus servos dar-lhe alimentos e um poleiro no fundo da casa, com grandes admirações e louvores.

Para quem se aplica, este Itan prediz que a pessoa se acha diante de um grande perigo, que deverá enfrentar com muita coragem e disposição, para que saia vitorioso.

Ebó: um ekú, sete cacetes de madeira, sete acarajés, epo pupa, mel, aguardente e sete moedas. Passa-se tudo no corpo do cliente, arruma-se em um alguidar, sacrifica-se o ekú em cima, entrega-se a Exú e despacha-se em uma estrada longa.

(3) Mandaram Exú fazer um ebó, com o objetivo de obter fortuna rapidamente e de forma imprevista.

Depois de oferecer o sacrifício, Exú empreendeu viagem rumo à cidade de Ijelu.

Lá chegando, foi hospedar-se na casa de um morador qualquer da cidade, contrariando os costumes da época, que determinavam que qualquer estrangeiro recém chegado receberia acolhida no palácio real.

Alta madrugada, enquanto todos dormiam, Exú levantou-se sorrateiramente e ateou fogo às palhas que serviam de telhado à construção em que estava abrigado, depois do que, começou a gritar por socorro, produzindo enorme alarido, o que acordou todos os moradores da localidade.

Exú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa.

Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por enumeras pessoas do local.

Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria indenizar a vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro.

Ao tomar conhecimento do grande valor da indenização e ciente de não possuir meios para saldá-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Exú, com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio.

Diante da proposta, Exú aceitou imediatamente, passando a ser deste então o rei de Ijelu.

Para quem se faz esta consulta, pode-se garantir a aquisição de fortuna ou melhora substancial de situação financeira, fim de dificuldades e estabilização.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Havia um homem que não tinha paradeiro, não conseguia fixar-se em nenhum lugar, por mais que para isso se esforçasse.

Sempre que se estabelecia em algum lugar, depois de trabalhar a terra e fazer sua plantação, acabava sendo expulso dali e outra pessoa se beneficiava de seu trabalho, ficando dono de tudo o que por direito deveria ser dele.

Certo dia, desesperado com sua sina, foi consultar Ifá e na consulta surgiu Okanran Meji que lhe determinou fazer um sacrifício de um cão em honra de Ogun, o que deveria ser feito no interior de uma floresta ou mata fechada.

Logo que o sacrifício foi feito, ouviu-se um barulho ensurdecedor, e diante do homem, surgiu Ogun, o dono daquela terra.

Apavorado diante da terrível visão do Orixá, o homem lançou-se ao chão implorando misericórdia e proteção ao Deus da Guerra e da Agricultura.

Ogun, penalizado pela sua situação e pelo respeito demonstrado, concedeu-lhe permissão para estabelecer-se ali mesmo, em terra de sua propriedade.

A partir de então, o lavrador pode trabalhar a terra: plantar e colher, usufruindo assim, o resultado do seu trabalho, sem que ninguém viesse mais apossar-se do que era seu conhecendo então, a fartura e a riqueza.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Okanran Meji tentava de tudo para progredir na vida, más seus esforços de nada adiantarem, se dava um passo à frente, imediatamente dava dois para trás.

Um dia, resolveu fazer um ebó que lhe assegura-se algum tipo de poder e por intermédio do qual, pudesse garantir uma vida de fartura e conforto.

Feito o sacrifício que lhe determinara Ifá, resolveu entregar um bode, único bem que possuía, aos cuidados de Ikú, para que o criasse de meias.

Pouco tempo depois, o animal apareceu morto e Okanran Meji resolveu exigir que Ikú o indenizasse, já que o bode fora entregue a sua responsabilidade.

A Morte concordou com a exigência do Odu e perguntou-lhe o que queria por tua parte do bode morto. Astucioso, Okanran exigiu, não só a metade do valor do animal como também a metade de tudo o que ele poderia gerar durante o tempo em que poderia ainda ter vivido e, ao valor do bode, foi acrescentado o valor de toda a sua possível geração de muitas cabra e cabritos.

Diante do valor da indenização exigida, Ikú assustada, propôs ao Odu que pedisse outra coisa qualquer, que estivesse ao seu alcance, pois não tinha como satisfazer o exigido.

Astutamente, Okanran Meji exigiu o poder de interferir na missão de Ikú sobre a terra, que se resume na obrigação de periodicamente, carregar homens e animais para os seus domínios no outro mundo.

Sem contestar, Ikú delegou a Okanran este poder e deste então, podemos pedir que interfira junto a Morte, para evitar que alguém, por muito mal que esteja, venha a falecer.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Shangô queria ser muito poderoso e respeitado e para isto consultou Ifá. Na consulta surgiu Okanran Meji, que determinou um sacrifício, que iria garantir ao orixás, tudo que desejava.

Feito o ebó, Todas as vezes que Shangô abria a boca para falar, sua voz saia possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam suas palavras.

Diante do poder de seu marido Oya resolveu consultar o Oráculo com a finalidade de se tornar tão poderoso quanto ele. Na consulta surgiu Okanran Meji, que lhe determinou o mesmo ebó.

Quando Shangô descobriu que sua mulher havia adquirido um poder igual ao seu, ficou furioso e começou a maldizer Ifá por haver proporcionado tamanho poder a uma simples mulher.

Humilhada, Oyá recorreu a Olorun para que desse um paradeiro ao impasse. Olorun determinou então que a partir daquele dia, a vós de Shangô soaria como o trovão e que provocaria incêndios onde ele bem entendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que Oya, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (os raios) provocassem o surgimento do som das palavras de Shangô (o trovão), assim como o fogo que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projetam sobre a terra).

E por este motivo até hoje, não se pode ouvir o ribombar do trovão sem que antes, um raio ilumine o céu.

Este Ifá garante bom resultado naquilo que se pretende, por mais difícil que possa parecer principalmente se o Ebora que se apresentar para solucionar o problema for Shangô ou Oya.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Olorun fez o homem a sua imagem e semelhança, dando o nome de Ishele.

Como o Ishele vivia muito só, pediu uma companheira a Olorun.

O Criador determinou então, que seu mais puro e belo Orixá, ajudasse Ishele naquilo que fosse necessário.

O Orixá não aceitou as determinações e revoltou-se, negando-se a obedecer às ordens de Olorun.

Aborrecido diante de tal insubordinação, Olorun ordenou-lhe que descesse a uma grande fossa, com todos os seus pecados, para que ali fosse transformado no Odu Okanran Meji.





ITAN TI ODÙ OKANRAN



Naquele tempo, o céu e a terra estavam tão perto um do outro, como o teto do chão sendo que a terra era habitada por homens muito pequenos, muitíssimo menores do que os de hoje existem.

Céu e Terra eram então muito amigos e costumavam ir juntos a caça de animais, que sempre dividiam irmamente entre si.

Sempre que Céu capturava alguma caça, oferecia uma parte a Terra, que agia da mesma maneira quando abatia qualquer animal.

Certo dia durante a caçada Terra capturou um emon. Na hora de repartir o animal, Terra falou: “Como Sou mais velha, ficarei com a parte da cabeça”. Ao que Céu retrucou: “Sabes muito bem que sou maior e portanto a parte da cabeça deste animal, cabe a mim por direito. Dá-me logo essa parte e não se fala mais nisso!”.

Como não chegasse a nenhum acordo, Céu furioso, resolveu afastar-se de Terra, indo morar muito distante de seu ex-amigo.

Com o distanciamento de Céu, Terra ficou muito árida, por falta de chuva, o que provocou um total desequilíbrio no ciclo de vida. As sementes deixaram de germinar, as fêmeas deixaram de gerar filhos e desta forma, tudo estava condenado a desaparecer.

Diante do problema, os homens e, dirigindo-se a Terra, recomendaram: “Para apaziguar a ira de Céu, deves caçar outro emon e enviá-lo a seu ex-amigo”.

Terra tratou então, de abater outro emon, que foi transportado pelos pássaros, à nova morada de Céu. Foi o pássaro Aklãsu, o encarregado de fazer o transporte, sob a promessa de lhe ser construída uma casa, em pagamento. Quando Aklãsu voltava de sua missão, foi apanhado a meio caminho, por uma forte chuva, que Céu enviara em agradecimento a gentileza recebida.

Ao chegar a Terra, Aklãsu percebeu que a casa que lhe haviam prometido não fora sequer construída, tendo que permanecer ao desabrigo.

Diante disto, disse aborrecido: “Vocês não foram fiéis ao que me prometeram, más não faz mal, minhas grandes asas são mais que suficientes para me protegerem da chuva!”.

É por isto, até hoje, não se vê o Aklãsu se esconder da chuva por mais forte que ela seja. Pousado nos galhos das mais altas árvores, protege a cabeça com as próprias asas e pensa: “Amanhã, logo que esta chuva passar, construirei uma casa para mim!” E logo que a chuva passar, ele diz: “Para que preciso de uma casa? Não existem inúmeras casas para mim, entre todas as árvores?” E voa feliz sob os raios do Sol, agitando suas imensas asas para secá-las.









ITAN TI ODÙ OKANRAN



Quando o Vodum Xevioso veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava. Convencendo-se de que não poderia viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio.

Seu Babalawo chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou Okanran Meji, que exigiu que Xevioso oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.

As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a Xevioso depois do sacrifício, representando o seu poder e a sua força.

As moedas foram dadas ao Babalawo, em pagamento.

Na verdade depois que Xevioso passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas tremem a sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem quer que o tenha provocado.

Foi assim que Xevioso, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os homens.





ITAN TI ODÙ EJIOKO



Naquele tempo, os macacos não sabiam trepar em árvores e por este motivo viviam assustados e inseguros, pois eram presas fácil dos outros animais.

Resolveram consultar um Babalawo e na consulta surgiu Ejioko, que lhes determinou um ebó, composto de dois preás e comidas caseiras de vários tipos.

No mesmo dia, os macacos ofereceram o sacrifício e logo começou a chover copiosamente. O rio que passava perto do local onde se encontravam, avolumou-se e transbordando, inundou toda aquela região.

Apavorados, os animais corriam de um lado para outro, sendo irremediavelmente apanhados e arrastados pelas águas revoltas.

Foi então que os macacos, pela primeira vez, escalaram as árvores para não serem arrastados pelas águas e a partir deste dia, sempre que se sentem em perigo, é nos galhos mais altos dos arvoredos que encontram refúgio e segurança.

Este Itan indica que a pessoa passa por grandes dificuldades, insegurança e intranqüilidade. O ebó indicado trará ótimos resultados, com a proteção dos Ibeji.





ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Há muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta. O primeiro príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver favoravelmente a questão e na consulta surgiu Ejioko, que determinou que fosse oferecido um sacrifício a Exú, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos sacrifícios oferecidos a Exú. Kin, no entanto, afirmou para si mesmo: “Não preciso oferecer nada a Exú para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que meu concorrente e vou derrotá-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente”.

O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá, saindo na sua consulta o mesmo Odu, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.

Feito o ebó, Elegbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma pequena bandeira da mesma cor.

No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo também se fez presente naquele local.

Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida musculatura.

Logo em seguida chegou Koogun, trajando axó funfun e acenando para todos com uma pequena bandeira branca.

Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu adversário com a intenção de terminar logo com a questão.

Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por Koogun.

Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de Abeokuta.

Este Itan indica que existe luta acirrada por bens ou posições e que o consulente deve, além de oferecer o ebó determinado, proceder com muita cautela e diplomacia, evitando qualquer tipo de confronto direto.





ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão.

A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar o Bokono do lugar, em busca de orientação.

Feita a consulta, surgiu Ejioko, que determinou um sacrifício composto de um casal de eyele funfun, fitas de várias cores, ori da costa, igbi meji, etc.

Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de akasa, que o marido ia vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó.

Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.





ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Tela Oko era o nome de um príncipe que, apesar de ser um dos pretendentes ao trono de Arara, era muito pobre, sendo por este motivo, muito humilhado e desprezado pelos demais pretendentes à coroa.

Para poder sobreviver, Tela Oko tinha que trabalhar na roça como qualquer lavrador humilde, apesar de sua descendência nobre.

Certo dia, foi procurar o Oluwo do local, para fazer uma consulta, durante a qual surgiu Ejioko, pedindo, para Exú, um ebó com galinhas, orogbo, um avental e uma enxada usada.

Feito o ebó, passaram-se alguns dias, até que, ao roçar perto do local onde havia oferecido o sacrifício, Tela encontrou um poço muito fundo. Imediatamente convocou os companheiros que trabalhavam nas cercanias, que o ajudaram a descer ao fundo do poço.

Ao chegar ao fundo, qual foi sua alegria ao deparar com uma imensa fortuna. Voltando a superfície e indagado pelos colegas, Tela Oko, muito excitado, afirmou haver encontrado muito “owo ila” (dinheiro-quiabo). motivo pelo qual foi dado como louco por seus companheiros, que imediatamente voltaram aos seus afazeres, deixando-o sozinho.

Tela Oko amarrou a corda em sua cintura e novamente desceu ao fundo do poço, de onde voltou carregado de muitas moedas de prata, tornando-se então imensamente rico.

Este Itan determina que a pessoa que está passando por sérias dificuldades financeiras, deverá oferecer o sacrifício indicado, para que seus problemas sejam resolvidos e seus caminhos de dinheiro abertos.





ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Quem faz um filho deve carregá-lo às costas. Oturu fez dois filhos e carrega os dois.

Como é possível uma só pessoa carregar duas crianças?

Quatro Babalawo consultaram para Abi Maku (Eu fiz um filho imortal), e este era o nome da montanha. Abi Maku ofereceu um sacrifício; a Montanha ofereceu um sacrifício e ela gerou um filho que é imortal.

Montanha imutável, imutável montanha! Foi Oturukpon Meji quem engendrou esta criatura que não morrerá jamais!

Montanha imutável, imutável montanha! A ira é impotente diante de ti!

Imutável montanha! inalterável montanha!

(Aquele que encontrar este signo perderá muitos filhos sob o estigma de Abiku.)



ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Ifá chegou a este mundo antes de seus mensageiros Legba, Miñona e Abi, que estão sob suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele.

Criado por Mawu, Ifá desceu do céu trazendo para a terra todas as arvores, todas as plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.

Naquela época, existia sobre a terra somente um protótipo de ser humano, muito pequeno, negro e muito parecido com o homem.

Ao chegar ao Aye, Ifá transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que, deu o nome de “Koto”.

Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia recebido de Ifá: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do próprio Ifá.

Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou-os aos homens, esquecendo-se, no entanto, de transmitir o nome de uma única arvore, a qual os homens chamaram de “Kotoble” e depois de Wugo.

Assim, foi apenas a uma única arvore, dentre as coisas que existem no mundo, que os homens deram nome.





ITAN TI ODÙ EJI-OKO



Num tempo em que Ifá era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.

Na consulta, surgiu Oturukpon Meji, que mandou que pegasse um cabrito, uma cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras: “Veja minha mãe, eu nunca recebi desta vida qualquer alegria. O rei deste pais não gosta de mim. Oturukpon Meji me disse que oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida”!

Ifá, no entanto respondeu: Isto é impossível. Minha mãe não está aqui. Ela partiu há algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela ausente, poderei oferecer-lhe o ebó?

Legba intervindo disse: “Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns bolos”.

Ifá pagou o exigido a Legba que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse: “Seu filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao pais de Metolõfi para fazer a cerimônia”.

Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo: “Que fazer? Sou tão velha, mal posso andar...”

“Dá-me qualquer coisa que te transportarei”, disse Legba.

A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Legba falou: “Se me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho”.

“Mas este bode não é meu... ”Respondeu a velha. “...ele pertence a Vida. Ele me foi confiado e está sob minha responsabilidade”.

“Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajudá-la”.

“Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará diferença!”

Legba, pegando o bode, matou-o. O sangue que escorria do corpo do animal era fogo que se espalhando, cobriu o corpo de Legba. Aterrorizado como tão estranho acontecimento, Legba foi consultar Ifá e na consulta surgiu Oturukpon Meji, ordenando que os intestinos do bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.

Naquele tempo, Legba não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na panela para cozinhá-la. Durante dias e dias, Legba insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça por mais que gastasse lenha, nada conseguia.

Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifá e, para isto, transportou a cabeça e a carne do animal até o reino de Metolõfi.

Para conduzir a enorme panela, Legba derramou a água nela contida, preparou uma rodilha que depositou sobre os ombros para servir de base a panela que estava completamente enegrecida pela fumaça. A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Legba descobriu que agora, como todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:

Eu operei uma magia em meu caminho,

Assim adquiri uma cabeça!

Eu saí sem cabeça para uma viagem,

retorno agora para casa com cabeça!

Desta forma, chegou diante de Ifá, que também era desprovido de cabeça.

Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifá exclamou revoltado: “Como? Já paguei a Legba por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!...”

Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.

Entregando as frutas ao rei a mulher disse: “Eu venho de muito longe em reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho para oferecer!”

Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifá, ali se fixou, transformando-se em cabeça.

Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.

Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe respondeu, afirmando chamar-se “Nã”. Metolõfi então disse: “Nã Taxonumeto” (aquela que coloca uma cabeça nas pessoas).

Depois deste fato, para que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem, durante a gestação, pedir a proteção de Nã Taxonumeto todos os dias.

É sob este signo que as crianças vem ao mundo “de cabeça”.

Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não era outro senão o próprio Sol.

Foi através do fogo misterioso do bode, que Legba adquiriu controle sobre as chamas e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo.

Foi desta forma que Legba e Ifá, conseguiram cabeças, graças a Oturukpon Meji que rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.

Aquele que encontrar este signo, deve oferecer um sacrifício para não ser perseguido pela má sorte. Sua mãe terá um papel muito importante em sua vida, cujo sucesso depende, quase que exclusivamente, dela.





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



O antílope Agbãli, lançava seu brado em Ifé e as pessoas morriam.

O mocho Agbigbi, lança seu brado nesta vida e as pessoas morrem.

Ifá foi consultado por Oshossi e recomendou-lhe que fizesse um sacrifício porque, mesmo fazendo o bem aos outros, nunca conseguia tirar disso o menor proveito, ficando sem ter sequer o que comer.

O sacrifício constava de vasos quebrados, flechas, duas galinhas e um cabrito, mais Oshossi, negou-se a oferecer o ebó.

Como a cada grito do antílope Agbãli as pessoas morressem, o rei Metolonfin, não sabia o que fazer para caçá-lo. Sabendo disto, Oshossi se apresentou ao rei, dizendo que, se lhe construíssem uma casa em forma de circulo e o colocassem dentro e lhe desse uma flecha e se todo o povo do pais se reunisse ao redor, lançaria a flecha que iria atingir a marca branca, existente no pelo do antílope e que ficava justamente na direção de seu coração. Tudo foi feito de acordo com a orientação do caçador e no dia que o animal surgiu, uma flecha foi atirada, indo atingir a marca branca que ficava na altura de seu coração.

Oshossi gritava feliz: “Eu o matei!” - E o povo, olhando na direção Agbãli, via que era verdade.

Quando o mocho Agbigbi se aproximou, Oshossi disse: “É na garganta que devo atingi-lo” e lançando sua flecha, atravessou com ela o pescoço do animal.

Todos reunidos foram ver o que estava acontecendo e assustados comentaram: “Aquele que prendemos na choupana onde não existem partas nem janelas consegue abater qualquer tipo de caça! Quando não mais existirem animais para serem caçados no pais, sem dúvida caçará o próprio rei!”.

Mais havia muita caça na região e Oshossi construiu sua casa no interior da floresta, reforçando as paredes com os cacos de muitos vasos quebrados.

O caçador recusara-se a oferecer o sacrifício determinado pelo Odu e por isto, todo o bem que fizesse aos homens não lhe resultaria em nenhum proveito. Mesmo assim, Elegbara fez dele o caçador do pais. Depois disto, os muros de seu templo devem ser incrustados de cacos de vaso de barro Para que o bem praticado pelo consulente obtenha o merecido reconhecimento, deve ser oferecido um sacrifício com o seguinte elemento:

- Vários cacos de vasos quebrados, um galo, um cabrito, dezesseis flechas, um pequeno arco, uma aljava (seteira).





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA 



Quem procura o combate? E a vez de Ogun lutar contra Meji!

Metolonfin tinha uma linda filha chamada Meji. O rei, por muito que tentasse, não conseguia arrumar marido para a jovem.

Meji era muito belicosa e guerreira valente, todos os que se apresentavam com a intenção de desposá-la, eram desafiados para um combate singular, e acabaram derrotados pela poderosa princesa.

Desesperado com a situação e temendo que a filha jamais viesse a encontrar um marido, Metolonfin convidou os reis de Aja, de Ke, de Hun e de Ayo, para candidatarem-se ao casamento.

Atendendo ao convite, os quatros reis vieram acompanhados de toda sua corte. Mas Meji não abriu mão de suas exigências, só se casaria com o homem que conseguisse derrota-la em combate.

O primeiro a amargar a humilhação de derrota, foi Aja Xosu e em seguida, de nobres componentes de sua comitiva: depois foi a vez de Ke Xosu e seus amigos foram derrotados pela bela princesa.

Ogun, que a tudo assistia, foi perguntar a Ifá sob que Odu poderia encontrar proteção para derrotar a nobre guerreira, conquistando assim, o direito de desposá-la.

Na consulta surgiu Ogunda Meji, que ordenou: “Traga um galo, akasa, azeite de dendê, uma cabaça, um pombo, uma corda e vários pedaços de pano”.

Quando Ogun lhe entregou o material, Ifá enfiou na corda, algumas contas, com ela amarrou os pedaços de pano e as pernas do pombo, pegou o galo e enfiou debaixo de suas asa, varias folhas de kpelegun e entregando tudo a Ogun, disse: “Quando partires, deixe o galo em casa e amarre a corda em volta de tua cintura”.

No mesmo dia, Ogun desafiou a bela Meji para o combate, durante o qual, a corda que trazia a cintura, rompeu-se e caindo ao chão, embaraçou as pernas da princesa que desequilibrada, caiu derrotada aos pés de Ogun.

No mesmo instante, o galo começou a cantar:

Gbo gbo gbo,

Guda Mejiiii!

(Ogun desposou Meji!).





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



Havia um homem que, por sua enorme sabedoria, era muito procurado por seus vizinhos e demais moradores da cidade.

Certo dia, o sábio adoeceu e sua morte era aguardada a qualquer momento.

Usando de seus conhecimentos, o ancião resolveu enganar a morte e para isto, preparou um ebó com o igbi, dois pombos, um preá, mel e efun, colocando tudo num buraco que cavou no chão.

Quando a morte aproximou-se sob a forma de um grande pássaro, o homem correu ate o local onde havia depositado o ebó e pegando o igbi, colocou-o sobre sua cabeça, que antes havia untado com bastante mel.

O pássaro Ikú, pensando tratar-se do ori do sábio, cravou as garras afiadas no igbi, carregando-o para o mundo dos mortos.

Desta forma, o velho, com seu saber, conseguiu ludibriar a morte.





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



Enure era o nome do homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não conseguia progredir na vida, por ser perseguido permanentemente por dois inimigos muito poderosos, chamados Perseguição e Inveja.

Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o Oluwo, surgindo Eta Ogunda, que determinou um sacrifício para Exú.

Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de Exú, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente, por Progresso e Riqueza.





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



Ogunda Meji foi procurado por Nã, Vodun mãe de Ifá, que não conseguia parir, uma vez que não possuía nádegas.

Naquele tempo, Ifá tinha seu conhecimento restrito aos acontecimentos do local onde se encontrava. Consultando seu próprio jogo, na esperança de obter uma maior capacidade de predição, encontrou Ogunda Meji, que lhe pediu um peixe como sacrifício.

Sabedor de que Nã possuía em sua casa um poço para criação de peixes (Togodo). Ifá pediu-lhe que lhe trouxesse um, para que pudesse fazer o ebó.

Os dias se passaram e como Nã não trouxesse o ejá, Ifá, que possuía uma cabaça, pegou-a e dirigiu-se a casa de Nã.

Lá chegando, dirigiu-se ao poço e com sua cabaça, começou a retirar água de seu interior, para deixar os peixes a seco, o que facilitaria sua tarefa.

Vendo o que estava acontecendo, Nã protestou, afirmando que o Babalawo que havia consultado, também havia lhe pedido um peixe como sacrifício, mas ela não possuía cabaça, o que impedia que capturasse um peixe em seu próprio poço.

Combinaram, que quando toda a água tivesse sido retirada, os peixes encontrados seriam repartidos entre os dois, acontecendo no entanto, que quando a água acabou, somente um único peixe foi encontrado no fundo do poço.

Nã reclamou o peixe para si sob a alegação de que o poço se encontrava em seu quintal e que tudo o que estivesse dentro dele lhe pertencia.

Por sua vez, Ifá considerava-se dono do peixe, já que fora ele quem com a cabaça de sua propriedade, o havia capturado, o que certamente não poderia ter sido feito por Nã.

A discussão prolongava-se sem que ninguém cedesse seu direito sobre o peixe.

Naquele tempo, o Vodun Gu, que já havia consultado o Oráculo e feito o seu sacrifício, recebeu um gubasa. do qual jamais se separava. Como passasse pelo local em suas andanças em busca de caça, foi chamado a intervir como arbitro da questão.

Gu ordenou então, que Ifá segurasse o peixe pela cabeça e que Nã o segurasse pelo rabo, puxando com firmeza, cada qual para seu lado, ao mesmo tempo em que mantinham os olhos bem fechados.

Com um rápido golpe de seu afiado gubasa, Gu dividiu o ejá em duas partes e depois, ordenou que Nã ficasse com a cauda do peixe e fizesse com ela o sacrifício, para que pudesse obter nádegas, que permitiriam que viesse a parir filhos como todas as mulheres. Ifá ficou com a parte da cabeça, que ofereceu em sacrifício ao seu próprio Ori, para fortificá-lo em melhor capacita-lo para suas funções.

Foi assim que Nã, colocando a cauda do Peixe abaixo de sua cintura, logrou vê-la transformada em nádegas, enquanto Ifá oferecendo a cabeça do peixe ao seu ori, teve sua capacidade de previsão aumentada infinitamente.

Depois disto, costuma-se dizer:

“Gu da ejá-meji”

(Ogun partiu o peixe em dois).





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



Um certo príncipe, tendo ficado na mais absoluta miséria e não agüentando as privações às quais estava sendo submetido, resolveu dar fim a própria vida.

Munido de uma corda, internou-se na floresta em busca de uma árvore onde pudesse enforcar-se.

Já no interior da floresta, encontrou um pobre leproso coberto de chagas, sem roupas nem comida, que apesar de tanta infelicidade, lutava para sobreviver, procurando naquele lugar, folhas e raízes, que pudesse matar sua fome e amenizar suas dores. No desespero de seu sofrimento, o leproso tentava colocar a água de um igbi sobre sua própria cabeça, com a intenção de refrescá-la e alivia-la do terrível calor que a tudo castigava. Chocado com o que viu, o príncipe retornou a sua aldeia e lá chagando, ofereceu um ebó que lhe determinou o Oluwo.

Poucos dias depois de haver oferecido o sacrifício, chegou a noticia de que o rei do pais havia falecido e ele, como parente mais próximo, fora indicado para substituí-lo no trono.

Em sinal de agradecimento, o novo rei mandou buscar o pobre leproso que vivia internado na floresta, oferecendo-lhe conforto e tratamento para sua doença.

Este Itan indica que o cliente apesar das dificuldades por que vem passando, oferecido o ebó, sairá vitorioso ao final.





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



A vida não será ruim para aquele que encontrar dois ovos negros de pássaro adowe.

Adowe, conhecido entre os yoruba como leke-leke, é um pássaro de plumagem inteiramente branca e seus ovos, como ele próprio, são completamente brancos. As penas do adowe são utilizadas nas cerimônias de Oblatá, cuja cor é também o branco.

Este pássaro, é uma espécie de garça que se alimenta das parasitas existentes na pele dos búfalos que vivem nos pântanos.

Agbogbo nla fo laga le gã.

(quando o agbogbo voa, ouve-se ao longe o ruído de suas asas).

Os dois adivinhos que consultaram Ifá para Tela, filho do rei, deram a ele este nome.

Quatro adivinhos que consultaram Ifá para Tolo, adivinho da floresta de Were.

E Tolo comeu, Tolo bebeu, ela caminhou levantando os dois pés ao mesmo tempo (com facilidade, com leveza): ele demorou vinte anos antes de retornar a sua floresta.

Um filho do rei de Ayo, chamado Tela, encontrava-se certa ocasião, muito endividado. Querendo se casar, pegou emprestado, dinheiro para o dote, comprometendo-se a efetuar o pagamento com seu trabalho no campo.

Seu credor, que era um homem muito ganancioso, explorava terrivelmente o pobre rapaz, exigindo dele, cada dia mais e mais trabalho no campo.

Desesperado, Tela foi consultar os pássaros Leke-leke e agbogbo que, entre os pássaros, eram conhecidos como excelentes Babalawo.

“Como fazer? “- perguntou ele - “Para livrar-se desta dívida e voltar novamente a ser livre?”.

Os pássaros prescreveram sacrifícios e disseram que depois de oferecidos os ebó, a pessoa que o escravizava seria duramente castigada e para ele, adviria uma grande riqueza e muita felicidade, só não podendo revelar a ninguém o que seria feito.

Tela teria que comprar dois cabritos para serem oferecidos a Ifá. O que não foi possível, devido a extrema miséria em que se encontrava.

Voltando ao campo de seu amo, enquanto trabalhava a terra, Tela encontrou um buraco onde havia esquecida um grande quantidade de dinheiro.

Feliz com o achado, o jovem pagou a divida e passou a viver como um nababo, organizando banquetes onde, em companhia de seus amigos, consumia muita comida, bebida, dinheiro e conversa.

Numa destas reuniões, já tendo bebido e comido demais, Tela contou a seus amigos tudo o que se passara entre ele e os pássaros adivinhos, quebrando a promessa de manter segredo sobre o que acontecera.

Os amigos e as farras levaram Tela novamente a ruína. Se tivesse oferecido os cabritos, o segredo não teria sido revelado e nada de mal poderia lhe acontecer.

Ao saber do acontecido, Agbogbo disse a Tela: “Olhe só, todo mundo sabe do nosso segredo, da mesma forma que todo mundo sabe quando levanto vou. Os teus azares surgiram de tua indiscrição, nada temos com isso!”.





ITAN TI ODÙ ETA-OGUNDA



Ogun Badagli, era o chefe das tropas de Oduduwa. Um dia, Oduduwa ordenou que seu general, a frente de seus exércitos, invadisse e dominasse a cidade de Igbo, para ali estabelecer o seu domínio.

Quando Ogun Badagli invadiu a cidade, conheceu ali uma belíssima jovem, filha do rei de Igbo, por quem se apaixonou e tomou como mulher.

Era costume, que todos os despojos de guerra, deveriam ser entregues ao rei vencedor e Ogun Badagli entregou a Oduduwa, tudo o que havia trazido da cidade saqueada, com exceção da mulher pela qual havia se apaixonado.

Informado de que seu general havia ocultado uma prisioneira, Oduduwa exigiu que esta lhe fosse entregue. Maravilhado pela beleza da jovem, o rei conduziu-a a seus aposentos, onde a possuiu. Dez luas depois, a mulher deu a luz a um menino, que tinha o lado esquerdo negro e o lado direito inteiramente branco, filho que era de dois pais. Ogun Badagli, de pele negra e Oduduwa, de pele branca como a neve.

Ao recém nascido foi dado o nome de Oraniyan.

Este itan não é determinante de nenhum tipo de ebó, servindo apenas, como muitos outros, como narração sobre a origem de um Orixá.





ITAN TI ODÙ IROSUN



Fogo e Chuva disputavam o amor de uma mulher, mas os esforços tanto de um como de outro, não adiantavam nada. A discórdia passou a reinar entre os dois, a mulher os separaria para sempre.

A questão tornou-se publica, uma vez que a disputa entre eles era feita abertamente. O escândalo foi tamanho, que Metolonfi, convocou a sua presença todos os envolvidos, inclusive a mulher.

Diante do rei, cada um expôs suas razões e foram intimados a cessarem a disputa por um período de nove dias, findo os quais, certamente já se teria encontrado uma solução definitiva para o problema.

Depois da audiência, cada um procurou se destino.

Fogo foi consultar seu adivinho, Ina Pupa (Fogo Vermelho) e durante a consulta surgiu Irosun Meji, determinando que Fogo fizesse um sacrifício composto de duas cabras, dois panos negros, dois panos brancos, vinte moedas e mais nove moedas. Fogo no entanto, não levando em consideração a orientação, não ofereceu o ebó.

Chuva também tratou de procurar o seu adivinho, Ojo Dudu Nimije (Eu sou a Chuva Negra) e durante a consulta, apareceu também Irosun Meji, que exigiu que fosse oferecido o mesmo sacrifício. Ao contrário de seu adversário, Chuva cumpriu sua obrigação, segundo a orientação do Oluwo.

Fogo morava a uma distância do palácio real, como a que separa Porto Novo de Sakete (38 km) e Chuva morava a uma distância, como a que separa Porto Novo de Shotonu (32 km).

Quando chegou o nono dia, o rei convocou os três interessados para uma nova reunião no palácio.

Fogo já se pusera a caminho, antes da convocação do rei, queimando tudo o que encontrava em seu caminho, provocando toda a luminosidade que era capaz.

Chuva, depois da consulta, envolveu-se num tecido negro que obscurecia a própria natureza e ninguém caminhava ao seu redor.

Apesar de Fogo haver saído primeiro, Chuva, talvez por residir um pouco mais próximo, chegou primeiro ao palácio real. Quando Fogo, com enorme alarido, se aproximou do palácio, Chuva precipitou-se sobre ele, apagando-o antes mesmo que pudesse se apresentar a Metolofin.

Foi desta forma que Chuva, provando ter mais força que Fogo, conquistou o coração da mulher, que cantava diante do combate:

O Fogo Vermelho brilha de fúria!

Chuva é tomada da mesma cólera!

Grande é a minha glória!

Meu coração preferiu o frescor (de Chuva).





ITAN TI ODÙ IROSUN



Kpo, o Leopardo, era, por sua força e astúcia, o animal mais temido e odiado da floresta.

Um dia, todos os bichos reuniram-se para arquitetar uma maneira de se livrar definitivamente do tão indesejável vizinho.

Informado do que estava ocorrendo, Kpo consultou o Bokonõ, surgindo Irosun Meji na consulta, que lhe determinou ser oferecido um sacrifício composto de dois galos, um etu, epo pupá, mel, oti e bastante algodão.

No dia do ebó, depois de oferecer o sacrifício, o Bokonõ envolveu cuidadosamente, as patas do Kpo com o algodão, libertando-o em seguida.

Ao aproximar-se da praça onde todos os bichos estavam reunidos, o leopardo caiu num grande buraco, que haviam preparado como armadilha para ele e no fundo do qual haviam colocado muitos espinhos, com a intenção de provocar-lhe sérios ferimentos nas patas, o que o deixaria indefeso diante de seus inimigos.

O algodão colocado ao redor de suas patas, serviu de defesa contra os espinhos e Kpo incólume, saltou do interior do buraco, colocando em fuga aqueles que pretendiam fazer-lhe mal.

Este Itan faz referência a uma grande falsidade que estão tramando contra o cliente que, feito o sacrifício indicado, sairá vitorioso depois de desmascarar seus inimigos.





ITAN TI ODÙ IROSUN



Certo homem, encontrando-se doente e na mais absoluta miséria, resolveu consultar Ifá, em busca de solução para seus males, Irosun Meji apareceu na consulta, determinando que fosse oferecido um sacrifício e que depois disto, o homem deveria partir para Savalu, onde deveria, aos pés de um araba, protestar publicamente contra a situação de miséria em que se encontrava.

Oferecido o ebó o homem dirigiu-se a Savalu e ali, na praça principal, pôs-se a esbravejar, com um obi em cada mão, atribuindo ao rei do lugar, toda a sua miséria.

Ao tomar conhecimento do escândalo que estava sendo promovido, o rei ordenou que o infeliz fosse conduzido a sua presença, com o objetivo de fazer alguma coisa pelo homem e desta forma, calar a sua boca.

Chegando ao palácio, o doente disse que não tinha descanso nem saúde e que tudo o que desejava era uma vida normal e confortável.

Penalizado, o rei mandou que lhe fosse dispensado tratamento e meios de subsistir com dignidade, até o final de seus dias, recebendo do pobre enfermo, como sinal de agradecimento, os dois boi que trouxera consigo.





ITAN TI ODÙ IROSUN



Ifá havia esquecido suas roupas em Ifé e não conseguia encontra-las, porque não havia luz. Sentindo-se por demais inquieto, consultou seu Kpoli, surgindo Irosun Meji.

O Fogo, para vir ao mundo, utilizou-se do mesmo signo, mas foi impedido pela Chuva. O Bokono que consultava para o Fogo, chamava-se Bedezo (O Grande Fogo).

O Odu ordenou que fosse oferecido por Ifá, dezessete insetos diversos, um cabrito e um carneiro. Fogo recusou-se, sob a alegação de que um simples pedaço de pano o protegeria melhor de Chuva, que um cabrito e um carneiro.

Zõfloñeñe, o Vaga-lume, consultando por causa da Chuva que apagava o seu fogo, encontrou o mesmo signo. Toda vez que a Chuva apagava o seu fogo, Zofloñeñe ficava sem ter o que comer, pois era seu fogo que clareava sua caça.

O adivinho prescreveu o mesmo sacrifício: um carneiro e um cabrito. Como o Vaga-lume não dispunha de meios para fazer o ebó, suplicou a Ifá: “Eu nada tenho, não sei ao menos onde poderei encontrar estas coisas...”.

Naquela noite Zofloñeñe se encontrava na beira do rio, quando surgiu Legba que vinha pegar água. Como estivesse muito escuro, Legba murmurou: “Onde poderei encontrar um pouco de luz para poder colocar minha cabaça na água?”. E direcionando-se aos insetos: Vocês têm luz?”. Ouvindo aquilo, Zofloñeñe gritou. “Eu tenho luz!”. Legba respondeu: “Empresta-me tua luz para que eu encontre água e te darei os componentes para o teu sacrifício!”.

Zofloñeñe imediatamente forneceu luz a Legba e, depois de recolhida a água, acompanhou-o até sua casa, onde ficou com ele.

Na manhã seguinte, Legba entregou-lhe um carneiro e um cabrito, para que pudesse oferecer em sacrifício.

Enquanto isso, Ifá reunia os dezessete insetos exigidos para o seu sacrifício e dentre eles estava o Vaga-lume, que de sua parte, já havia feito o ebó.

Depois disto, Ifá ordenou a Zofloñeñe, que se dirigisse a Ifé e utilizando sua luminosidade, trouxesse a quinta folha que encontrasse. Não poderia ser a primeira, nem a segunda, nem a terceira ou a quarta folha, mas somente a quinta folha encontrada. “Tu colherás a quinta folha que encontrares e a trarás para mim!” A quinta folha encontrada pelo Vaga-lume era um ewe Kpaklesi (Ologun sheshe), que recolheu e levou para Ifá.

No caminho de volta, a Chuva caiu com muita intensidade, mas desta vez não conseguiu apagar o fogo do Vaga-lume. Ifá, muito grato, não hesitou em recompensar regiamente o inseto, pelo valioso serviço prestado.

Naquela época, o rei Metolõfin possuía uma filha muito bela, que rejeitava tantos quantos se apresentassem como candidatos a desposá-la.

Fogo e Zofloñeñe, conduzidos por Ifá, apresentaram-se como candidatos a mão da princesa e disseram ao rei: “Nós viemos nos apresentar para que sua filha escolha um de nós como esposo. “A princesa encantada com o brilho e as cores de Fogo, não hesitou em escolhê-lo recusando assim, as pretensões do Vaga-lume.

Diante disto, Metolofin ordenou que os candidatos voltassem dali a nove dias, para que se realizasse o casamento e todos os súditos foram convidados para comparecerem e presentearem os nubentes.

Ao saber da novidade, Elegbara perguntou: “Agbo afa kan Meji te ko si?” “(Qual dos dois candidatos não ofereceu o sacrifício?)”. E lhes responderam que o Grande Fogo não havia feito o ebó. “Como pretende então, desposar a filha do rei Metolofin? Jamais permitirei que isto aconteça!”. E enviou uma mensagem ao orun: “A mulher que Xevioso pretende tomar como esposa aqui na Terra, está prestes a casar-se com Fogo”.

Ao receber a mensagem, Xevioso encolerizado, rasgou os céus com seus raios, clareando a Terra, para que pudesse ver quem era o atrevido chamado Fogo, que pretendia desposar sua amada. Foi somente a partir deste dia que os raios puderam ser vistos aqui da Terra.

Em seguida, o Vodun preparou-se para descer à Terra. Todo o céu tornou-se negro. Fogo, cheio de pavor perguntava: “Como posso ir ao encontro de minha noiva, se não para de chover?”. E procurou seu Bokono, para saber o que fazer. Na consulta, Ifá cobrou o sacrifício que havia sido determinado e que Fogo negligenciara. “Se é por isso!”. Disse Fogo, “...vou fazê-lo imediatamente”. Primeiro vou pegar minha noiva e farei o sacrifício logo em seguida.”

No dia das núpcias, Ifá foi o primeiro a chegar ao palácio, em seguida, chegou Xevioso acompanhado de Legbara.

Fogo, chegando ao local, colocou-se de lado e tocando seu tambor cantava: “Ajuba Gegezõ...”. E tudo brilhava a sua passagem e as folhas, mesmo as menores, dançavam ao som de seu tantã.

Xevioso, desejando estragar a festa trovejou: “Búuu!”, e a Chuva caiu com tanta intensidade, que Fogo se extinguiu. Xevioso, penetrando no palácio, queixou-se por ter Fogo como rival.

Zofloñeñe, aproveitando-se da confusão, penetrou também no palácio, fazendo com que sua luz iluminasse o ambiente, enquanto cantava:

“Afete naun! Able ñaun!

Afete naun! Able ñaun!”

(Meu fogo é branco mas pode ficar vermelho subitamente)!

Metolofin defendendo-se: “Foi minha filha quem quis desposar Fogo. Para evitar qualquer demanda, fica decidido que nenhum de vocês a terá como esposa. A partir de agora, sempre que qualquer um se habilite a tirar uma jovem da casa de seus pais para com ela se casar, se neste momento a Chuva começar a cair, o casamento não deverá ser realizado.”

Xevioso, muito aborrecido com a decisão do rei, sentenciou: “Foi por causa de Fogo que eu perdi esta bela mulher! Sendo assim, eu o controlarei sempre e serei seu chefe e senhor!”

É por isto, que sempre que chove num dia de casamento, a cerimônia dever ser adiada para outra data.

Zõ si, ñañe Zõ mon non si, Loso Jime!

(Todo fogo se apaga, mas o do Vaga-lume jamais se apagará, Irosun Meji”).





ITAN TI ODÙ IROSUN



Certo dia, Sol, Lua, Fogo e Kese o Papagaio-de-Cauda-Vermelha, resolveram disputar entre si, o poder sobre a Terra.

Kese, tratou logo de consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver a disputa a seu favor. Durante a consulta, o Odu Irosun Meji apareceu, prescrevendo um sacrifico composto de Igbi, etu e ekodide.

Oferecido o ebó, uma chuva torrencial abateu-se sobre a Terra, apagando o Fogo. Por muitos dias e noites, as nuvens cobriram os céus, impedindo que o Sol durante o dia e a Lua durante a noite, pudessem ser vistos pelos habitantes da Terra. Aproveitando-se da ausência de seus adversários, Kese, que apesar de muito molhado não perdeu o vermelho de sua cauda, estabeleceu definitivamente seu reino sobre a Terra, saindo vitorioso da disputa.





ITAN TI ODÙ IROSUN



Macaco encontrava-se em sérias dificuldades, resolvendo por isto, consultar seu Oluwo. Na consulta, o adivinho encontrou Irosun Meji, que prescreveu um sacrifício de edie funfun, adie dudu, etú, Igbi, epo pupa, obé e um braseiro cheio de brasas vivas, onde deverão ser depositadas, depois do sacrifício dos animais, bogbo ata pupa.

Quando o Macaco estava colocando as pimentas no braseiro, desprendeu-se uma fumaça que penetrando em seus olhos, provocou-se grande irritação, seguida de um forte lacrimejamento.

O herdeiro do trono, que neste exato momento passava pelo local, ao ver o Macaco banhado de lagrimas, penalizado quis saber o motivo de tanto choro.

Astucioso, o Macaco descreveu sua desdita, exagerando bastante em suas necessidades.

O nobre príncipe, condoído com a triste história, ordenou que os guardas conduzissem o Macaco até o palácio, onde passou a residir, cercado de muito conforto e fartura.





ITAN TI ODÙ IROSUN



Certa mulher, que possuía um pequeno negócio em que fornecia mingau de akasa e de inhame, estava passando por sérias dificuldades e por isto, foi orientada, por seu adivinho a oferecer um ebó com galos, pombos, akasa e inhame assado.

Feito o ebó, encontrava-se a mulher em seu pequeno negócio quando chegou o Balogun do pais, acompanhado de toda a sua tropa de guerreiros. Os homens, que regressavam de uma campanha, estavam famintos e embora não possuíssem dinheiro, foram servidos pela mulher, que confiando na palavra do General, serviu-lhes toda a comida de que dispunha, tendo mesmo que pegar emprestado com seus vizinhos, para poder atender a todos os soldados.

Sete dias depois, o General retornou ao mercado e dividiu com a mulher o produto do saque obtido em sua campanha, o que representava uma fortuna capaz de assegurar a bondosa comerciante, uma vida de muito conforto.

Quando procurou seus vizinhos para pagar-lhes o que devia, estes se negaram a receber, alegando que não lhes devia nada, uma pessoa que vivia sob a proteção de um guerreiro tão poderoso como Balogun.





ITAN TI ODÙ OSHE



Owo, filho de Oblatá, querendo provar o seu poder, resolveu aprisionar Ikú, que era por todos temido e respeitado.

Resolvido a cumprir sua determinação, deitou-se no chão de uma encruzilhada e ficou observando o que diziam as pessoas que o viam ali.

Foi desta forma que ouviu de um ancião do lugar, a seguinte pergunta: “O que faz este homem assim estendido, com a cabeça para a casa da morte, os pés para o lado da doença e os lados do corpo para o lugar da desavença?”.

Ouvindo estas palavras, Owo levantou-se e afirmou vitorioso: “Já sei tudo o que precisava saber”. E em seguida encaminhou-se para a fazenda de Ikú.

Lá chegando, entrou sorrateiramente e pôs-se a tocar o ilu que a Morte fazia soar sempre que saia para buscar alguém.

Ao ouvir o som do tambor, Ikú saiu indignado com a intenção de punir o atrevido que ousava tocar seu instrumento ritualístico e na pressa, não viu a rede que Owo havia estendido no caminho, embaraçando-se e sendo facilmente capturado.

Com a ajuda de uma corda, Owo amarrou Ikú bem amarrado e levou-o em seguida a presença de seu Pai, dizendo-lhe que, conforme havia prometido, estava trazendo a sua presença Ikú como prisioneiro. Assustado com tal atitude, Oblatá sentenciou: “Vá embora de minha presença e leva contigo tudo o que, de bom e de mal possa existir na face da Terra, inclusive a própria Morte. Parte agora pois te é dado o poder de conquistar tudo o que de material existir no universo”.

Foi a partir deste dia que Owo e Ikú passaram a caminhar lado a lado, o primeiro ensejando sempre o surgimento do segundo.





ITAN TI ODÙ OSHE



Shangô e Efon entraram em atrito pelo amor de uma mulher muito bela, filha de Apako.

Por determinação da mulher, os pretendentes deveriam combater entre si e no fim de dezesseis dias, ela resolveria qual dos dois seria considerado vencedor, conquistando assim o direito de desposá-la. Efon armou-se de um poderoso par de chifres e dirigindo-se ao campo de luta, atacou furiosamente a Shangô que surpreso, bateu em retirada, indo refugiar-se, com a ajuda de uma corda, em sua morada no Orun.

Naquele tempo, Shangô era ainda muito jovem e inexperiente, mas aconselhado por Elegbara, consultou Orunmilá para saber de que forma poderia vencer a disputa pela mulher amada. Na consulta surgiu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício com dezesseis pedrinhas, dezesseis kobo (*), um par de chifres de búfalo, dois galos e dois pombos, além de tudo o que se oferece normalmente a Exú.

Enquanto isso, os adversários de Shangô espalhava na Terra, o boato de que ele era um grande covarde, que havia fugido de Efon sem opor a menor resistência.

Shangô, com a ajuda de alguns amigos tratou logo de oferecer o sacrifício e imediatamente depois começou a trovejar.

No meio da tempestade, surgiu Shangô e a cada brado que emitia, numeroso raios saiam de sua boca numa demonstração de seu poder incontestável.

Diante de tão assustadora visão, Efon depôs suas armas e curvando-se, submeteu-se ao poder do Orixá, suplicando piedade.

Shangô perdoou-o e fez com que todos reconhecessem, a partir de então que o seu poder estava no Orun.

E o vencedor levou consigo a bela mulher, objetivo de toda a disputa.

(*) moeda Nigeriana que corresponde a uma décima parte da Naira. No Brasil, o Kobo pode ser substituído nos ebó, pelo vintém.





ITAN TI ODÙ OSHE



Sentar sem se encostar, é como permanecer de pé. Este era o nome do adivinho que interpretou Ifá, junto ao poste central de uma casa de conferências em Ibadan.

O mesmo adivinho interpretava Ifá também para os habitantes de Olowu.

Os reis de Ibadan e de Olowu mantinham entre si, um relacionamento de sincera amizade. O rei de Oluwu era casado com Nde, filha do rei de Ibadan.

Certo dia, o rei de Olowo partiu em missão de guerra para o pais do Gboho. No caminho, teve sua passagem e de suas tropas impedidas por um rio muito caudaloso. Pediu ao rio que lhe desse passagem, prometendo para isso, oferecer-lhe um belo presente quando voltasse vitorioso da batalha.

O rio cedeu passagem e o rei prosseguiu viagem em busca de seu destino.

Algum tempo depois o rei retornou vitorioso, trazendo muitos cativos, muito gado e toda a riqueza capturada no pais de Gboho. Ao chegar diante do rio, resolveu pagar o prometido oferecendo-lhe dezesseis carneiros, dezesseis cabritos, dezesseis bois, dezesseis homens e dezesseis mulheres, que foram lançados às águas revoltas. O rio, para surpresa de todos, não aceitou nada do sacrifício oferecido, devolvendo intactos, cada carneiro, cada cabrito, cada boi, cada homem e cada mulher. O rei, assustado com o ocorrido, procurou o adivinho para saber por que razão Odo não aceitara sua oferenda. Na consulta surgiu Oshe Meji que informou que o rio queria Nde como sacrifício e nada poderia substituí-la.

Apavorado, o pobre monarca lembrou-se que ao assumir compromisso com o rio, havia dito em idioma Fon: “Nu dagbe n’de”, (eu te darei belas coisas), e o rio teria interpretado como “Nu dagbe Nde” (eu te darei Nde - nome de sua esposa). Nde era o nome de sua esposa... o rei não pagara o prometido!

A partir deste dia a terra começou a secar, as mulheres não tinham filhos, as fêmeas não davam crias.

Preocupado, o rei voltou a presença do Bokono para saber o motivo de tanta miséria. Após a consulta o adivinho disse: “Tu não entregastes ao rio o que lhe prometeste. Tu deixastes que o rio ouvisse o nome de Nde. Tu não lhe falastes de escravos e animais... para acabar com esta maldição terás que lançar tua mulher ao rio”.

Obrigado a cumprir sua promessa, o rei mandou lançar ao rio sua mulher que estava grávida. No dia seguinte Nde deu a luz, dentro das águas do rio, a um menino e o rio falou: “Ele não me prometeu nenhuma criança, foi só Nde o que me foi prometido!” e devolveu a criança que não lhe pertencia.

O rei de Ibadan tomou conhecimento do acontecido e mandou dizer ao rei de Olowu que não havia dado sua filha para que fosse lançada as águas de um rio, mas para que fosse transformada em sua esposa, respeitada e amada como tal.

Este fato gerou uma guerra entre os dois reis, que teve a duração de trinta anos, terminando com a vitória de Ibadan e a total destruição do pais de Olowu.





ITAN TI ODÙ OSHE



Uma jovem muito pobre, conhecida pelo nome de Iyalode, era muito astuta e ambiciosa, o que a tornava perigosa.

Pretendendo melhorar sua situação, Iyalode foi consultar Ifá, na esperança de receber as orientações necessárias. No decorrer da consulta, surgiu o Odu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício que Iyalode tratou logo de oferecer.

No dia seguinte, quando passava pela porta do palácio do rei Oba Nla, a jovem foi acometida de uma fúria inexplicável e pôs-se, em altos brandos, a culpar o rei pela situação de miséria em que vivia.

“O rei é um perverso insensível.” gritava a jovem, “tem o que deseja e por isso não se incomoda com a miséria de seus súditos!”. As pessoas que passavam, ao ouvirem as acusações feitas pela jovem, tomaram partidos diferentes, alguns achando que ela estava coberta de razão, enquanto outros defendiam Oba Nla, por conhecerem sua bondade e senso de justiça.

Ao ser informado do que estava ocorrendo, o rei ordenou que a moça fosse imediatamente conduzida a sua presença, para um entendimento pessoal.

Frente a frente com o rei, Iyalode relatou suas desditas, chorou suas magoas e falou de seus sonhos de jovem. Impressionado com a coragem da moça e com a sinceridade que marcava o seu caráter, Oba Nla, mandou que lhe fosse dado um aposento no palácio, onde a partir de então, a jovem passou a residir cercada de todo o luxo e conforto que sempre desejou desfrutar, ficando desde então, encarregada de todo o ouro que pertence a Oba Nla.





ITAN TI ODÙ OBARA



Ifá e o Male (Muçulmano) eram amigos. Um dia Male disse a Ifá: “Vou procurar uma mulher grávida, se ela concordar, será instalada em minha casa, para que não tenha contato com mais ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza.

Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos.

Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male. O Muçulmano ficou muito contente e logo se pôs a pensar: “Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposá-la!” Depois de muito pensar, decidiu construir um casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.

Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.

Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha. Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina.

Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.

Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: “Como é que pode? O muçulmano contratou uma mulher grávida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino! Nem mesmo Metolõfi, o rei de nosso pais, viu a criança. Mas eu vou tentar vê-la!”

Munindo-se de seus instrumentos divinatórios, fez a consulta, surgindo Obara Meji, que lhe recomendou que tomasse uma caixa, akasa, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Legba. Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a chave.

Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o: “Salamaleikun!” E o muçulmano respondeu: “Alakumasala!” Ifá disse então: “kalafi!” Male respondeu: “Laafia!” Ifá, entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la. “Como não?”disse o Marabú. “Não somos amigos? Quando partirás?”- “Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses”.

No terceiro dia pela manhã, Legba disfarçado na esposa preferida de Ifá, foi a casa de Male e disse: “meu marido encarregou-me de procurá-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos. Ele virá buscá-la dentro de três meses, quando regressará da viagem.

Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carregá-la. Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao fazê-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.

Ifá, que se mantinha escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.

“Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça.

Ifá então se colocou a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido.

Ifá só se alimentava de obi. Na hora da refeição, vendo-o comer somente nozes de kola, a moça perguntou por que não se alimentava das mesmas coisas que ela? e Ifá respondeu: “Eu como feijão sem pimenta, carne defumada, peixe defumado, tudo temperado com lelekun. A jovem ordenou então as servas que não mais pusessem pimenta na comida. Os alimentos passaram desde então a ser preparados com lelekun, Ifá revelou então, que não come cabrito da forma simples que todo mundo prepara e que também não se lava como as outras pessoas.

Finalmente, a jovem ficou grávida e Male de nada desconfiou. Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça: “se o muçulmano lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome.

Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera.

Legba, novamente disfarçado na mulher de Ifá, apresentou-se ao Male dizendo: “meu marido chegou de viagem e pediu viesse buscar sua caixa, Assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.

Depois de seis meses, o muçulmano resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifá, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga... Quase sufocado exigiu explicações. “Eu pensava que todas as barrigas deveriam crescer como a minha... não sei como são as coisas do lado de fora desta porta!”

Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez.

O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe.

O Marabu não conseguia entender o que se passava. A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer. Foi então que resolveu pedir os conselhos de seu amigo Ifá.

Ifá consulta e surge novamente Obara Meji, exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada. O pernil é cortado em sete partes que depois de cozidos, são entregues, uma a Mawu, uma a Metolõfi, uma a Mingã e é Ifá o encarregado de fazer estas oferendas. O quarto pedaço, é oferecido a esposa preferida do Male, o quinto, a esposa preferida de Ifá, o sexto ao Bokono e o último a parturiente, levado pelas mãos de Ifá.

Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta carne? - “É Ifá quem te oferece!”- Ifá? Que Ifá?” - “O que disse?” Perguntou Ifá. - “Ifá!” - “O que?” - “Ifá! Eu falei Ifá! Foi Ifá que me deu esta carne!”

Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifá.

Male ficou desconfiado com tudo o que acabara de assistir e aborrecido, levou o problema ao conhecimento do rei Metolõfi que, achando tudo muito natural, aconselhou o muçulmano a deixar de desconfiar do amigo.

Um belo dia, Ifá convocou todas as pessoas, inclusive Male e disse a todo o mundo: “Hoje lhes farei uma revelação. A mulher do muçulmano, que recentemente deu a luz uma criancinha... “e revelou todo o segredo que envolvia aquele nascimento. Depois concluiu “Qualquer mulher, mesmo se a prenderem dentro de quarenta caixas, encontrará um dia, um homem. E um ser no qual não se deve confiar e ao qual não se dever revelar segredos. As mulheres são pouco mais que os animais!”





ITAN TI ODÙ OBARA



Naquele tempo, as aves foram consultar Ifá, para saberem de que forma poderiam se livrar das armadilhas que lhes faziam os homens e nas quais, invariavelmente acabavam caindo. Na consulta, surgiu Obara Meji, determinando que fosse feito um sacrifício que iria livrá-las de tal perigo.

As aves, com exceção da pomba - rola, negligenciaram a recomendação e por este motivo, continuaram a cair nas armadilhas que os homens lhes preparavam.

Certo dia, os caçadores organizaram uma grande festa e para obterem alimento para o evento, prepararam uma grande armadilha, próximo a fonte onde as aves costumavam beber água, impregnando de visgo todos os galhos das arvores vizinhas. Como resultado, todas as aves foram capturadas, com exceção da pomba - rola que fora anteriormente orientada por Elegia, para que não se aproximasse da fonte naquele dia e que fosse beber água em outro local bem distante.

Desta forma, por ter seguido a orientação de Ifá e oferecido o sacrifício indicado, a pomba - rola livrou-se de ser transformada em alimento para os caçadores.





ITAN TI ODÙ OBARA



O guarda-chuvas e a Bandeira, surgiram no mundo simultaneamente. Os dois ao chegarem, foram consultar Ifá, para saberem se seriam honrados em suas vidas. Na consulta, surgiu Obara Meji e Ifá ordenou um sacrifício, que somente Bandeira se dignou a fazer.

Para justificar sua negligência, guarda-chuvas dizia: “Por que razão tenho que oferecer sacrifício, se sei muito bem que minha posição neste mundo será a de permanecer contentemente, acima das cabeças dos homens, até dos mais poderosos reis?”

Um dia, estourou uma guerra e os dois foram levados, junto com seus donos, para o campo de batalha. guarda-chuvas, aberto sobre a cabeça do rei, enquanto Bandeira, seguia na frente, conduzida por um simples escravo.

Por arte de Elegbara, a batalha foi desfavorável ao nosso rei, que para salvar a própria vida, teve que refugiar-se numa floresta de arvores baixas e repletas de ramificações. No decorrer da fuga, dentro da floresta, bastava baixar a Bandeira, para que ela passasse incólume entre os galhos, enquanto que guarda-chuvas, atingido por ramos incontáveis, terminou todo rasgado, tornando-se completamente inútil. Quando chegaram do outro lado da floresta, o rei vendo o estado deplorável em que se encontrava guarda-chuvas, jogou-o fora, pois não mais servia para protegê-lo da chuva ou do Sol.

Depois disto, guarda-chuvas passou a ser um instrumento utilizado somente quando há conveniência para tal, ao passo que Bandeira é usada permanentemente, podendo ser encontrada no meio das praças, nas torres dos palácios, nos templos de todas as religiões e sempre que um rei parte para uma guerra, ela segue a sua frente. Todas as nações do mundo são por ela simbolizadas e os homens prestam-lhe juramento de fidelidade e muita honrarias.

Este Itan determina que o consulente, por sua vaidade e auto valorização excessiva, encontra-se em perigo eminente de sofrer uma grande derrota.





ITAN TI ODÙ OBARA



Foi para roubar nos campos de Ifá, que os muçulmanos vieram à Terra.

Ifá possuía campos imenso, de onde retirava abundantes colheitas.

Certo dia, descobriu que muitos ladrões andavam “visitando” suas terras e praticando grandes roubos, que causavam enormes prejuízos. Procurou imediatamente os conselhos de Elegbara, sobre uma maneira de prender os larápios.

Dirigindo-se aos campos na companhia de Ifá, Legba esticou uma corda que do solo, alcançava o céu.

Pouco depois, inúmeros seres começaram a descer pela corda e sem que Legba tomasse qualquer atitude, puseram-se a roubar tudo o que podiam alcançar.

Foi só então que Legba, munido de três pedaços de carvão, que havia recebido de Ifá em pagamento aos seus serviços, produziu uma fogueira, ateando fogo á corda que havia estendido.

Destruída a corda, os ladrões não puderam voltar, tornando-se assim, escravos de Ifá. O desespero entre os prisioneiros foi de tal ordem, que se debatiam desordenadamente, em busca de uma saída e com tal violência, que a maioria deles morreu, sobrando somente treze.

Foram estes treze homens, que propagaram a religião muçulmana e que em sua emoção gritavam: “Salama Ke kun!”, o que em idioma Fon, significa: Ifá rompeu a corda. originando-se daí a saudação islâmica “Salamaleikun”.

Este caminho, indica que o consulente está sendo vítima de roubo e traição, devendo para livrar-se da situação e desmascarar quem quer que o esteja enganando, oferecer o seguinte sacrifício a Exú.





ITAN TI ODÙ OBARA



Certo dia, Olofin convocou a sua presença, todos os Odu que havia colocado no mundo.

Obara consultou Ifá, recebendo a orientação de não partir, sem antes oferecer um sacrifico a Egun.

Obara faz o que lhe foi determinado e além disso, preparou comida para seus irmãos, os quinze outros Odu, que já haviam partido para a audiência com o Criador.

Olofin, dando pela falta de Obara, indagou aos seus irmãos o que era feito dele e ao saber que se atrasara porque estivera cultuando Egun, ficou plenamente satisfeito.

“Nada tenho para oferecer-lhes como presente , senão um inhame para cada um. Quando chegarem a suas casas, preparem cada um, o inhame recebido e comam sozinhos”. Disse Olofin aos Odu.

Sem que ninguém soubesse, Olofin havia introduzido em cada inhame todas as riquezas da vida: dinheiro, filhos, terras, casas, etc...

Quando voltaram para casa, os quinze encontraram Obara que os aguardava, para oferecer-lhes as comidas que havia preparado para eles.

Satisfeitos com a atenção, os Odu tomaram dos alimentos que lhes eram oferecidos e em sinal de agradecimento, deram a Obara os inhames que lhes havia presenteado Olofin.

No dia seguinte, Ifá pediu a sua mulher que lhe preparasse um dos inhames recebidos. Ao cortar o tubérculo, a mulher sentiu que alguma coisa dura impedia que a faca dividisse-o e depois de muito tentar, pediu auxílio a seu marido.

Ifá, usando de toda a sua força, consegui dividir o inhame em duas partes, foi então que deparou maravilhado, com a riqueza contida no seu interior.

Ansioso, passou a abrir a todos os inhames que havia ganhado e desta forma, com tudo o que neles encontrou, tornou-se a pessoa mais rica do país.

Três dias depois por ordem de Olofin, todos os Odu voltaram a se reunir no palácio e qual não foi a surpresa, ao verem Obara aproximando-se, montado num belíssimo cavalo, vestindo trajes riquíssimos, acompanhado de inúmeras esposas e escravos e guardado por muitos soldados, numa ostentação de riqueza sem precedentes.

Diante da surpresa dos quinze Odu, Olofin perguntou-lhes: “Que fizeram dos inhames que lhes dei?”

“Nós os demos a Obara, já que nenhum de nós gosta de inhame!”

“Ignorantes! Obara, que já era rei, tornou-se muito mais rico e poderoso com o que eu coloquei dentro dos inhames! Ele será agora, “oba di Meji”” (ele é duas vezes rei). Sua realeza é dupla.





Cânticos do Itan: Obara gba i dudu!

G’uu ......!

Obara gba i funfun!

G’uu......!



Tradução: Obara possui o que é negro! (a noite).

G’uu......!

Obara possui o que é branco! (o dia).

G’uu......!





ITAN TI ODÙ ODI



“A criança que está agora no ventre, fala a sua mãe”.

Certo dia, quando Ifá encontrava-se ainda no ventre de sua mãe, estando ela ocupada em recolher lenha no interior de uma floresta, foi surpreendida por uma voz que dizia: “Mãe! Eu vou dizer uma coisa. Trata-se de um segredo que jamais deverá ser revelado!” - Espantada, a mulher começou a procurar no meio da floresta, pela pessoa que lhe falava, sem encontrar ninguém. Novamente a voz se fez ouvir: “O que estás procurando? Sou eu, teu filho quem está falando! Quero prevenir-te que no décimo sexto dia, a partir de hoje, me darás a luz! neste mesmo dia haverá uma guerra em nossa vila e meu pai será morto pelo inimigo... Tu, minha mãe, será capturada e separada de mim...”.

No dia seguinte, ao raiar do sol, o menino novamente fez contato com sua mãe, dizendo-lhe: “Compreendeu bem o que te disse ontem? Faltam somente quinze dias para o acontecimento!...”. E todos os dias de manhã ele falava com a mãe e no décimo sexto dia depois do primeiro contato, disse: “Eis que é chegado o dia!” E imediatamente iniciou-se o parto. No exato momento em que a criança vinha ao mundo, iniciou-se um ataque contra a cidade. Durante a batalha, o pai do menino foi morto e a mulher foi capturada e levada como escrava. Ifá, escondido em lugar seguro, viu quando um homem se aproximava e dirigindo-se a ele, implorou: “Leva-me contigo! Estou só no mundo. meu pai está morto e minha mãe reduzida a condição de escrava! Leva-me contigo e não te arrependerás por fazeres esta caridade!”

Comovido, o homem pegou o recém-nascido e levou-o consigo em total segurança, para sua própria casa. Ifá imediatamente começou a realizar curas miraculosas. Sempre que alguém adoecia, o menino após identificar o tipo de doenças, receitava ervas que traziam a cura imediata. Todos os doentes recuperados faziam questão de pagar muito bem pela cura e desta forma, o homem que recolheu a criança tornou-se muito rico e poderoso. Naquele tempo, o pais era governado por um rei chamado Lõfin, que logo que soube dos milagres, chamou a sua presença o responsável pela criança, que ali chegando, narrou de que forma encontrara o pequenino, o pedido de ajuda e seus maravilhosos poderes sobrenaturais. O rei, entre espantado e descrente, afirmou: “Se isto é verdade, se este menino for realmente dotado de tantos poderes, ocupará ao meu lado, um lugar no reino deste pais!”

Logo o menino foi transferido para o palácio e sempre que um familiar do rei adoecia, era por ele curado. Nada mais se fazia no reino sem uma prévia consulta a Ifá e suas orientações eram seguidas no mínimos detalhes. Com o passar do tempo, o menino cresceu e logo que se tornou adolescente, recebeu de Lõfin uma cidade onde foi coroado rei. Seu milagres se multiplicavam, todos aqueles que sofriam vinham atrás dele em busca de auxílio. sua fortuna aumentava a cada dia, possuía muitas mulheres e muitos servos, além de todas as coisas que representam riqueza para os seres humanos. Ifá na esperança de um dia encontrar sua mãe, adquiria escravas na mão de um mercador. Era chegado o dia em que se deveria comemorar a festa chamada Fanuwiwa que todos os anos se faz em honra a Ifá. As mulheres de Ifá, junto com suas escravas, ficaram encarregadas de pilar milho para produzir a farinha que seria usada na festa. Entre as escravas estava a mãe de Ifá, que devido a situação miserável em que se encontrava, tinha medo de identificar-se e não ser aceita pelo filho. Enquanto realizava sua tarefa, a mulher entoava uma triste canção, na qual dizia: “Ifá Di-Meji, Tu não me conheces mais?” Ao ouvir a canção, Ifá ordenou que a mulher fosse levada a sua presença, interpelando-a da seguinte forma: “Então tu me conheces?” E a mulher respondeu: “Mas não fostes tu mesmo quem me anunciastes o dia do teu nascimento? Tu me dissestes que no décimo sexto dia viria ao mundo e que no mesmo dia teu pai seria morto e eu feita escrava”. “És tu minha mãe!” Gritou Ifá e ordenou que a banhassem e oferecessem muitos e belíssimos vestidos, além de um torso branco para adornar a cabeça. Em seguida, Ifá fez com que a mulher se assentasse ao seu lado, sobre uma grande almofada branca denominada akpakpo e pegando uma cabra, ordenou que a imolasse em honra de sua mãe, que passou desde então, a viver ao seu lado, cercada de todas as honrarias e reverências reservadas a mãe de um rei.

É por isto que sempre que se oferece um sacrifico a Odi Meji, dever-se lembrar desta história e se pega um akpakpo que serve de assento para Nã, um pano de cabeça (kpokun abuta), uma cabra, farinha de milho misturada com azeite de dendê (amiwo) e oferece-se a Nã Naxixe a mãe de Ifá.





ITAN TI ODÙ ODI



Odi Meji disse: “Metolõfi, por avareza, não quis sacrificar um boi, de malhas brancas e a morte veio buscá-lo.”

Quando Ifá estava ainda no ventre de sua mãe, pediu que seu pai pegasse um boi malhado de branco e oferecesse em sacrifício, a fim de evitar que dentro de três anos, uma guerra viesse dizimar o seu reino. Seu pai negligenciou o sacrifício e no dia do nascimento de Ifá, seu pai morreu e sua mãe foi capturada como escrava.

Três anos depois, a guerra arrasou o pais e Ifá mandou que Ajinoto, a parteira, o encerrasse dentro de uma cabaça, de forma que ninguém o pudesse ver. A parteira foi encarregada também, de avisá-lo logo que alguém passasse por perto, para que ele revelasse ao passante, a causa de seus sofrimentos e os remédios e sacrifícios que resolveriam todos os seus problemas.

Tudo ocorreu da forma como Ifá planejara e o homem que passou naquele local, não hesitou em levar para sua casa, a cabaça onde Ifá havia sido encerrado.

Para deslumbramento de todos, Ifá, de dentro da cabaça, dava conselhos, receitava medicamentos e resolvia os mais difíceis problemas.

Um dia, Ifá ordenou que alguém se dirigisse ao mercado onde, pelo preço de quarenta e um cawris, deveria comprar sua mãe que estava sendo vendida junto com outras escravas. “A primeira mulher que for oferecida deve ser comprada, pois esta é minha mãe”.

Naquela época, Ifá costumava aceitar sacrifícios humanos no festival de Fanuwiwa.

Quando a escrava adquirida no mercado foi trazida, Ifá ordenou que lhe fosse entregue certa quantidade de milho, para que pilasse e transformasse em farinha destinada a preparação do amiwo.

Enquanto pilava o milho, a mulher ouvia os consultantes invocando Ifá, “Orunmilá! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!” (Orunmilá! Akefoye! Se teu nome é Ifá, jamais esquecerás de mim!). Reconhecendo em Ifá o seu próprio filho, a pobre mulher pôs-se a cantar em voz alta a saudação que ouvia: “Orunmilá! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!”

As pessoas contaram a Ifá sobre a mulher que cantava aquela saudação enquanto pilava o milho e Ifá ordenou que ela largasse aquele trabalho e que, no dia seguinte pela manhã, chamasse por ele, junto com seus fiéis, para que pudesse mostrar a todos de que forma deveria ser corretamente alimentado. Ordenou ainda, que fosse preparado um akpakpo e dois panos brancos de cabeça denominados kpokun abuta, proibindo a todos de olharem para aqueles objetos.

Como Ifá vivera até então, fechado dentro de sua cabaça, jamais havia sido visto por ninguém. Quando todos se afastaram, Ifá saiu de sua cabaça coberto por um grande chapéu, vestindo um avental de pérolas e calçando sandálias, indo sentar-se no alto de um tripé de onde gritou: “Olhem bem, sou eu Ifá! que ninguém viu jamais... A mulher que mandei comprar no mercado de escravos, deve ser trazida até aqui!”

A mulher foi trazida a sua presença e Ifá mostrou-a a todo mundo, dizendo: “Olhem bem, esta é minha mãe! Quando eu estava no seu ventre, determinei que meu pai deveria sacrificar um boi malhado de branco, para evitar malefícios que já estava previstos, más meu pai não atendeu minha orientação e todo mal acabou por se concretizar.

Tanto tempo se passou e eu comprei esta escrava para ser sacrificada em minha honra. Entretanto não sacrificarei, não poderia trair minha própria mãe, mesmo que ela me tenha traído.”

Dito isto, ordenou que cortassem os longos cabelos de sua mãe, que envolvessem sua cabeça com um belo torso branco e que a instalassem sobre a almofada akpakpo. Depois pediu um boi e um cabrito para serem sacrificados. Com a farinha moída por sua mãe, mandou preparar um amiwo para ela, que não poderia ser comido em sua presença.

Desta forma, assentada sobre um akpakpo, transformou-se ela em Nã, mãe de um rei.

Aos jovens que prepararam as carnes do boi e do cabrito, assim como o amiwo, ordenou que fosse dado uma parte de cada coisa, para que comessem depois da cerimônia.

Depois das cerimônias de Nã, aqueles que prepararam os alimentos a ela oferecidos, recebem uma pequena parte destes alimentos, parte esta que recebe o nome de kle ou kele e que só pode ser consumido depois que o Vodun for servido. (Este rito acompanha as cerimônias às Divindades Nagô sob o nome Atowo e as divindades Fon sob o nome de Nudide).

A mãe de Ifá disse então a seu filho que se sentia muito envergonhada pois não merecia tantas honrarias e que naquela dia iria encontrar-se em Lõ (local para onde vão os espíritos dos mortos), com seu finado esposo.

“A partir de hoje, quando fizerem uma cerimônia em minha honra, digam: “Nã Kuagba! (Nã seja bem vinda!) e virei receber as oferendas.” Disse a mulher.

Nã disse ainda, que faria o Sol tornar-se mais brando ou mais quente, comandando-o de cima de seu akpakpo.

A partir de então, realiza-se sempre o ritual de Xe Nã (dar comida a Nã), quando terminam os festivais Fanuwiwa.





ITAN TI ODÙ ODI



Odi Meji diz: “Não se pode ocultar um cadáver de uma mosca!” O rei Metolõfi não gosta da mosca porque não conseguia ocultar nada dela. Um dia, resolveu coloca-la a prova, sob pena de morrer se acaso falhasse no teste.

Certo dia, a Mosca teve um sonho, através do qual foi avisada para manter-se em guarda, pois a menor distração poderia representar sua morte. Pela manhã, logo ao despertar, Mosca foi consultar Ifá, que lhe mandou oferecer um sacrifício de quatro galinhas, quatro pombos e farinha. A Mosca ofereceu os bichos, más preferiu entregar a farinha a sua mãe, para ser por ela vendida.

Enquanto isto, Metolõfi mandou preparar duas grandes esteiras em forma de sacos. Numa das esteiras, pintada de fuligem negra, colocou um Xla (hiena), na outra, pintada de branco e vermelho, enfiou um Kpo (leopardo), sendo que os dois animais estavam vivos. Dois carregadores foram encarregados pelo rei de levarem as esteiras, com seus perigosos conteúdos, até a casa de Mosca, para que esta adivinhasse o que havia dentro, sobe pena de, em caso de erro, ser punida com a morte.

Chegando a cidade, os carregadores encontraram uma mulher que vendia mingau de farinha e arriando seus pesados fardos, comeram do mingau ali vendido, sem saber que a mulher era a mãe de Mosca.

Tendo acabado de comer, o primeiro carregador dirigiu-se à sua carga e perguntou em voz alta: “Xla! Queres comer um pouco de mingau de farinha?” e como a hiena aceitasse, entregou-lhe uma porção do alimento.

O segundo carregador, seguindo o exemplo de seu companheiro, dirigiu-se a sua carga e perguntou: “Kpo! Kpo! Queres mingau de farinha?” e o leopardo aceitou.

Descobrindo a armadilha, a mãe da mosca tratou de arquitetar um plano para deter os carregadores, enquanto ia avisar à sua filha e dirigindo-se a eles, falou: “Tomem conta de minhas coisas enquanto vou a casa buscar água fresca para beberem.”

Chegando em casa, avisou a mosca que na esteira pintada de preto, havia uma hiena e que na outra de branco e vermelho, havia um leopardo, retornando em seguida com a água para os homens.

Depois de saciarem a sede, os homens perguntaram à mulher onde ficava a casa de Mosca. “Estão vendo aquela casa ali a frente? é de lá que vejo sair todas as manhãs. Vão até lá e a encontrarão.”

Chegando a casa da Mosca, os carregadores bateram e foram atendidos pela própria.

“Somos mensageiros do rei Metolõfi que nos mandou procura-la.”

“Procurar por mim? E com estas feras sobre as cabeças? Tu carregas um Xla, um Xla vivo! Trate de deixá-lo bem longe de mim! E tu... tu trazes um kpo vivo e não o quero aqui em minha casa! Tratem de levar esta feras para o local de onde as trouxeram!”

Os carregadores, sem ao menos arriarem os seus fardos, voltaram a presença do rei a quem disseram: “Esta mosca é terrível, nem chagamos a depositar nossas cargas no chão e ela já havia identificado o conteúdo!”

Desolado o rei respondeu: “É, ela é mesmo terrível. Não pude eliminá-la desta vez e ela continuará a viver e a descobrir tudo, ainda que esteja muito bem oculto.”





ITAN TI ODÙ ODI



Havia naquele tempo, uma tribo de selvagens que costumava atacar as aldeias circunvizinhas, onde faziam prisioneiros para serem transformados em escravos.

Foi assim que Olatunde foi transformado em escravo e penava sob mau tratos e a mais absoluta miséria.

Certo dia, o pobre escravo retornava de sua labuta diária, quando encontrou caído no chão um pedaço de obi. Cheio de fome, pegou o achado e tratou imediatamente de comê-lo, no que foi pilhado por seu cruel senhor, que sem hesitar, acusou-o de haver roubado o obi de seu celeiro.

Levado a julgamento, o infeliz foi condenado a morte, embora protestasse por sua inocência.

Era costume daquele povo, encerrarem os condenados a morte em uma grande caixa de madeira, que depois de devidamente lacrada, era atirada do alto de um penhasco às águas revoltas do rio que por ali passava, cabendo ao condenado a chance de realizar sua última vontade.

Indagado sobre o que gostaria de fazer antes de ser executado, o prisioneiro expressou o desejo de oferecer um sacrifico em louvor de seus ancestrais, para que quando chegasse em Ló (*), pudesse ser recebido de maneira satisfatória.

Concedida a permissão, recebeu de seus algozes o material necessário para o sacrifício. Dentro de um jacá (cesto com tampa), sacrificou uma cabra, duas galinhas, um preá e dois galos, que foram depositados dentro do cesto. Por cima dos animais sacrificados, colocou dois peixes assados, aguardente, epô e todas as coisas que agradam a Egun. O jacá foi então fechado e muito bem amarrado com cordas sem uso anterior, sendo em seguida atirado às águas do rio. Logo que terminou seu ritual, o homem foi amarrado e encerrado na caixa, que depois de bem fechada, foi atirada do alto do abismo, nas águas do rio.

Ao chocar-se com a superfície das águas, a caixa não se quebrou e flutuando, foi arrastada até uma localidade muito distante, onde foi resgatada por pescadores que ficaram estarrecidos com seu achado. Verificando que o condenado ainda estava vivo, conduziram-no até a cidade para apresentá-lo as autoridades locais.

Ora, os pescadores estavam longe da cidade há muitos dias e desconheciam o fato de que, depois de sua partida, o rei havia falecido e seus funerais estavam sendo realizados. Segundo as leis do país, quando morria um rei sem deixar filho varão, o primeiro estrangeiro que surgisse na cidade, seria coroado rei e desta forma, Olatunde, que por força do sacrifício que oferecera a seus ancestrais, fora salvo da morte, tornou-se rei daquele pais, livrando-se para sempre da miséria e do sofrimento.

(*) Lugar para onde vão os espíritos dos mortos.





ITAN TI ODÙ ODI



Odi Meji foi o signo que as mulheres encontraram, no tempo em que não tinham nádegas e desejavam ter.

Para resolver o problema, as mulheres foram consultar Azwi a lebre, que adivinhava por intermédio das folhas Kwelekun (Cajanus Indicus).

A própria Azwi, quando chegou a este mundo, consultou Ifá, que lhe determinou um sacrifício com uma galinha, um sosiovi (pedra de raio, também conhecida como edun ara entre os Yoruba), um bastão de caça e um ofa.

No entanto, mesmo tendo negligenciado seu próprio sacrifício, a lebre metia-se a dar consulta com as folhas, como se para isso tivesse permissão.

Na consulta das mulheres, Azwi pediu em sacrifício, duas galinhas e duas grandes porções de farinha e quando as mulheres trouxeram os ingredientes, ele fez o ebó.

Legba no entanto, recusou o sacrifício dizendo: “Quem mandou fazer este ebó?” E Azwi respondeu: “Foram as mulheres que consultaram para adquirirem nádega:. E Legba exasperado: Agbo afa kan me ji te ka sin? Esin do Azwiji! (Quem é que está consultando sem ter feito seu sacrifício? É a lebre!) Como Azwiji, tu não fizestes teu próprio sacrifício e te permites prescrever coisas aos outros? isto não ficará assim!”

Legba convocou todos os caçadores do país e fazendo-os entrar entre as folhagens de kwelekun, falou: “Os grãos de Angola que vocês tanto apreciam, estão sendo guardados por um animal, para seu próprio consumo.” Os caçadores, com suas armas de caça, saíram em perseguição a lebre, gritando: “Matem! Matem!”

Morta a lebre, sua carne foi comida e só então descobriram o quanto é deliciosa.

Foi então que Legba sentenciou: “Aquele que pretende oferecer uma cadeira a outrem, deve cuidar antes, que ele mesmo tenha uma. A lebre que nada tinha e quis dar alguma coisa aos outros, está morta!”

Aquele para quem surgir este signo, oferecerá em sacrifício, dois bastões de caça (dãkpo), um ofa em miniatura e uma pedra de raio, para que não tenha o mesmo destino da lebre.





ITAN TI ODÙ ODI



Oderere era o nome do adivinho que consultou Ifá para Orinrere e sua mulher, que viviam da venda de folhas de palma que recolhiam na floresta, mas que tendo perdido o seu facão, não tinham como realizar o seu trabalho.

Na consulta, surgiu Odi Meji, que determinou um ebó que deveria ser entregue próximo ao local onde o facão havia desaparecido.

Feito o ebó, o casal embrenhou-se mata adentro, na esperança de encontrar a ferramenta, quando depararam com as ruínas de um palácio muito antigo e abandonado.

Penetrando no que em tempos passados fora o salão principal do palácio, encontraram meio encoberto pela vegetação, um grande pote de barro, no interior do qual alguém havia guardado muitos objetos de valor. Recolhidos os objetos e vendidos, pode o casal apurar uma substancial importância em dinheiro, o que lhes garantiu uma sobrevivência confortável para o resto da vida.





ITAN TI ODÙ ODI



Naquele tempo, Odi era considerado como um grande Babalawo, muito respeitado por sua competência de prever o futuro. Sabedores de sua fama, dois sujeitos foram procurá-lo, em diferentes oportunidades, para saberem como deveriam proceder para que tudo lhes corresse bem nesta vida.

Ao primeiro consulente, Odi determinou um sacrifício com um carneiro e ao segundo que era cego, um sacrifico com um galo.

Odi, no entanto, não havia cumprido com o seu próprio preceito, que era o de fazer um certo ebó sempre que consultasse qualquer pessoa.

O homem a quem fora determinado o sacrifico do carneiro, padecia de uma moléstia nas pernas, que lhe trazia sofrimento. Na hora do ebó, o homem segurou o carneiro e pediu com muita devoção que o Egun de seu pai aceitasse o sacrifício e aliviasse seus males. Repentinamente o carneiro atacou-o com violenta cabeçada, que atingiu em cheio seus testículos. Uma dor insuportável fez com que o pobre homem rolasse no chão desesperado, enquanto uma grande quantidade de liquido maligno, que durante muitos anos havia se acumulado em seus órgãos ocasionando todo o sofrimento, era expelido completamente.

Desta forma, assim que passou a dor, o homem pode observar que estava completamente curado.

No dia seguinte, chegou o cego com o galo para ser oferecido ao Egun de seu próprio pai. Na hora do sacrifício, o galo debateu-se furiosamente e suas unhas, atingindo as vistas do homem, retiraram delas, não sem muita dor, uma pele que impedia sua visão. Depois de estancada a hemorragia, o homem descobriu que já podia enxergar com perfeição.

Dias depois, os dois homens resolveram regressar a casa de Odi para agradecerem pelas graças recebidas e coincidentemente encontraram-se no caminho.

Ao chegarem ao seu destino, encontraram Odi acorrentado a uma cadeira e souberam que aquilo era um castigo que deveria ser cumprido, porque Odi havia negligenciado seu próprio sacrifício.

Em agradecimento pelas curas em que haviam sido submetidos, os dois homens propuseram-se a comprar os ingredientes para que Odi pudesse oferecer o seu ebó e assim fizeram eles mesmos o sacrifico em favor de Odi.

No mesmo dia, a filha do rei daquele pais, foi acometida de um desmaio que a deixou fora de si por muito tempo. Conhecedor dos poderes curativos de Odi, o rei ordenou que ele fosse solto imediatamente e levado a sua presença, implorando-lhe que curasse sua filha.

Sem perda de tempo, Odi providenciou uma medicina que curou a menina imediatamente e o rei, como prova de gratidão, fez com que Odi desposasse sua filha.

A partir de então, Odi passou a residir no palácio real, com honras de príncipe e nunca mais conheceu dificuldades.





ITAN TI ODÙ EJI-ONILE



Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais velho.

Certo dia, Ashé - criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda. Numa segunda cabaça, Ashé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em panos comuns e de pouco valor.

Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhesse uma cabaça para si.

Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a outra para seu irmão.

Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem hesitar, tratou de comê-la na companhia de alguns amigos.

Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado: “Que farei com estas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guardá-las com muito carinho.”

No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando-o sobre sua esteira. Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: “Estou rico! Minha cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!”

Tempos depois, Ashé reuniu seus filhos e lhes perguntou: “Muito bem, que encontraram dentro das cabaças que lhes presenteei?”

“Na minha havia uma bela vianda que tratei logo de comer.” Disse Olhos.

“Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por me haver regalado com tão maravilhoso presente”. Afirmou Cabeça.

Então, Ashé sentenciou: Olhos, tu és muito ávido! A visão te atrapalha, tu enxergas sem ver. Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano comum, guardava em seu interior uma enorme fortuna. Por este motivo, será Cabeça quem, a partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências.

Depois disto, sempre que tivermos chance, devemos dizer: “Minha cabeça é boa e não meus olhos são bons”.



Cânticos do Itan: Ta she dokpo we nõ nu, bo ta yi yo.

Ori bo ge, aboge, aboge

Ori she! Ori ta dokpo,

O gboge, gboge, gboge!



Tradução: Eu não tenho mais que uma cabeça que pensa.

E ela provem de muitas outras cabeças!

Minha cabeça é forte e pensante,

Oh! Cabeça, eu não tenho mais que uma! 

Mas ela é forte e pensante!



ITAN TI ODÙ EJI-ONILE



Ejiogbe desposou uma mulher, que lhe deu dois gêmeos em sua primeira gravidez.

Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a qualquer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu amante, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas conseqüências.

Certo dia, o sedutor entregou à mulher um pó negro, poderoso veneno, que deveria ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iria solucionar definitivamente os seus problemas.

No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun (*) e aproveitando-se da ausência do marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presenteara seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.

Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de casa.

Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.

Antes do nascimento dos gêmeos, o Bokonõ do local, previra que tal acontecimento, seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se cumprisse. Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele, mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado para seu próprio consumo.

Incontinente, o pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se encontrava a parte boa, tratando de comê-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro gêmeo, chamado Sagbo.

Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando que o marido tentara envenena-la.

O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente, intimou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.

Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que, apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado.

Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão, como um sinal de azar para a família, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de sua mãe.

Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida destinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e deixando o envenenado para sua mulher, com a intenção de castigá-la. Tomara a decisão de avisar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de que a culpa seria atribuída ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do adivinho, traria desgraça a sua família.

Foi então que Metolonfi disse ao pai dos gêmeos: “Tu és defendido por duas pessoas. Tu chamarás sempre pelo seu nome, em sua proteção, este nome é Ibeje.”

O consulente que corre o risco de sofrer uma traição, descobrirá tudo em tempo e se livrará do mal que lhe estiverem tramando.

(*) Prato típico do Benin.





ITAN TI ODÙ EJI-ONILE



Naquele tempo, a Terra havia sido criada e sua extensão ainda era muito pequena, estando a maioria do globo, coberta pelas águas do oceano.

Olofin ordenou que os orixás, viessem habitar sobre a pequena faixa de terra firme então existente, para ali estabelecerem o ambiente necessário, para o surgimento da vida humana.

Todos foram consultar Orunmilá e na consulta, surgiu a figura de Ejiogbe (Ejionile), sendo determinado um sacrifício, que todos os Orixás deveriam oferecer, para que suas missões fossem coroadas de sucesso.

Como o ebó determinado fosse muito dispendioso, todos, com exceção de Orishala, negligenciaram-se a fazei-lo e assim, rumaram para a terra recém criada.

Como Orishalá oferecera o seu sacrifício, foi o primeiro a chegar, já que Exú lhe indicara o caminho mais curto e sem qualquer obstáculo. Aos outros, Exú criou todos os tipos de dificuldades e desta forma, ao chegarem a terra, encontraram Orishalá já estabelecido.

Durante o tempo em que Orishalá permaneceu sozinho sobre a terra, teve que fazer, com suas próprias mãos, todo tipo de serviço pesado, como cortar e carregar lenha para a construção de seu palácio, o que lhe provocou uma deformação nas costas, passando, a partir de então, a caminhar apoiado num cajado.

Um a um, os Orixás foram chegando e todas as terras já estava cercadas e plantadas, sendo Orishalá seu legítimo dono.

Sem ter onde ficar e estabelecer seus reinos, reuniram-se em assembléia, para deliberarem de que maneira iria proceder, para que pudessem cumprir suas missões e a esta reunião, Orishalá também compareceu.

“Que desejam, agora que realizei todo o trabalho pesado? ”Perguntou o poderoso Funfun. “Só lhes resta habitarem as profundezas de Okun (*), já que ao chegarem, encontraram toda a terra trabalhada por mim!”

Diante da posição do Orishalá, os demais Orixás prostraram-se diante dele e com os rostos encostados no solo, suplicaram que lhes desse um pedaço de terra firme, para que pudessem realizar seus trabalhos e que ficasse ele mesmo com os mares e toda a riqueza neles contidas.

Orishalá então, nomeou Olokun, seu filho mais velho, para reinar sobre os Oceanos, enquanto ele reinava sobre todo o planeta, concordando em distribuir, entre todos os Orixás, um setor da natureza, para que ali pudesse estabelecer os seus reinados, sempre prestando obediências a ele, coroado e aclamado por todos, como o rei dos reis.

A partir de então, por ter feito o ebó determinado, Orishalá passou a ser o mais importante dentre todos os Orixás, seus reinos se expandiram, na medida em que as águas do mar iam deixando mais e mais terras habitáveis e os demais Orixás puderam cumprir suas missões, governando os elementos e as diversas manifestações da natureza.

Este Itan se aplica as pessoas que por seus próprios esforços e méritos, pretendem obter um lugar de destaque na vida.





ITAN TI ODÙ EJI-ONILE



Naquele tempo, Orunmilá não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.

Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais se encontrava aprisionada uma belíssima donzela denominada Sabedoria.

Muitos jovens aventureiros, guerreiros poderosos, príncipes e monarcas, já haviam sucumbido, na tentativa de resgatar a bela jovem.

Determinado a conquistar Sabedoria, Orunmilá dirigiu-se ao local onde estava edificado o palácio e no caminho encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida. Metendo a mão em seu embornal, Orunmilá dali retirou um pequeno saco com um pouco de farinha de inhame, que era tudo o que tinha para comer e de uma pequena cabaça que levava pendurada à cintura, um pouco de epô pupa, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo uma pequena parte do alimento.

Depois de alimentar-se, o mendigo revelou a Orunmilá o seu nome, dizendo chamar-se Elegbara e como agradecimento, ofereceu ao jovem aventureiro um pedaço de marfim entalhado, dizendo: “Com este marfim, denominado Irofá, deveras bater em dada uma das portas dos dezesseis quartos do palácio, pois só assim elas se abrirão. Do interior de cada quarto, ouvirás uma voz, que te perguntará: “Quem bate?”“ E tu identificarás, dizendo que és Ifá, o Senhor do Irofá. A voz, então perguntará então, o que estás procurando e tu dirás, estando diante da porta do primeiro quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de Ejiogbe. A porta então se abrirá e conhecerás os mistérios da vida.

No segundo quarto, quando a voz te perguntar o que desejas, depois de haver-te identificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer Ikú. A Morte e que queres dominá-lo, por intermédio de Oyeku Meji. A porta se abrirá e conheceras a morte, seus horrores e mistérios. Se não demonstrares medo em sua presença, haverás de adquirir domínio absoluto sobre ela.

Na terceira porta, encontrarás um guardião denominado, Iwori Meji, que depois de reverenciado, te colocara diante dos olhos, os mistérios da vida espiritual e dos nove Orun, onde habitam deuses, demônios e todas as classes de espíritos que irás conhecer.

Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espírito e o guardião desta porta chama-se Odi Meji a quem deveras demonstrar respeito sem submissão.

E necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e os prazeres que se decortinarão diante de teus olhos pois podem escravizar-te para sempre, interrompendo tua busca.

Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do homem sobre seus semelhantes, através do uso da força e da violência, da tortura e do derramamento de sangue. Aprende, mas não utilizes jamais, as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, uma vítima delas.

Na sexta porta, serás recepcionado por um gigante de sexo feminismo, que saudarás pelo nome de Owonrin Meji e a quem solicitaras ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no universo e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte, o mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali, serás tentado pela possibilidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens inenarráveis. Resiste a estas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxurias.

Agora, já estarás diante da sétima porta. O habitante deste quarto chama-se Obará Meji, é velho e de aparência bonachã, poderá te ensinar prodígios de cura, soluções para os problemas mais intricados, te dará a possibilidade de realizar todos os anseios e desejos de realizações humanas. Toma cuidado no entanto, pois o domínio deste conhecimento pode conduzir-te a prática da mentira, a falta de escrúpulos e à loucura total.

No oitavo aposento, deverás solicitar a permissão de Okanran Meji para conheceres o poder da fala humana, que infelizmente é muito mais usada na prática do mal que do bem. Este guardião te falará em muitas línguas e de sua boca só ouvirás lamentações e queixas. Aprenda depressa e depressa foge deste local, onde a falsidade é a traição.

Diante da nona porta, pedirás permissão ao seu guardião, Ogundá Meji, para conheceres a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis da existência. Naquele quarto, encontrarás todos os vícios que assolam a humanidade e que a escravizam em correntes inquebráveis, verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.

No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é Osa Meji. Ela vai te ensinar o poder que a mulher exerce sobre o homem e o porquê deste poder, conhecerás seres poderosos que funcionam na prática do mal, todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços, malefícios que, caso aceites, fará de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos. Cuida para que estes conhecimentos não te transformem num bruxo maldito.

Bate agora teu Irofá na décima primeira porta e a voz de seu guardião, Iká Meji, o gigante em forma de serpente, te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele, permissão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abiku, que nascem para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e desta forma poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.

A décima segunda porta te reserva surpresas e sustos sem fim. Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne, quase sem forma. Trata-se de um gênio muito poderoso, que poderá te revelar todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas inimagináveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros, depois, parte respeitosamente em busca do próximo aposento.

Aqui está a décima terceira porta, bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se, de forma intima e constante, com a Deusa da Criação, Oduduwa, a Grande Mãe. Aprende agora, como é possível separar as coisas, dominar o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existe nos sons da fala humana, mas usa esta força terrível com muita sabedoria.

Já diante da décima quarta porta, irás defrontar-se com Irete Meji, que nada mais é que o próprio espírito de Ile, a Terra. Faz com que desvende os mais íntimos segredos, agrada-o, presta-lhe permanentemente reverências e sacrifícios. Contata, por seu intermédio, os Espíritos da Terra, transforma-os em teus aliados, conhece os segredos de Sakpata, o Vodum da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver, aprende com ele, o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.

Na décima quinta porta, serás recepcionado por Oshe Meji, que irá te falar de degeneração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depressa possível, para não seres também vitimado por tanta negatividade, toda gerada numa relação incestuosa.

Finalmente, a décima sexta porta. O último obstáculo que te separa de tua desejada musa. Aí reside Ofun o mais velho e terrível dos dezesseis gênios guardiões. Saúda-o com terror, gritando “Hepa Baba”! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito, más não o encare de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas quinze portas que a esta precediam. Este é Ofun Meji, aquele que gerou todos os gênios que o precedem, é a reunião de todos os demais, que nele habitam e que dele se dissociam só de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todos os segredos do universo. É isto que buscavas, oh Orunmilá! Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria. Toma-a para ti e possua-a para todo o sempre, pois agora és Ifá e nada pode mais que tu.

Este Itan determina que o cliente deve ser iniciado no culto de Orunmilá, devendo para isso, ser conduzido e confiado aos cuidados de um Babalawo.





ITAN TI ODÙ EJI-ONILE



Titigotin, passarinho muito pequeno e malvado, de penas acinzentadas, afirmou um dia ao elefante Ajinaku, que poderia vencê-lo em combate singular. Espantando com tamanha ousadia, Ajinaku indagou: “Como poderás, pequeno como és, ocasionar-me algum dano para derrotar-me?”

O pássaro no entanto, continuava a afirmar que podia derrotar o elefante que, para não ficar desmoralizado, teve que aceitar o desafio.

No dia marcado, Titigotin, antes do combate, aconselhou ao elefante que se alimentasse bem, para que não viesse atribuir a derrota a algum estado de fraqueza, por encontrar-se mal alimentado.

Antes da luta, Titigotin reunira algumas pedras vermelhas chamadas zen, que depois de transformadas em pó, foram misturadas com água, produzindo um líquido pastoso, muito parecido com sangue, tendo em seguida, guardado o líquido numa pequena cabaça chamada atukungwe.

Do fundo do rio, recolheu pedaços de calcário, com os quais produziu uma pasta branca ainda mais espessa, que guardou noutra cabaça.

O mesmo foi feito com pó de carvão vegetal que, depois de misturado com água e transformado numa pasta negra, foi guardado numa terceira cabaça.

Naquela época, reinava no pais um rei muito bondoso, cujo nome era Dada She. Curioso em saber de que forma o valente passarinho tencionava derrotar seu enorme adversário, Dada She dirigiu-se a floresta para, em companhia dos animais selvagens, assistir à curiosa luta.

Em dado momento, Titigotin declarou-se pronto para o combate e solicitou ao rei que autorizasse o inicio da luta.

Ao sinal, munido de suas três cabaças, pousou na cabeça do elefante que se pôs a rir, sacudindo a tromba, na tentativa inútil de afugentar Titigotin que, dotado de grande agilidade, mudava sempre de lugar. Da orelha do elefante, voava rapidamente para a testa e dali para o alto da cabeça, evitando as violentas pancadas que o elefante desferia com a tromba, na intenção de atingi-lo.

Agora, o elefante já estava realmente irritado, vários golpes desferidos com sua própria tromba haviam martelado violentamente sua própria cabeça e o passarinho continuava incólume.

Em determinado momento, Titigotin derramou, sobre a cabeça do elefante, o liquido vermelho que armazenara na primeira cabaça, voando em seguida até Dada She, a quem solicitou um médico para examinar Ajinaku que, segundo ele, estava acometido de forte hemorragia, proveniente de um grande ferimento no alto da cabeça.

Ao ver o que julgou ser sangue, Dada Shé admoestou Ajinaku: “Como pudestes ser tão gravemente ferido por um passarinho tão pequeno?” Ajinaku, como não sentisse nenhuma dor, passou a tromba sobre a cabeça e ao vê-la suja do líquido vermelho, que também pensou ser sangue, tomou-se de grande fúria e resolveu acabar com a brincadeira.

“Ao combate!” Bradou irado e o passarinho pôs-se novamente a voltear sua cabeça.

Dada Shé que a tudo assistia, exclamava indignado: “Que vergonha!” E todos os animais repetiam em coro: “Que vergonha!”

Titigotin gritava: “Renda-se Ajinaku, ou racharei seu crânio e seu cérebro será espalhado pelo chão!”

“Jamais!” bradava cada vez mais irritado o elefante, chocando a própria tromba contra a cabeça, cada vez mais violentamente, tentando desta forma, atingir o adversário.

E a luta prosseguia cada vez mais acirrada... em dado momento, Titigotin derramou sobre a cabeça de Ajinaku, a pasta branca da segunda cabaça e gritou para Dada Shé: “Veja! Ajinaku teima em continuar a luta apesar do meu aviso e agora seu cérebro já começa a escorrer através de seu ferimento!”

Dada She, vendo a pasta branca escorrendo da cabeça do elefante, pede-lhe que se renda e este, cada vez mais furioso, afirma que seu crânio não pode estar fraturado, uma vez que não sente nenhuma dor, absolutamente nenhuma!

Com a visão prejudicada pela pasta que já lhe penetra os olhos, Ajinaku continua a castigar-se, com golpes cada vez mais violentos de sua própria tromba, enquanto Titigotin voa agilmente ao redor de sua cabeça e de seu imenso corpo. Decidido a acabar com a luta, a avezinha derrama o conteúdo negro da terceira cabaça, sobre a cabeça de seu contendor e chamando o rei, mostra-lhe o que considera uma verdadeira catástrofe: “Veja, ele não agüenta mais! Seu sangue, seus miolos e tudo o que escorre do seu crânio estão completamente negros! É gangrena, sem dúvida! Isto é sinal evidente de morte e eu me nego a continuar a dar combate a um moribundo!”

Todos viram a pasta negra escorrendo da cabeça do elefante, mas ninguém, nem de longe, desconfiou do artifício utilizado pelo passarinho.

Desolado, Ajinaku lamentava: “Sim... ele me matou...” E muito envergonhado, pôs-se a bater a cabeça contra as árvores, até ferir-se mortalmente.

É por isto, que se diz, que as coisas podem, se não forem controladas em tempo, crescerem de tal forma, que acabam se transformando em problemas enormes e sem solução.



Cânticos do Itan: Titigotin ma so ate bo Ajinaku!

N’hu agbanga!...

Agete, agete, du do agete!

N’hu afgangba!

Agete!



Tradução: Titigotin, o pequenino, derrotou Ajinaku!

Eu posso derrotar qualquer coisa mesmo que seja grande como o mundo!

Alegria! alegria! O signo dez que terei alegria!

Eu posso derrotar qualquer coisa, mesmo que seja grande como a terra!

Alegria!





ITAN TI ODÙ OSA



A filha de Metolonfi, rei de Ifé, chamava-se Hwedeu (Tu não podes com ela).

Bese (A Rã) e Agbo (O Búfalo), desejavam casar-se com a princesa e, para resolver a questão, o rei lhes disse: “Darei a mão de minha filha aquele que primeiro trouxer toda a palha que preciso para cobrir a casa que mandei construir em meu quintal.”

A disputa ficou marcada para dai três dias.

Agbo muito feliz dizia: “Que bom, será muito fácil! Bese é muito pequeno e não poderá transportar de uma só vez toda a palha necessária. Assim sendo, não resta dúvidas de que serei o primeiro!”

Consciente de suas limitações, Bese tratou de consultar Ifá para saber de que forma poderia derrotar seu concorrente, muito maior e mais forte que ele.

Na consulta surgiu Osa Meji que exigiu, a guisa de sacrifício, que lhe fossem trazidos três frangos. Quando Bese cumpriu a exigência, Ifá separou para si um frango e meio, entregando o restante ao cliente, sob a recomendação de que, com aquela quantia, preparasse um jantar e convidasse todos os seus parentes.

Durante o jantar, Bese explicou aos parentes, o motivo da reunião e todos se prontificaram a ajudá-lo no cumprimento da difícil tarefa a que iria se submeter.

No dia fixado, Agbo aproximou-se de Bese e perguntou com ironia: “Ainda estás aqui? Anda depressa senão ganharei nossa disputa. Eu posso carregar qualquer coisa que quiser!”

Já pronto para recolher a palha, Agbo passa diante da casa de Bese e pergunta: “Ainda estás ai? Já estou a caminho!”

De dentro uma voz respondeu: “Vá em frente, eu te sigo.”

Agbo já com a palha no lombo retornava a casa do rei e no caminho resolveu conferir: “Bese!” gritou, e um dos parentes da Rã que se encontrava escondido a beira do caminho, respondeu: “Kpãããã!” 

Surpreso e achando que estava sendo ultrapassado por seu concorrente, Agbo redobrando os esforços, acelerava a marcha em direção ao objetivo. Um pouco mais a frente, chama novamente: “Bese!” e o mesmo “Kpãããã!” surge aos seus ouvidos!

Entra na cidade, penetra no palácio e, no pátio depara estarrecido com o monte de palha que os parentes de Bese haviam depositado no local. Desesperado, Agbo dá violentas cabeçadas no chão e acaba se matando.

Foi então que todas as pessoas disseram: “A Rã mediu forças com o búfalo. A rã provou ser mais forte que o búfalo.”

Todos para quem surgir este signo, vencerão seus concorrentes se submeterem-se a Ifá e forem suficientemente generosos.

Terminamos esta narrativa dizendo: Sa Meji! Bese hu so ma non hwi do ja! (A rã matou o búfalo e nem precisou de faca para fazê-lo!)





ITAN TI ODÙ OSA



Hun Je Nukon (*) era o nome da mulher da águia que foi possuída pelo Vodun pela primeira vez, encontrando-se por isto, recolhida no local da iniciação.

A Águia fez uma investigação para saber onde o Vodun iria fazer suas vodunsi dançarem no dia da saída da iniciação (Hun Hwe, Hun Kpame) de acordo com as cerimônias habituais.

Descoberto o local e o dia, pousou no galho de uma árvore em frente a casa do Vodun, esperando ver sua mulher.

As vodunsi saíram do convento em direção ao rio para recolherem água destinada a purificação e na frente da fila, ia a mulher de Águia.

Recolhida a água, as mulheres voltaram cantando e dançando cadenciadamente quando, repentinamente. Águia saltou de seu abrigo, levando consigo sua mulher, enquanto as outras neófitas escapavam, escondendo-se no interior da casa.

Naquele dia o Vodun passou uma grande vergonha...

No dia seguinte, o Vodun reunido com seus amigos, tramou uma conspiração para novamente, tomar a mulher de águia, o que efetivamente logrou fazer.

Outra vez águia repetiu o feito anterior, escondido na copa da árvore, aguardando que as vodunsi voltassem no rio para novamente resgatar sua mulher.

Todas as vodunsi tiveram que se recolher novamente ao Hunko e a cerimônia de saída teve que ser adiada mais uma vez.

Acabrunhado o Vodun perguntava: “Que fazer? Todos estão zombando de mim... preciso consultar Ifá.

Ifá recomendou então que o Vodun procurasse dois galhos em forma de forquilha. Indignado o Vodun disse a Ifá: “Estou falando sério. Que estória é essa de forquilha?” Ifá respondeu simplesmente: “Faça o que estou mandando”.

Quando o Vodun trouxe as forquilhas, Ifá exigiu: “Agora tu me entregarás uma galinha, um pombo, uma galinha d’Angola, uma cabra e cinco moedas.”

Feito o sacrifico, Ifá inscreveu o signo Osa Meji sobre o yerosun e, entregando as forquilhas ao Vodun, ensinou de que forma deveriam ser utilizadas.

Pela terceira vez Vodun tomou a mulher, conduzindo-a a sua casa e, novamente, Águia ficou à espreita, aguardando o momento adequado para levar sua mulher de volta.

No dia seguinte, as mulheres foram ao rio para pegarem água, na volta, a mulher de Águia, na frente da fila, dançava com as duas forquilhas nas mãos. Águia lançou-se sobre ela na intenção de carregá-la, sendo desta vez, recebido com as duas forquilhas no peito. Atordoado e ferido, caiu no chão e todas as Vodunsi caíram sobre ele, aplicando-lhe uma grande surra de vara com forquilhas.

Só então, Vodunsi Hunjenukun, ficou sendo para sempre, mulher do Vodun.

Depois disto, o principal tambor do ritual, passou a ser chamado Hun em vez de Hon (águia).

(*) A primeira promoção no seminário de iniciação onde não se pode obter mais do que uma promoção de cada vez. Vodunsi Hun Je Nukon é a primeira esposa do Vodun a ser tocada pela Divindade e que, chegada a sua vez, virá a ser uma Grã-Sacertodiza (Zeladora do Vodun).





ITAN TI ODÙ OSA



Naquele tempo, o macaco demonstrava ser o maior Oluwo do país, sendo, por este motivo, invejado e odiado pelos demais Oluwo que eram o galo, o carneiro e o bode.

Certo dia, macaco saiu em longa viagem, tendo antes oferecido um ebó composto de nove idés dourados e um peixe assado.

No dia posterior a viagem, o rei Olofin precisou consultar Ifá e para isto, convocou a sua presença os três adivinhos para que fizessem, em conjunto, uma consulta.

Os três, maldosamente, para livrarem-se da concorrência do Macaco, determinaram um ebó no que era exigido o sacrifício deste animal.

Olofin, imediatamente ordenou que seus caçadores saíssem na captura do macaco que, graças ao ebó que havia oferecido, conseguiu escapar de todos as armadilhas que lhe foram armadas.

Frustrados pelo fracasso da caçada, os caçadores voltaram a presença do rei, sem contudo conduzirem o animal para ao sacrifico.

Como o caso era urgente e não mais podendo esperar, Olofin resolveu, na falta do macaco, oferecer o ebó com os animais que tinha a mão, ou seja, um galo, um carneiro e um bode, o que trouxe para ele excelente resultado.

Este caminho indica perigo de traição e exige que seja oferecido o seguinte ebó:





ITAN TI ODÙ OSA



Havia um homem que sofria demasiadamente em sua vida mas que nunca se dignara a oferecer qualquer sacrifico. Onde quer que fosse morar, era perseguido por alguém de poder ou prestígio e, invariavelmente tinha que se transferir para algum lugar distante.

Cansado de viver assim sem paradeiro certo, o homem resolveu internar-se na floresta onde, longe do contato dos seres humanos, julgou poder viver em paz.

Na floresta, encontrou uma caverna onde resolveu habitar, transformando-a em moradia. Depois de arrumar seus pertences, o homem dimensionou-se a uma fonte próxima dali, com a intenção de abastecer-se de água e, ao regressar, deparou com um bando de corujas que, postadas à entrada da caverna, impediam o seu acesso. Repentinamente, as aves alçaram vôo, investindo furiosamente contra ele que, apavorado, fugiu mata adentro, sempre perseguido pelas corujas.

Mais adiante, o homem encontrou uma cabana e para fugir do ataque das aves, adentrou-a, deparando com seu dono que outro não era se não o próprio Orunmilá.

Narrada sua desdita, Orunmilá ordenou-lhe que oferecesse um ebó que o livraria para sempre de todo e qualquer tipo de perseguição.

Feito o ebó, pode o homem escolher o lugar onde viver, encontrando paz para o resto de sua vida.





ITAN TI ODÙ OSA



Um homem não pode escorregar na lama se tiver na mão uma bengala.

Este era o nome do adivinho que consultou Ifá para o caçador.O pai do caçador tinha morrido. O caçador não tinha dinheiro para os funerais...

Antigamente não se enterrava os mortos como ser faz agora, eram colocados numa grade sobre quatro pés e acendia-se em baixo, uma grande fogueira para cremá-los, evitando assim, que passassem pelo processo de decomposição. A cremação durava três luas e, durante este tempo, os parentes do morto deveriam providenciar para que os funerais fossem dignamente celebrados.

O caçador tinha muitos amigos e, sempre que algum deles precisava celebrar um funeral, era a ele que procuravam para encomendar a caça para ser comida durante o ritual e agora, era o caçador que tinha um ritual a celebrar, e nada podia oferecer aos seus amigos.

Quando faltavam sete dias par ao termino da cremação, não tendo nenhum cauri (*) e sem encontrar outra solução, resolveu sair, ele mesmo, a caça.

Embrenhando-se na floresta, deparou com um rio de águas muito escuras e pode ver, na margem, uma grande quantidade de diferentes animais.

“Como atravessar o rio de águas tão negras se não posso avistar o fundo?”

Em busca de uma solução, sentou-se a sombra de uma árvore kpejere ali existente, como estivesse muito cansado, logo adormeceu.

Durante o sono, teve um sonho no qual uma voz lhe dizia: “Levanta-te, atravessa o rio, na outra margem muita caça te espera para ser abatida!” e a voz repetia-se incessantemente.

Acordado, voltou a ouvir a mesma voz que repetia as mesmas palavras de incentivo. Procurou para ver quem poderia estar falando, más não encontrou ninguém...

De repente, a mesma voz: “Sou eu, a árvore quem te está falando, anda, atravessa o rio, do outro lado há muita caça a tua espera!”

“Como poderei atravessar em segurança se não posso ver o fundo do rio, tal escuridão das águas?”

“Corta um dos galhos com a ponta enforquilhada, toca a cada passo o fundo do rio local onde irás pisar, assim saberás se é raso ou fundo. Seguindo a orientação da árvore, o caçador pode atravessar em total segurança as águas turvas do rio e, chegando ao outro lado, munido de seu arco (da), pôde com cada flecha (ga) abater três ou quatro animais.

Abateu tanta caça que chegou a pensar que não teria forças para transportar tudo até sua aldeia. amarando os animais com uma corda, tratou de atravessar o rio, arrastando atrás de si, o fruto de seu esforço.

Os animais abatidos foram colocados aos pés do kpejere que novamente falou”

“Eu adoro as vísceras destes animais, foi por isto que te ensinei a forma mais segura de alcançá-los. Agora, em pagamento, deves oferecer-me as vísceras de todos os animais que abatestes.”

Achando justa a proposta, o caçador abriu o ventre de todos os animais, de onde retirou as vísceras que foram depositadas ao redor do tronco da árvore. Depois retornou à sua aldeia com sua preciosa carga que proporcionaria condições de celebrar condignamente os funerais de seu pai.

Passado algum tempo, morreu a mãe do lenhador que, da mesma forma que o caçador, encontrava-se sem recursos para realizar os funerais.

A cremação foi iniciada imediatamente e, quando faltavam quinze dias para seu término, o lenhador resolveu embrenhar-se na floresta a fim de cortar madeira que, depois de vendida, geraria recursos para o custeio dos funerais.

Depois de muito caminhar, foi deparar com o mesmo rio que o caçador havia encontrado e o rio lhe falou:

“Lenhador!”

“Ago!”

“Se estás a procura de madeira de bom valor, existe ali adiante uma enorme árvore kpejere. Com alguns golpes de teu afiado machado, podes obter madeira da mais alta qualidade.”

“Meu machado é muito pequeno para um tronco tão grosso!”

“Não faz mal, corta em pequenos pedaços e teu trabalho será muito bem recompensado.”

Assim foi feito e, a madeira obtida foi vendida por mil e quinhentos cawris, importância mais do que suficiente para que, durante os rituais, todos pudessem se regalar.

Mas por que razão teria o rio ordenado ao lenhador que abatesse a grande árvore? Acontece que, por ocasião do incidente com o caçador, a chacina foi tão grande, que os animais se revoltaram e resolveram se afastar em busca de um lugar mais seguro.

Era costume, os animais, em agradecimento aos serviços prestados pelo rio, oferecerem-lhe anualmente, um de seus filhotes. Com o afastamento dos animais, motivo pelo qual mandou o lenhador abatê-la.

Kpejelekun e do: Mi na de do-nuto. Toka do: Emi de do ni on, do ton na je we.

(A arvore kpejerekun diz: “Se eu revelar o teu segredo todas as tuas raízes ficarão expostas ao ar!”) (O consulente deve ser discreto com os segredos que lhes são confiados).

(*) dinheiro utilizado na época.





ITAN TI ODÙ OSA



Uma ave furiosa não deve ser amarrada com fios de algodão.

Quando Jihweyenwe (*) criou o mundo, a primeira árvore que plantou foi o algodoeiro.

A árvore deu frutos e os frutos produziram algodão. Deus confiou a guarda da árvore e de seus frutos aos pássaros, mas estes, resolveram comê-los, sob a alegação de que tinham fome e não podiam resistir a tão delicioso alimento.

Convocando os dezesseis Odu, o Criador lhes falou:

“Eu confiei a guarda do algodoeiro aos pássaros e eles devoraram todos os seus frutos. Desta forma, resolvi que doravante, vocês serão os responsáveis pela segurança deste vegetal.”

Os Odu Meji, no entanto, recusaram a missão, com exceção de Osa Meji que, apesar de ser mais novo de todos, aceitou a atribuição, dizendo a Deus:

Tu és meu pai e eu sou teu filho. Tudo o que me mandares fazer, devo executar.”

Estando sozinho, Osa Meji pôs-se a pensar “Assumi um compromisso muito sério diante de meu pai. Não será fácil proteger o algodoeiro da voracidade dos pássaros. Se não cumprir o prometido, meu pai, com toda certeza, haverá de me castigar.”

Preocupado, consultou Ifá que lhe aconselhou pedir ajuda a Oye (aranha), na difícil missão que lhe fora confiada. Imediatamente Osa Meji procurou Oye que, para sua tranqüilidade falou:

“Não tenhas medo, estou contigo. Diga-me apenas do que se trata”.

“Meu pai me confiou a guarda do algodoeiro, não creio que possa fazê-lo sozinho. De que forma poderás ajudar-me a protegê-lo dos pássaros?”

“Primeiro mostra-me o lugar onde fica este bendito algodoeiro.”

Osa Meji conduziu Oye até o local onde se encontrava a árvore e a aranha, imediatamente construiu uma forte teia ao redor do vegetal.

No dia seguinte, bem cedo, Osa Meji chegou ao local para examinar a árvore e encontrou os passarinhos todos presos na teia tramada por Oye. Munindo-se de um grande saco, colocou-os todos, um por um, em seu interior e, com muita pressa, dirigiu-se a casa de seu pai.

“Eis aqui o resultado do trabalho que me confiastes. Veja os pássaros que capturei e que destruíam tua árvore.”

Felicitando Osa Meji, Deus lhe disse:

“De hoje em diante terás o comando sobre a terra.”

Foi desta forma que Osa Meji passou a ser o senhor da Terra (No momento em que Deus confiou a Terra a Osa Meji, o

Vodun Sakpata, ainda não existia, surgindo mais tarde sob o signo de Iwori Meji.





ITAN TI ODÙ OFUN



O adivinho que consultava Ifá para as duas mulheres Ajrohun e Uutin (*) chamava-se “A Coisa é Inteiramente Branca”.

As mulheres consultaram Ifá queixando-se de jamais haver tido filhos e Ifá prescreveu-lhes um sacrifício que foi feito somente por Uutin.

Ajrorun negou-se a fazer o sacrifício sob a alegação de que, quando fosse chegado o momento, Deus saberia providenciar sua prole.

Um mês depois, Ajronun ficou grávida e disse: “Está vendo? Terei muitos filhos que se reunirão ao meu redor!”

No dia do parto, deu a luz algumas bolas que logo começaram a arrebentar e de seus interiores só saíram pequenos flocos brancos, sem forma, que foram dispersos pelo vento, indo cair alguns em Catavi e outros em Cotonu. Este foi o fim de seus filhos.

Uutin, que havia ofertado o sacrifício, também engravidou e seus filhos caíram aos seus pés e logo que vieram as chuvas germinaram, ficando para sempre, ao seu redor.

(*) Nomes de vegetais).





ITAN TI ODÙ OFUN



Ofun Meji criou o mundo e todos os demais Odu. Ninguém pode gabar-se de ser seu pai.

Depois de haver criado o mundo, Ofun Meji começou a ter filhos. Muitos afirmam que Ejiogbe seria seu primeiro filho, mas isto não é verdade, pois Oyeku Meji nasceu primeiro, embora os dois tenham nascido no mesmo dia.

Quando o mundo foi criado, tudo era trevas. O Criador chamando Oyeku Meji entregou-lhe uma chave com a ordem de com ela abrir a porta da luz. Logo que tal porta fosse aberta, a luz se espalharia pelo mundo iluminando todos os rincões. Recomendou ainda, a Oyeku Meji, que jamais se embriagasse e que jamais bebesse qualquer bebida fermentada.

Oyeku Meji que já era guardião das criaturas, ficou também com a chave dos dias.

Certo dia, Oyeku, depois de haver voltado de duas ocupações com o auxilio de seu irmão Ejiogbe, encontrou um grupo de pessoas que haviam preparado uma grande quantidade de emu (*). Esquecendo-se da recomendação, de Ofun Meji, Oyeku pôs-se a beber em companhia das pessoas, não tardando em adormecer de tão embriagado.

Ejiogbe, que a tudo assistia, sentou-se ao lado do irmão adormecido, aguardando que despertasse. Já passava da hora de voltar para casa com a chave do dia. Oyeku era muito grande e pesado para que Ejiogbe pudesse carregá-lo em suas costas. Depois de tentar inutilmente desperta-lo Ejiogbe recolheu a chave do dia e voltou para casa onde eram esperados por Ofun.

“Aonde esta teu irmão, o guardião da chave que conduzes?” Perguntou Ofun Meji.

“Ele bebeu muito vinho de palma e embriagado adormeceu. Tentei acorda-lo, mas foi em vão. Como já era hora de guardar a chave do dia, resolvi trazê-la eu mesmo e entregá-la a minha mãe.”

“Tu não bebestes?”

“Não!”

“E Teu irmão bebeu sozinho?”

“Não! Bebeu, na companhia de muitas pessoas!”

“Sendo assim, confiarei a ti a guarda desta chave. Tu substituirás teu irmão.”

Quando Oyeku chegou, foi interpelado por Ofun Meji:

“Por que desobedecestes minhas ordens bebendo bebidas fermentadas e te embriagando?”

“Não resisti a tentação diante do vinho. O pior é que perdi a chave que me confiastes”.

“Felizmente ela não está perdida, teu irmão Ejiogbe recolheu-a, enquanto dormia e a trouxe para casa. Não mereces mais a minha confiança. De hoje em diante obedecerás as ordens de teu irmão mais novo.

Foi depois disto que Ejiogbe passou a ocupar o primeiro lugar entre seus irmãos.

Destituído de suas funções, Oyeku Meji resignou-se em servir fielmente a seu irmão, o que despertou a piedade de Ejiogbe, que um dia, disse a sua mãe”

Oyeku é meu irmão mais velho. Em decorrência de sua falha foi reduzido a meu servo. Não poderias tu, dar-lhe uma nova ocupação? Não é muito agradável para mim ter que dar ordens a meu irmão mais velho. Uma vez que me confiastes a guarda do dia e da luz, por que não confias a ele, a guarda da noite e das trevas?”

Ofun aceitou a sugestão e, depois disto, Oyeku passou a ser responsável pela noite. Dele dependem os kuvito (**), o sono dos homens e tudo o que acontece durante a noite, seja na terra, seja no ar, seja sob as águas...

Tempos depois, Ejiogbe pediu a Ofun que criasse, para iluminar a terra, o Sol, uma lua e várias estrelas.

Ofun Meji confiou-lhe então, esta delicada missão, dando-lhe, como auxiliar, nada menos que Elegbara, com ordem de reunir todos os pássaros existentes no mundo, de matá-los e lhe entregar o seu sangue para que pudesse fazer alguma coisa. o mesmo deveria ser feito com todos os animais e com todos os homens.

Egiogbe, auxiliado por Legba, fez todo o possível para reunir todos os pássaros e, matando-os recolheu o seu sangue, fazendo o mesmo com todos os animais e com todos os homens.

Apesar dos esforços, muitos pássaros, animais e homens, conseguiram escapar.

É por isto que, ainda hoje, Elegbara percorre os quatro cantos do mundo em busca de pássaros, animais e homens, na tentativa de capturá-los.

Os sangues recolhidos foram depositados em três grandes jarras e cozidos no fogo.

Do sangue dos homens foi fito o Sol.

Do sangue dos animais foi feita a Lua.

Do sangue dos pássaros foram feitas as estrelas.

Obtida a transformação desejada, Elegbara apresentou o resultado a Ofun Meji e então Oduduwa ordenou;

“Levanta-te Sol e lá do alto reina sobre o dia!”

“Lua levanta-te! Tu reinarás sobre a noite!”

Estrelas, subam ao céu, Vocês reinarão sobre a madrugada!

(*) Bebida obtida a partir da seiva fermentada da palmeira.

(**) Espíritos dos mortos.



Cânticos do Itan: (Tradução desconhecida).

Eori oshukpa Orun,

Timanlan lelegun!

Aworna lodifa fun igun

Ijo tiwon she awo

Lati kole Orun bowa kole aye

Orañi kañi

Kole ogun mwõna le mon

Orañi lani lani!

To ba de le ko wi fun ya emi fun mi. (yoruba).





ITAN TI ODÙ OFUN



Naquele tempo, a galinha d’Angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata.

Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de Oblatá, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orixá do Branco era cultuado, pois cor preta era considerada como uma grande ofensa.

Desolado o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar, em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.

Depois de muito caminhar, encontrou numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:

“Dá-me um pouco de comida e de água pois estou exausto e já não posso conseguir alimento para minha própria sobrevivência”.

Condoído, Etu serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.

Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etu que preocupado, velava por seu sono.

Já refeito, o velho perguntou:

“Que fazes sozinho no interior desta floresta? Não sabes por acaso que ela é sagrada e que só os iniciados podem penetrá-la?“

“Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito repugnante e minha feitura impede que as pessoas permitem que me aproxime delas!” Replicou a ave.

“Tua feitura exterior nada é, comparada com tua beleza interior. Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência!”

Pegando pó de efun, o velho que outro não era que o próprio Oblatá, soprou sobre o corpo de Etu, deixando-o, a partir de então, todo pintado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:

“A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Orixás, Nada poderá ser feito sem tua colaboração e como sinal desta importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o oshu, símbolo da aliança formalizada entre o iniciado e seu Orixá. Possuirás além disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se espalhará sobre a Terra”.

Por este motivo a galinha d’Angola possui o corpo coberto de pintinhas brancas e carrega sobre a cabeça uma crista de forma cônica, assemelhando-se ao iniciado durante o ritual de iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciáticas é indispensável e todos os Orixás a exigem em seus rituais.





ITAN TI ODÙ OFUN



Orishalá por adquirir o costume de embriagar-se, caiu em desgraça diante de Olofin que, como castigo, impôs-lhe o descrédito e o desrespeito dos homens.

Por onde passasse, era apontado como ébrio e irresponsável e as mesmas pessoas que antes lhe prestavam reverências, agora lhe viraram as costas e riam de sua presença de forma irreverente e zombeteira.

Cansado de tanta humilhação, o Orixá resolveu buscar auxílio no oráculo de Ifá e na consulta surgiu Ofun Meji que além do sacrifício de praxe, proibiu que voltasse a se aproximar de emu.

O sacrifício exigido era composto de uma ovelha, duas galinhas, um eleke de contas brancas, panos brancos e dezesseis penas de ekodide.

Depois de oferecidos os bichos a Elegbara, Orishalá teve que envolver-se em panos brancos e arrumar as dezesseis penas ao redor de sua cabeça. Isto foi feito antes do nascer do Sol e o Orixá foi então, com o eleke no pescoço, colocar-se no alto da montanha que ficava na entrada da cidade.

Na alvorada, os raios do Sol nascente surgiram por trás de Orishalá e passando entre as penas causaram a impressão de que labaredas de fogo saiam de sua cabeça. Apavorados diante de tal visão, os moradores da cidade lançaram-se ao chão gritando aterrorizados” ”Hekpa Baba!”E todos mantinham os rostos colados sobre o solo.

Foi então que o poderoso Orixá, livrando-se do vício da bebida pode recuperar o prestígio entre os homens e as graças de Olofin.

Por este motivo, os filhos de Orishalá tem o emu como uma das suas principais interdições, não devendo sequer permanecer onde se quer esteja sendo consumido por seres humanos.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Owonrin Meji fazia parte do elenco de Oduduwa e vivia em sua companhia e de seus irmãos, num lugar lá no alto.

Ele era por demais violento, atacava indiscriminadamente homens e animais e não hesitava em abater maldosamente a quem avistasse.

Descontente, Oduduwa mandou chamá-lo a sua presença mas, temendo ser castigado, Owonrin Meji refugiou-se sobre a Terra.

Descoberto a esconderijo, Oduduwa ordenou que se transformasse em Sakpata e que passasse a viver para sempre na Terra em que vivem os homens e os bichos. É por isso que, sempre que alguém faz um juramento sobre Sakpata, deve recolher uma pitada de terra do chão e engolir.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Um dia Kpo (*) disse a Sonu (*): “Eu gostaria de conhecer a tua casa.

Sonu respondeu-lhe no entanto, que aquilo não seria muito fácil.

Tempos depois os dois amigos voltaram a encontra-se casualmente e Kpo disse: “Amigo Sonu, eu vou aproveitar a ocasião para acompanhá-lo até sua casa e assim afinal, poderei conhecê-la.”

Os dois seguiram então em direção à casa de Sonu e, logo que a avistaram, Kpo já sabendo sua localização, resolveu voltar.

Diante do ocorrido, Sonu ficou muito preocupado: “Kpo só queria saber onde fica minha casa, seu procedimento é muito ruim e eu não confio nem um pouco em seu caráter. É melhor que eu consulte Ifá para conhecer suas verdadeiras intenções.”

Na hora da consulta, Owonrin Meji apresentou-se transmitindo a seguinte mensagem: “É necessário que me tragas folhas de palmeiras ainda verdes e que me entregues o pano estampado que te serve de vestes neste momento. Eu oferecerei um sacrifício em teu nome, mas terás que mudar de residência.”

Quando Sonu lhe entregou as folhas de dendezeiro, Owonrin Meji embrulhou-as no pano estampado e ordenou que, naquela noite, colocasse o fardo sobre a esteira em que costumava dormir e que fosse se esconder num lugar próximo onde pudesse, em segurança, assistir o que iria acontecer.

Sonu seguiu integralmente as orientações, durante a noite, Kpo chegou sorrateiramente e aproximando-se, saltou sobre o feixe de folhas que julgava ser Sonu adormecido, abocanhando-o furiosamente.

Os espinhos existentes nos talos das folhas penetraram profundamente em suas patas e em seu focinho. Espantado, Kpo arrancou os espinhos e o sangue jorrou, enquanto os ferimentos começaram a coçar terrivelmente.

Desesperado com a coceira, Kpo cravou as garras com toda a força no próprio focinho, fazendo com que os ferimentos abrissem mais e a coceira aumentasse. Quando mais Kpo se coçava, mais se dilacerava e mais insuportável se fazia coceira de suas feridas.

O sangue jorrava abundantemente sobre a terra e, em pouco tempo, enfraquecido pela hemorragia, o animal tombou sobre o solo.

Enquanto teve forças, se coçou de forma tão furiosa que seu focinho ficou completamente descarnado. Não resistindo ao sofrimento e a hemorragia, Kpo acabou morrendo, vítima de sua própria maldade.

Seguro em seu esconderijo, Sonu bradou ileso e feliz: “E je un sanananana!” (Kpo atirou-se sobre os espinhos e os espinhos o mataram!)

Foi assim que, com a ajuda de Ifá, Sonu livrou-se de seu inimigo.

(*) Leopardo.

(**) Onça pintada.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Lin (*) havia declarado guerra sem tréguas a Ta (**). A árvore, cheia de medo, foi consultar Ifá a quem perguntou: “Veja só, Lin me declarou guerra, mas ela possui uma tropa muito numerosa e eu sou sozinho! O que devo fazer para evitar tal guerra?”

Owonrin Meji, surgindo na consulta determinou: “Pegue alguns de seus filhos (galhos e ramos) e com eles faça cacetes, pilões gamelas que deverão ser colocadas em sua casa antes que decorram sete dias.

No sétimo dia, os grãos de milho, em grande quantidade, atacaram Ta e foram caindo, aos montes, nas bocas dos pilões, pensando que com isto iriam sufocar a árvore. Tá e seus ramos transformados em cacetes nada mais tiveram a fazer, que socá-los, transformando-os em farinha.

Foi assim que a árvore Ta, triunfando sobre os inimigos, em regozijo, pôs-se a cantar: 

Ta-tin huwa e wu li hwã to egbe.

O Wele-Meji! Ahwã towe ja we na wu me tõ!

(Atati esmagou o milho na guerra de hoje.

O Owonrin Meji! Que tua guerra seja sempre vitoriosa!).

(*) espiga de milho.

(**) certo tipo de árvore.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Existem duas qualidades de Sakpata, um chamado Zunxolu, Rei da Floresta, é selvagem e o outro, chamado Je-Xolu, Rei das Pérolas, é doméstico.

Je-Xolu possuía duzentos cavalos e igual número de bois, galinhas d’Angola, igbis, galinhas e galos caipiras, cabritos, cães, gatos e porcos. Era nesta época solteiro e, todo animal que começasse a criar reproduzia-se abundantemente, mas por proibição de Owonrin Meji, signo pelo qual veio ao mundo, estava impedido de abater qualquer animal.

Certo dia um desconhecido, abatido pela fome, bateu em sua porta e Je-Xolu,, não tendo como alimentá-lo, sacrificou uma galinha, oferecendo-a ao estranho.

No outro dia surgiu outro estranho, ao qual foi oferecido um cabrito. No outro dia a um terceiro, foi oferecido um porco, a um quarto, um cavalo e depois, a um outro, um boi.

Desta forma foi sendo abatido um animal de cada espécie, até que chegou a vez da galinha d’Angola que, na hora de ser sacrificada, pôs-se a gritar: “Tu vais me matar! Tu vais me matar!” Com estes gritos todos os animais despertaram.

Na manhã seguinte, os animais se reuniram num lugar secreto e constataram que, de cada espécie, faltava uma unidade e concluíram: “é isto o que nosso dono pretende fazer a todos nós, ele nos matará a todos”

Naquele tempo, Zunxolu nada possuía de seu, nem jamais fizera qualquer prece a Oduduwa para que o grande Vodun dispensasse alguns bens em seu favor.

No dia exato em que os animais pertencentes a Je-Xolu estavam reunidos, Zunxolu passou pelo local, havendo se alimentado somente de ervas, por todo o caminho, cujos restos ia abandonando em seu percurso.

Os animais vendo as folhas e raízes caídas no chão, foram seguindo a trilha, acabando por chegar a casa de Zunxolu que, neste exato momento, tinha diante de si uma galinha d’Angola que se destinava a um sacrifício. Vendo a casa invadida por tantos animais, entre os quais inúmeras galinhas d’angola, Zunxolu pegando um pouco de oshe- dudu (*) salpicou de preto sua galinha para que não se confundisse com as muitas que acabaram de chegar. É preciso que se saiba que, naquela época, as galinhas d’angola eram inteiramente brancas.

Quando todos os animais acabaram de entrar em sua casas, Zunxolu tocou-os todos para dentro de um grande aposento que possuía, trancando-os. Depois, munido de um sino, pôs-se a badalar para apressar alguns animais que pudessem ter se atrasado no caminho.

No dia Seguinte, Je-Xolu dando falta de seus bichos, resolveu sair para procurá-los e, seguindo as pegadas chegou a casa de Zunxolu, a quem, depois de saldar, perguntou: “Todos os meus animais desapareceram, não terá você visto para onde eles foram?”

“Não, tenho aqui apenas uma galinha d’Angola que crio para oferecer em sacrifício!” respondendo o outro, mostrando sua galinha d’Angola.

Todos os animais presos no quarto, ouviram a conversa e, apesar de reconhecerem a voz de seu verdadeiro dono, ficaram bem quietos para não terem que segui-lo de volta, correndo o risco de serem posteriormente sacrificados para servirem de alimentos para alguém.

Foi assim que Zunxolu ficou com tudo e Je-Xolu sem nada. É por isto que quando a varíola entra numa casa não se deve imolar qualquer animal, nem permitir que corra sangue no chão. Se esta regra não for obedecida, a fúria da doença será incontrolável e ela transformando-se em epidemia, se alastrará por todo o país.

Não se deve violar a interdição de Sakpata.

(*) Sabão preto - Sabão da Costa.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Todo o fogo se apaga, mas o fogo que ilumina a cauda do papagaio Kese (*) , não se apaga jamais.

E isto que é revelado através deste signo: Todas as evidências de por meios naturais, sobrepor-se aos inimigos. Pobreza e miséria serão superados de forma que haja condições de se fazer os sacrifícios necessários.

Fogo mantinha uma rivalidade com Chuva, Sol também tinha rivalidade com Chuva e a mesma rivalidade existia entre Chuva e o papagaio Kese.

Foi determinada uma data para que a querela existente fosse decidida através de um combate e, no dia determinado, os três inimigos de Chuva lançaram-se simultaneamente sobre ela.

Chuva pôs-se a cair copiosamente, visando desta forma derrotar seus inimigos.

Sol, encoberto pelas nuvens não pode brilhar e Fogo foi extinto pelas águas de Chuva. Somente Kese não foi afetado pelo inimigo e suas penas vermelhas, apesar de molhadas, conservaram todo o seu esplendor, Kese saiu incólume do combate.

Foi a partir deste dia que suas penas vermelhas passaram a ser utilizadas como símbolo de vitória.

(*) Papagaio de rabo vermelho, o mesmo que o odide dos Yoruba. As penas de sua cauda (eko dide) são consideradas sagradas.



Cânticos de Ifá referente a este Itan: Olu lebe lobe Ina

Olu lebe lobi Orun,

Olu lebe lobi eko,

Ojo ki ilo ko pa ina eko.



Tradução: O Grande Senhor criou o Fogo,

O Grande Senhor criou o Sol,

O Grande Senhor criou o Ekodidé,

A Chuva que cai, não pode apagar o fogo da cauda de Kese.





ITAN TI ODÙ OWONRIN



Havia naquele tempo, dois homens que foram colocados em confronto pelo destino em situações absolutamente diversas.

O primeiro deles se chamava Próspera na Tua Proximidade e era um rico senhor, comerciante de escravos. O segundo homem, mísero escravo, recebera o nome de Nada pode impedir que Prospere Quem tem que Prosperar.

O pobre escravo havia sido comprado como mercadoria de um fazendeiro vizinho, uma galinha d’Angola que, imediatamente começou a dar cria enchendo seu dono de pintinhos. O infeliz, imaginou logo que, se vendesse os filhotes de sua galinha d’Angola, poderia, em pouco tempo, obter dinheiro suficiente para comprar sua alforria.

O malvado senhor, pressentindo as intenções do escravo e não querendo abrir mão de seus serviços, ordenou-lhe que fosse ao mercado e, aproveitando-se de sua ausência, matou o animal e toda a sua prole.

Ao retornar, o escravo deparou desolado com a mortandade provida por seu amo e, tratou de limpar os bichos mortos e, depois de defumá-los, guardou-os entre as palhas que cobriam a miserável choupana em que habitava.

Dias depois, o mesmo vizinho presenteou o escravo com uma ovelha prenhe que imediatamente começou a dar crias o que recendeu as esperanças do escravo.

Mas a história voltou a se repetir e novamente os animais foram abatidos pelo malvado senhor de escravos. O infeliz servo, agindo da mesma forma anterior, limpou e defumou os animais guardando-os junto com os demais.

Ao saber do acontecido, o bondoso vizinho resolveu presenteá-lo, semanalmente, com uma pequena quantia em dinheiro para ser economizada até atingir o valor do resgate.

Certo dia, surgiram na cidade alguns homens que transportavam a ossada de um príncipe morto em combate, num lugar muito distante dali. Estes homens já vinham viajando há muito e muitos dias e seus recursos financeiros esgotaram-se por completo.

Sem condições de prosseguirem em sua viagem, resolveram colocar a venda os ossos do príncipe, garantindo que aquele que os apresentasse ao rei, seria regiamente recompensado.

Novamente o malvado maquinou uma forma de impedir a libertação de seu escravo e pegando todo o dinheiro por ele acumulado, comprou a ossada, apresentando-se depois e dizendo: “Tomei a liberdade de lançar mão do teu dinheiro para comprar os ossos do príncipe morto em combate. Posso garantir, desta forma que, se um dia conseguires dinheiro suficiente para sua alforria e mais uma boa quantia para uma viagem até o palácio real, nosso rei irá recompensar-te de tal forma, que a segurança de tua velhice estará garantida.

O jovem viu mais uma vez seus sonhos serem desfeitos e, conformado com sua desdita, guardou os ossos junto com os animais defumados.

Passaram-se os anos, e um dia uma epidemia assolou a capital do país. O Rei, tratou de consultar seu adivinho e na consulta surgiu Owonrin Meji que exigiu um sacrifício no qual era necessário uma certa quantidade de galinha e pintos d’Angola, assim como de ovelha e carneirinhos defumados a mais de três anos.

Os mensageiros do rei saíram, país afora, em busca dos ingredientes necessários ao ebó que terminaria com a moléstia que dizimava a população e, depois de muitos dias de busca infrutífera, chegaram a cidade onde viviam nossos heróis e, no mercado, anunciaram as suas pretensões.

Ao ouvir o que desejavam aqueles homens, o escravo apresentou-se e colocou a disposição seu estoque de carnes defumados e o chefe dos mensageiros ordenou-lhe que recolhesse tudo de seu e que os acompanhasse até o palácio real, o que não pode ser evitado pelo senhor de escravos que nada era diante da autoridade dos arautos reais.

Desta forma, o pobre escravo juntando seus poucos pertences, dirigiu-se ao palácio real, onde entregou ao Babalawo do rei o material necessário ao ebó determinado.

Feito o ebó, o resultado foi surpreendente e muita gente já desenganada, recuperou a saúde como que por milagre.

Muito contente, o rei mandou que fosse dado ao jovem escravo, além do valor correspondente a sua alforria, o direito a um terço dos impostos arrecadados no reino, tornando-o desta forma, muito rico.

Pouco tempo depois, o ex-escravo relatou à sua majestade, a passagem relativa aos ossos do príncipe que ainda estavam em seu poder, o que deixou o rei muito emocionado por tratar-se dos despojos de seu próprio filho. como recompensa por mais este obséquio, o rei concedeu ao jovem, a mão de sua própria filha em casamento, ficando assegurado que, após sua morte, caberia ao rapaz o reinado por inteiro.

Rico e poderoso, o mancebo mandou que fossem buscar seu antigo amo e, ao contrário que se esperava, demonstrando bondade e compreensão, soube perdoar todo o mal que lhe foi feito oferecendo-lhe um lugar de destaque na corte real.

Este caminho determina a realização de um sonho, através de persistência, resignação e bondade.





ITAN TI ODÙ EJILASHEBORA



Desde o seu nascimento, Xla sofria de fome insaciável e nem possuía garras para capturar outros animais.

Um dia, contemplando com sua vida indagou: “Todos os animais estão aptos a obter seu próprio alimento, ao passo que eu fico impotente, sem meios de capturar alguma caça que possa saciar minha fome!...

O que terei feito a Mawu para ser tão duramente castigado?”Assim pensando, resolveu que deveria consultar Ifá.

Na consulta, Ifá fez com que surgisse Iwori Meji em seu Kpoli, determinando que Xla trouxesse garras de ferro, duas galinhas, um cabrito e doze búzios para oferecer em sacrifício.

“Como?” Perguntou Xla. “Se não tenho o que comer, como posso oferecer tal sacrifício? Se eu tivesse um cabrito, por certo que o teria comido e não precisava te consultar!”

Aborrecido, Xla seguiu seu caminho e sentindo-se cansado, juntou um monte de folhas, para descansar sobre elas.

Ao voltar para casa, passou por um campo onde pastavam muitos cabritos, cujo dono havia se afastado, Xla imediatamente pegou um dos cabritos, olhou para um lado, olhou para o outro... e um segundo cabrito foi surrupiado.

Satisfeito com sua conquista, Xla partiu cantando: “Estou indo para Gbodo! Eu, Ajanu Xla... Estou indo para Gbodo... Existem tantos animais em gbodo... Estou indo para lá!”

Depois de negociar um dos cabritos, Xla apresentou-se diante de Ifá portando um cabrito, duas galinhas, doze búzios e dez garras de ferro, Ifá recebendo as oferendas, fez o sacrifício e, devolvendo as garras de ferro, recomendou que as mantivesse escondidas entre os dedos, de forma que não tocassem o chão. Na manhã seguinte ao despertar, notou com enorme alegria, que as garras haviam aderido, cada uma a um dedo, como se ali estivessem desde o seu nascimento.

Caminhando feliz pela floresta, Xla encontrou Agbanli (*), seu companheiro de folguedos e que, até então, ignorava a existência das garras.

Como era de costume, puseram-se a correr e a brincar e, num determinado momento, a hiena cravou suas afiadas garras na garganta de Agbanli que, debatendo-se implorava: “Sheevo!... não faça isto comigo!”

“N’kan Wooo-Meji “Respondeu Xla, “Eu consultei Iwori Meji!” 

Agbanli chorava: “Sheevo! Sheevo!” E Xla uivava “N’kan Woo-Meji!”

Foi sob este signo que a hiena aprendeu a comer carne e, a partir de então, Agbanli, o antílope, repete na floresta: “Sheeevo! sheeevo!”

(*) Antílope considerado sagrado por trazer, no dorso, manchas que se assemelham as marcas do Odu.





ITAN TI ODÙ EJILASHEBORA



Ejilashebora, (Iwori Meji), é o signo sob o qual a hiena veio ao mundo.

Ainda muito jovem, a hiena padecia de fome constante. Para aliviar-se deste sofrimento, resolveu consultar Ifá e, durante a consulta, foi prescrito um ebó composto de três galinhas e três cabaças.

Com o material pedido, deveriam ser feitos três ebó distintos. o primeiro, feito pela manhã, foi despachado no brejo; se como caminho fosse encontrado qualquer tipo de caça, não deveria ser tocado.

Voltando do pântano, Xla deparou com um elefante morto e apesar da proibição, pensou em comer um bom pedaço, dizendo: “Como poderei com a fome que estou, deixar este elefante sem tocá-lo?” Legba, que naquele momento passava por perto, interviu dizendo a hiena que abandonasse seu intento, pois a desobediência à proibição de Ifá, faria com que o ebó não desse resultado. Desolado, Xla abandonou a carniça, pondo-se novamente a caminho.

Ao meio dia, ele levou o segundo ebó ao pântano e ao voltar, encontrou um carneiro morto. Novamente instigado pela fome, já se propunha a devorar o animal, no que foi novamente impedido por Legba.

A noite Xla levou o terceiro ebó e na volta, encontrou um antílope morto, Legba então apareceu e disse: “Aproxima-te e coma à vontade, de hoje em diante nunca mais padecerá de fome!”

Foi a partir daquele dia, que a hiena nunca mais conheceu o sofrimento da fome.





ITAN TI ODÙ EJILASHEBORA



Ejilashebora foi o signo que surgiu quando Xla e o homem vieram ao mundo.

O Xla encontrou-o na floresta e seu adivinho ordenou que oferecesse garras de ferro em sacrifício e, como a hiena se negasse, o sacerdote reuniu tudo o que receitara, e ofereceu o ebó as suas próprias custas.

Um dia Xla sentia uma fome terrível! e nada encontrava para comer. Caminhando pela floresta, encontrou um adivinho que se fazia acompanhar por um menino.

“Es tu o meu Bokonõ! Dá-me algo para comer pois fazem muitos dias que não coloco nada em meu estômago!” Exclamou a hiena.

“Como conseguir carne neste local?” Indagou o Oluwo. “E mesmo que surgisse alguma caça, tu és caçador, e não eu!”

Xla então respondeu: “Vejo uma bela caça caminhando ao teu lado. E a esta caça que estou me referindo. Encontrei muita gente em meu caminho, sem nada lhes pedir, mas como tu és o meu Bokonõ, tens a obrigação de me ajudar!”

Assustado, o sacerdote falou: “Sabes muito bem que os Bokonõ existem para salvar as pessoas e não para conduzi-las à morte. Se eu tenho alguma coisa que sirva para salvar tua vida, podes pegá-la!” Imediatamente, Xla saltou sobre o menino devorando-o, enquanto o Bokonõ gritava estarrecido: “Xla devorou o menino!”

Depois de saciada a fome, a hiena pôs-se a lamentar:

N’dubulu de!

N’du buulu de!

(Eu comi aquilo que ninguém pode comer)!

Todos aqueles para quem surgir este signo, devem encher-se de desconfiança e cuidar para que o mal ceda lugar ao bem.





ITAN TI ODÙ EJILASHEBORA



No país de Tapa, apareceu um homem que, em pouco tempo, ficou famoso e conhecido pelas bravatas que se dizia capaz de realizar.

Sabendo de sua existência, Lonfin, rei do país, mandou intimá-lo à sua presença, para puní-lo ou premiá-lo, de acordo com o seu merecimento.

Chegando a presença do rei, o estranho não se intimidou e, de forma audaciosa e irreverente, começou a descrever os prodígios de que era capaz.

Dentre as vantagens que afirmava ser capaz de fazer, uma deixou o rei muito curioso. Segundo ele mesmo, possuía a capacidade de plantar sete inhames assados, fazendo com que, em poucos dias, os sete brotassem, deixando ramas e folhas.

Indignado com tal absurdo, o rei ordenou que o portento fosse realizado sob a promessa de que, se desse certo, faria do estranho um homem muito rico e, se ao contrário, os inhames não brotassem no prazo de vinte e um dias, mandaria cortar-lhe a cabeça.

Vendo perigar sua vida, o homem resolveu consultar Ifá, sendo-lhe exigido um ebó composto de um galo, um preá e todas as coisas que são do agrado de Elegbara.

Depois de oferecer o sacrifício, o homem foi aos campos do rei e, num sítio que ficava próximo a uma grande cachoeira, abriu sete pequenas covas, nas quais plantou sete inhames que o rei mandara assar por pessoas de sua confiança, entregando-os pessoalmente nas mãos do aventureiro.

Uma forte guarda foi colocada dia e noite no local, para evitar que o homem substituísse os inhames assados por outros bons para serem plantados.

No terceiro dia, depois do plantio dos inhames. Elegbara se apresentou diante do homem, entregando-lhe sete inhames já brotados para substituírem os que foram enterrados.

“De que forma - perguntou o infeliz - poderei substituir os inhames, se a guardas real não se afasta um minuto sequer do local da plantação.

Elegbara apenas lhe disse: “Vá para o local e fique atento, quando surgir a oportunidade, substitua os inhames assados por este brotados.

O homem colocou os inhames num saco e dirigindo-se ao local determinado, permanecendo escondido, enquanto aguardava sua oportunidade de agir.

Depois de algumas horas de espera, viu quando Elegbara se aproximou dos guardas e falou: “Vejam! O homem que plantou estes inhames assados que vocês estão agora vigiando, não passa de um vigarista mentiroso que na verdade ele pretende é roubar a minha fama de realizar eventos extraordinários. Os inhames ai plantados jamais brotarão e, sabedor disto e do castigo que lhe será imposto pelo rei, já deve ter fugido, encontrando-se agora, muitas milhas de distância deste local. Se querem testemunhar um verdadeiro milagre, aproximem-se da cachoeira que eu farei com que suas águas desobedecendo todas as regras da natureza subam, ao invés de caírem como sempre fizeram.

Curiosos, os guardas abandonaram seus postos, reunindo-se todos em frente a cachoeira, para assistirem ao milagre anunciado por Elegbara que, aproveitando-se da confusão desapareceu de vista. Os guardas aguardaram durante horas o evento prenunciado por Elegbara e, como nada acontecesse e as águas continuassem a cair como sempre resolveram voltar aos seus postos.

O tempo em que estiveram afastados foi mais que suficiente para que o esperto aventureiro substituísse os inhames e, quando os guardas chegaram aos seus postos, notaram com espanto que brotos de inhame já despontavam na superfície da terra.

Comunicado do acontecido, o rei resolveu verificar pessoalmente a veracidade do fato e, três dias depois, quando chegou na roça, deparou com todos os inhames já brotados e com as ramas repletas de folhas verdes que se espalhavam pelo chão. Maravilhado, mandou chamar o aventureiro, a quem confiou o cargo de primeiro ministro do reino, tornando-o rico e poderoso como prometera.

Este caminho indica que a pessoa para quem surgir, deve usar de astúcia e audácia para atingir o objetivo pretendido, além de oferecer o sacrifico determinado.





ITAN TI ODÙ EJILASHEBORA



Houve uma época em que Aganju reinava sobre uma grande extensão de terra e Shangô era seu primeiro ministro, submetido então às suas ordens.

Formaram então, uma nação muito poderosa, que havia dominado por força de seus exércitos, a diversos povos, que tinham que pagar periodicamente tributos de guerra, em forma de todos os tipos de alimentos.

Aganju, possuía muitos e fiéis amigos e Shangô, mulherengo como ninguém, tinha um grande número de esposas e concubinas.

Periodicamente, os povos dominados por Aganjú enchiam barcos com alimentos e enviavam-nos, rio a baixo, em direção a capital do reino.

Shangô, reuniu um grupo de homens chefiados por um de sua inteira confiança, encarregando-os de interceptar os barcos de alimentos destinados a Aganjú, o que acabou por criar um problema muito sério.

Interrompido o abastecimento de gêneros alimentícios na capital, a fome passou a habitar o palácio real, onde viviam apenas nobres e guerreiros, que nada produziam e que serviam apenas de sustentáculo ao sistema estabelecido.

Preocupado com a situação, Aganjú enviou alguns guerreiros de sua confiança para, de forma secreta, verificarem o que estava acontecendo. Os homens foram se espalhando, escondidos por toda a margem do rio, em determinado momento, viram uma grande embarcação carregada de quiabos e muitos sacos de farinha, aproximando-se ao sabor da corrente.

Repentinamente, os homens de Shangô, chefiados por um tal Ogan, aproximaram-se da margem do rio e, esperando que a embarcação se aproximasse, lançaram cordas de forma que o curso do barco fosse interrompido. Imediatamente o cargueiro foi puxado até a margem e ali, depois de descarregado, foi totalmente destruído para não deixar vestígios do acontecido.

Perpetrado o roubo, os guerreiros de Aganju lançaram-se sobre os ladrões que lograram fugir com a exceção de Ogan que foi capturado e conduzido a presença do rei.

Apresentado ao povo como responsável pelo desaparecimento da comida, Ogan foi condenado a tocar Ilú, dia e noite, para que as pessoas dançassem enquanto cantavam:

Lu manlo, emanlo,

Lu manlo, emanlo!

Mojee mofile

Eni oma mofile,

Mojee mofile!



Tradução: Baila e faz bailar,

Baila e faz bailar!

Em pagamento pela comida

Que foi consumida

E que nos pertencia!



Foi a partir de então que Shangô tornou-se rei em suas terras, libertando-se do poder de Aganjú que, para poder receber os alimentos a que têm direito, deve usar dos atributos de Shangô, uma vez que tudo o que lhe é endereçado, passa primeiro diante deste Orixá.





ITAN TI ODÙ OLOGBON



Um Bokono chamado Mi Va Sãnã So Yi (Bela talha que se leva ao poço), consultou para dois jovens que vieram ao mundo e que se chamavam Talha e Água, ordenando-lhes que fizessem sacrifícios, mas os jovens se negaram. O signo que surgiu na consulta foi Oyeku Meji.

Antigamente, os homens não possuíam qualquer tipo de recipiente aonde pudessem recolher água. Suas mãos não eram suficientes para tal função. Tentaram com folhas, mas estas também se mostraram insuficientes.

Em busca de uma solução, consultaram Ifá, que lhes mandou fazer um sacrifício composto de uma enxada, uma galinha, um pombo e um cabrito.

Os homens trouxeram os elementos necessários a Ifá, depois de sacrificar os animais, entregou-os aos homens com a seguinte orientação: “Vocês deverão arriar este ebó nas margens de um rio, numa distância de três vezes vinte e cinco passos da água. Ali deverão cavar um poço que será proporcional a vossa altura.”

Os homens mediram a distância e depois, começaram a cavar o poço, enquanto cantavam:

“Fa we zon mi

Ogbe zon!

Du ma le Kpoli we zon mi,

Gbe zon!”



Tradução: “Foi Ifá quem me deu esta ordem,

E o trabalho da vida!

Foi Kpole quem me deu esta ordem,

E o trabalho da vida”.

Eles cavaram o buraco e logo que sua profundidade atingiu o tamanho de um homem, encontraram um novo tipo de terra que se grudava na enxada. Foi desta forma, que Oyeku permitiu a descoberta da argila.

Curiosos com aquele novo tipo de terra, os homens recolheram uma porção da mesma, com a qual modelaram uma tigela que encheram d ‘água, observando então, que o líquido não vazava.

Considerando aquilo como um presente de Ifá, carregaram uma grande porção de argila para a aldeia e com ela, revestiram as paredes de suas casa, que se tornaram lisas e brilhantes, modelaram vários tipos de vasilhames, que lhes permitia carregar água melhor que em suas próprias mãos.

No outro dia, foram prestar contas a Ifá e lhe contaram sobre a descoberta, reclamando somente, que os objetos que fabricaram não eram muito sólidos e deformavam-se com muita facilidade. Ifá lhes disse então: “Que cada um de vocês recolham dois feixes de lenha. Cada um me fará um pote bem fundo, que me será entregue com dois caurís.

No dia seguinte, os homens se apresentaram diante de Ifá munidos de dois feixes de lenha, um pote de argila e dois búzios. Ifá ordenando-lhes que marcassem nos potes um sinal, que permitisse sua identificação, depois do que foi feito. Mandou cavar uma grande cova, para que nela fossem colocados os potes cobertos de lenha. Quando tudo estava pronto, Ifá incendiou a lenha, transformando tudo numa enorme fogueira e ordenou que todos fossem embora e que retornassem depois de três dias.

No terceiro dia, os homens retornaram e encontraram os potes enegrecidos, misturados a um monte de cinzas.

Cuidadosamente, procuraram, cada um pelo seu e, depois de encontrá-los viram com alegria, que haviam se tornado duros e resistentes, permitindo que a água ficasse presa dentro deles, por tempo indeterminado.

Foi desta forma que a jarra e a água, foram punidas por não haverem feito os seus sacrifícios. A jarra, para trabalhar, tem que ser queimada e a água, para cumprir seu destino, tem que ser aprisionada, enquanto nós homens, cantamos:

Ta lo ko nna logbõ o?

Oye!

Oye la do a wa gbo?

Oye!

Ta lo wo enia logbõ?

Oye!



Tradução: Quem fez com que os homens se tornassem engenhosos?

Oyekú!

Quem fez com que os homens se tornassem criativos?

Oyekú





ITAN TI ODÙ OLOGBON



Ogbe Meji e Oyekú Meji são filhos do mesmo pai; Olonfin.

Foi ele, quem enviou Oyekú Meji à Terra, para vigiar os homens, enquanto Ejiogbe, recebia a guarda de Ló.

Uma vez instalados na Terra, Oyekú Meji usurpou todos os nomes, todos os títulos que seu irmão mais velho possuía em Ifé, principalmente os seguintes:

Azin duto nõ du butebu - (Aquele que come o amendoim e sua casca).

Fio du to nõ butebu - (Aquele que come o fiõ e sua casca).

Nun ta do ku nu we nõ na xosu - (Ele não oferece ao rei animais decapitados)

Nun na xosu to nõ na dokpo a - (Ele não precisa dar ao rei, nenhuma porção de coisa alguma)

Diante disto os homens começaram a ficar alarmados, pois sabiam muito bem que o verdadeiro rei era Ejiogbe e pediram então a Xevioso, que trouxesse o verdadeiro rei a Terra.

Quando Ejiogbe chegou, descobriu que até o tambor que possuía em Ifé e que era tocado em sua honra, Oyekú possuía igual na Terra.

Oba oto toto

Oba oro lolo

Oni ba n’te Lisa layo, e Ejiogbe!

Woni Oba we!



Tradução: Desconhecida.



(Estas são as palavras ditas pelo tambor de Ejiogbe e que hoje em dia, o trovão repete de forma que possamos perceber, de maneira muito confusa).

Furioso, Ejiogbe ordenou a Xevioso que exterminasse tudo o que vivesse sobre a Terra e desta forma, devido a falta cometida por Oyekú, foi criada a morte.

A partir deste dia, Oyekú assumiu o comando sobre tudo o que está morto e Ejiogbe voltou a reinar sobre as coisas vivas.





ITAN TI ODÙ OLOGBON



Certo dia, um homem chamado Sheiwomo, decidiu comemorar o aniversário da morte de seu pai.

Para que tudo corresse bem durante a cerimônia, buscou a orientação de Ifá, que lhe disse: “Se é teu desejo comemorar a morte de teu pai, deverás oferecer um sacrifico de dezesseis carneiros.

Quando faltarem dezesseis dias para a cerimônia, deverás sacrificar o primeiro carneiro e dai por diante, um por dia, até que, no dia do ritual, o décimo - sexto seja abatido”.

O homem, no entanto, negou-se a fazer o sacrifício.

O dia chegou e a cerimônia teve inicio com a saída dos Kuvito. Logo que começaram a sair, o pai de Sheiwomo surgiu diante de seus olhos.

Ao soarem os tantãs, o espírito resolveu levantar-se para realizar sua dança ritualística.

Atrás do trono de madeira onde estava sentado, havia uma árvore de galhos muito baixos. Ao erguer-se, o Egun prendeu, num dos galhos da árvore, o pano que cobria sua cabeça. Na tentativa de livrar-se, sacudiu furiosamente o galho, fazendo que caísse sobre si toda a sujeira ali acumulada, poeira, folhas secas e teias de aranha.

Vendo isto, o filho correu em socorro do pai e passando a mão em sua cabeça, começou a retirar dali, as teias de aranha.

Ao ser tocado, o Egun segurou o rapaz pelo braço, dizendo: “Agora que me tocastes, terás de vir comigo”! E conduziu-o para o mundo dos mortos.

O galho da árvore não era outro senão Legba, que se metamorfoseou, para castigar o desobediente.



Cântico do Itan: Sheiwomo!

O shey, shey!



Tradução: Não compreendes que se me tocares, Eu te levarei para o local de onde vim!



(Se alguém tocar num Egun, deverá partir em sua companhia. Este Cântico é muito conhecido pelos Egun).





ITAN TI ODÙ OLOGBON



Ejiogbe é o primeiro dos quinze Odu, que tem todos, o mesmo pai, mas nem sempre foi assim.

Naquele tempo, uma inundação anual expulsava os homens de onde se encontrassem e Olofin, encarregava Oyekú de arranjar outro lugar para eles.

Numa destas buscas, Oyeku passava por uma plantação de milho branco que já se encontrava maduro. O proprietário da plantação que vigiava de longe, começou a gritar e a correr, pensando tratar-se de um ladrão. Ao chegar, reconhecendo Oyeku, jogou-se ao solo implorando: “perdoa-me, eu não sabia que eras tu!”

Oyeku, com pena do lavrador, não só perdoou-o como resolveu proteger o milho da ação dos homens e dos pássaros, garantindo àquele homem, que jamais ficaria pobre.

Como lembrança deste acontecimento, todos devem cantar:



Abobo n’jole.

Abobo kpakpada n’jole.

Sha woro bobo n’jole.

Sha woro.



Tradução: Os gritos podem espantar o ladrão.

Os gritos não podem espantar a Terra. (quer dizer: Oyekú).





ITAN TI ODÙ OLOGBON



Naquele tempo, Orunmilá era pouco conhecido, muito embora já realizasse adivinhações com muito acerto.

Certo dia, sua mulher entregou-lhe a importância de dezesseis cauri, para que fosse ao mercado e ali adquirisse um escravo para ajudá-la nos serviços domésticos.

No caminho, Orunmilá passou por um local nas margens de um rio, onde inúmeras pessoas se encontravam pescando. Como sentisse fome, pediu aos pescadores que lhe dessem um peixe para comer e os homens lhe disseram que, se quisesse comer peixe , teria que adivinhar o total de peixes que o grupo todo já havia conseguido capturar, desde a hora em que ali haviam chegado. Sem titubear, Orunmilá lançou seu Okpele apenas uma vez e afirmou resoluto que o número de peixes capturados, era de exatamente duzentos e um.

Imediatamente, os pescadores puseram-se conferir os pescados e verificaram que haviam capturado exatamente os duzentos e um peixes anunciados pelo adivinho.

Após presentearem Orunmilá, não com um, mas com dezesseis peixes, os homens saíram pela cidade, espalhando o acontecido.

Depois de alimentar-se, Orunmilá prosseguiu em direção ao mercado e lá chegando, verificou que a importância que trouxera, dava somente para comprar um menino ainda pequeno, mas para não decepcionar sua mulher, adquiriu o pequeno servo, retornando com ele para casa.

No caminho, encontrou um grupo de caçadores, que se propunham a abater preás, com a ajuda de diversas armadilhas.

Aproximando-se, Orunmilá solicitou um preá para alimentar-se e ao seu pequeno escravo.

Novamente foi-lhe exigido, para fazer jus ao alimento, que adivinhasse o numero exato de animais abatidos, que Orunmilá, depois de lançar seu rosário, afirmou ser de duzentos e um. Conferidos os animais, verificou-se que a quantidade era exatamente a prevista por Orunmilá e os caçadores alegremente lhe presentearam com dezesseis preás, saindo em seguida espalhando por toda a cidade o feito do Oluwo.

Em pouco tempo a notícia chegou ao palácio, onde residia, em companhia do rei um velho Babalawo, cujos poderes de adivinhação já haviam deixado de existir, por serem empregados somente para a obtenção de riquezas materiais.

Preocupado com o surgimento de um novo adivinho no país, o velho mandou construir uma casa, onde fez encerrar cem donzelas e o jovem escravo de Orunmilá. A casa teve as portas e as janelas lacradas, guardas foram colocados em sua volta e todos os que trabalharam na sua construção foram decapitados, para que não informassem a ninguém o número de pessoas que estavam lá dentro.

Quando tudo estava pronto, orunmilá foi trazido à presença do rei, que lhe ordenou que determinasse o número exato de pessoas encerradas na casa.

Orunmilá imediatamente consultou seu oráculo, depois de que, disse com segurança: “Dentro daquela casa estão encerradas duzentas e uma pessoas!”

O malvado Babalawo do rei, fingindo consultar o oráculo, afirmou existirem no interior da casa, somente cento e uma pessoas e que se isto não fosse verdade, abandonaria de bom grado, sua posição de adivinho da casa real.

Imediatamente o rei ordenou que a porta da casa fosse aberta e contou pessoalmente o número de pessoas que dela saiam.

“Cem moças e um menino! Cento e uma pessoas como afirmou o meu adivinho. Esse tal Orunmilá não passa de um embusteiro e por isso será condenado a morte”!

Foi então, que o jovem escravo se manifestou dizendo: “Espere, eu sou Exú, que disfarçado num menino escravo, vim para desmascarar o verdadeiro farsante que é o Babalawo do rei. Dentro da casa encontram-se cento e uma pessoas conforme foi por ele afirmado sem nenhuma vantagem, já que preparou tudo pessoalmente. No entanto, eu Exú Elegbara, afirmo que, na hora da consulta, existiam ali duzentos e um seres viventes, pois durante a noite que ai passei em companhia das cem donzelas, copulei com todas e agora, carregam em suas barrigas uma criança, num total de cem novos seres humanos viventes.

Cem mulheres, cem crianças e eu, duzentas e uma pessoas como predisse Orunmilá.

Foi então que o rei, descobriu a manobra de seu adivinho, o expussou do palácio, nomeando Orunmilá para seu lugar e acumulando-o de presentes e honrarias. O menino escravo, passou a viver em sua companhia e Orunmilá, em agradecimento, passou a oferecer-lhe uma boa parte de tudo quanto recebe.





ITAN TI ODÙ IKA



Ajinaku (o elefante), era antigamente um animal muito pequeno. Seu desejo era ver suas forças aumentadas e com esta intenção, foi procurar um adivinho chamado Sheke Sheke La Allo Ekuru (Sheke-Sheke: ruído que produzem, aos serem sacudidas, os pequenos caramujos “Ekuru”).

Durante a consulta, apresentou-se Ika Meji, que exigiu o seguinte sacrifício: Um cesto cheio de igbis, quatro cabaças e quatro pilões. Estas coisas deveriam ser entregues a Oduduwa.

Ajinaku seguiu a prescrição e apresentou-se diante do Orixá, portando os objetos pedidos.

Oduduwa ordenou-lhe então, que enfiasse os pés nos pilões, como se fossem sapatos e que os cobrisse com um grande pano. Durante oito dias consecutivos, o Orixá fez preces pelo Elefante.

No oitavo dia, Ajinaku retirou os panos e pode verificar que os quatro pilões haviam transformado em prolongamentos de suas pernas, ficando, a partir de então, alto e forte como o vemos hoje.





ITAN TI ODÙ IKA



O rei Haussa (O Sarki), veio ao mundo sob o signo de Ika Meji.

Quando os Haussas resolveram eleger um rei, foram procurar um Bokonõ, para que os ajudassem a escolher alguém que pudesse reinar com coragem e mantendo a paz.

Feita a consulta, apareceu Ika Meji, que prescreveu o seguinte sacrifício: Dezesseis chifres de qualquer animal, dezesseis cestos, cada um com uma galinha, dezesseis ovelhas, dezesseis cestos, cada um com um pombo, dezesseis cestos com galinhas d’Angola e dezesseis sacos cheios de búzios.

Os Haussas prepararam o sacrifício e entregaram tudo ao Bokonõ, que preparou os dezesseis chifres para serem enviados a Ifá.

Pouco depois, os Haussas pediram ao sacerdote que se encarregasse da coroação, afirmando que Ifá já apontara um rei e devolvera os chifres ao Bokonõ. O adivinho então, pegou dois chifres e os colocou sobre a testa do novo rei. Imediatamente, Legba apareceu soprando sobre os cornos, que se fixaram à testa do rei, que ficou conhecido pelo nome “Usaxolu Ko u Zo” (O rei dos Haussas carrega chifres).

Devido a isto, ninguém mais respeitou o rei, tratavam-no de igual para igual, insultavam-no e chegavam mesmo a agredi-lo.

E como lembrança deste episódio, que os chapéus Haussas, tem uma ponta semelhante a um chifre.



ITAN TI ODÙ IKA



A batata doce, (dukwin), fez um talismã para o inhame, quando este ainda era muito pequeno. Com isto, o inhame cresceu e tornou-se muito maior que a batata doce.

Diante disto, a batata doce disse espantada: “Eu te fiz um talismã para que crescesses e agora estás muito maior do que eu. Deves lembrar-te no entanto, que este talismã não é igual ao que possuo. O meu permites que eu cresça como crescestes, mas evita que minhas raízes sequem e morram durante a estiagem. Este jamais te darei”.

Interpretação: O cliente ficará rico e terá muitos filhos, mas sua boa sorte poderá abandoná-lo se não entregar, na floresta, o seguinte sacrifício;

Uma galinha, um galo, uma batata doce, um inhame e vinte cauri. Os animais são soltos com vida, depois que a batata e o inhame forem arriados com os búzios ao redor.



Cânticos do Ebó: Ikú kati, kati ko ka mi,

Aro kati, kati ko ka mi,

Ofo kati, kati ko ka mi,

Olan ka ti, ka ti ko ka mi,

Ojo ka ti, ka ti ko ka mi,

Janka awo yika akao!



Tradução: Morte conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.

Fogo conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.

Miséria, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.

Doença, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.

Tempo, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.

Esta é a fuligem que envolve as espigas de milho!.





ITAN TI ODÙ IKA



Um certo adivinho, consultou Ifá para três personagens: Dekpa (madeira para a sustentação de telhados), Jokú (espécie de lentilha utilizado pelos Mina, num tipo de Jogo), e Azigokwin (feijão pintado conhecido como ekpaboro pelos yoruba).

Por ocasião de sua chegada ao mundo, estes três personagens foram juntos consultar Ifá, para saberem qual seria seu destino sobre à terra. Ifá lhes recomendou sacrifícios, que somente os dois primeiros ofereceram.

Foi por não haver cumprido com esta obrigação, que azegokwin é hoje posto no fogo, cozido e comido. Os outros têm uma importância muito maior: um permite que se construam casas e o outro que se ganhe dinheiro. Sem o terceiro, no entanto pode-se passar muito bem.





ITAN TI ODÙ IKA



Naquele tempo, Orunmilá era muito pobre e não tinha sequer uma casa para morar.

Resolveu então, consultar seu Kpoli, para saber o que deveria ser feito para melhorar sua vida e na consulta, surgiu Ika Meji.

No dia seguinte, Orunmilá ofereceu o sacrifico e logo as coisas começaram a mudar em sua vida.

Certo dia, quando caminhava por uma estrada, Orunmilá encontrou Egun, que ameaçava levá-lo para Ló e Orunmilá, para apaziguá-lo ofereceu-lhe uma tigela cheia de leite de cabra e Egun, agradecendo, colocou seu Ashé a disposição de Orunmilá.

No outro dia, foi Orixá que se interpôs no caminho de Orunmilá e este também lhe ofereceu Ekú defumado, conseguindo depois de apaziguá-lo, obter a força de seu Ashé.

No terceiro dia, Orunmilá foi novamente interceptado, desta vez por Ajé, que furioso ameaçava destruí-lo e Orunmilá, depois de espetar no solo um talo de palmeira, ofereceu-lhe Akire (*) defumado, conseguindo desta forma, que Ajé se afastasse para muito longe dali.

(*) Akire = Rã.



ITAN TI ODÙ OBEOGUNDA



“Se a cidade me aceitar, ela viverá: se a cidade não me aceitar, ela morrerá”

Lonfin, rei de Ifé, tinha duas esposas, ambas terrivelmente ciumentas. Um belo dia, a primeira esposa pôs-se a cozinhar nozes de palma e a segunda, frutos de ahwa. Terminado o trabalho, elas vieram procurar o rei, dizendo: “Nós já cozinhamos nossos frutos, amanhã tu deverás pilá-los.”

“Como”- protestou Lonfi, “Eu, o rei do país?”

Embora a contragosto, para não desapontar as mulheres, o rei concordou em realizar o trabalho. Colocou uma mão dentro do pilão cheio de nozes de palma e outra no pilão com frutos de ahwa.

Naquele tempo, era costume que todos os súditos viessem ficar diariamente pela manhã, cumprimentar o rei. Naquele dia as pessoas ficaram muito surpresas e chocadas ao encontrarem sua majestade real, ocupada com uma atividade reservada as mulheres.

O trabalho terminou, sem nada dizer, ao seu povo, o rei foi visitar Ifá e lhe disse: “Esta manhã para satisfazer os caprichos de minhas duas esposas, dispus-me a pilar nozes de palma e frutos de hawa. Meus súditos, que sempre vêm me saudar, viram-me fazendo tal trabalho. Tenho certeza que depois disto, meu prestígio ficará abalado. Que posso fazer para reabilitar-me diante de meu povo?” 

Na consulta, foi exigido um sacrifício de nozes de palma e frutos de ahwa pilados, um galo, uma bandeia de bambu trançado, sobre a qual deveriam colocar os frutos pilados, cada qual de um lado. O signo Irete Meji, deveria ser riscado três vezes, sobre o Fate e o pó yerosun, utilizado para isto, deveria ser salpicado, sobre a bandeja e seu conteúdo. A bandeja deveria ser entregue ao rei, que colocaria sobre ela, um galo e levaria tudo, em sua própria cabeça, até Elegbara. Ai, diante dele, o próprio rei deveria arriar a oferenda, degolar o galo e oferecer o ebó.

Cumprida a risca a recomendação de Ifá, Elegbara, depois de receber o sacrifício, colocou uma coroa sobre a cabeça de Lonfi e retornou em sua companhia ao palácio.

No caminho, vendo o rei coroado e acompanhado de Elegbara, todos o saudavam com respeito. alguns, mais audaciosos, ainda ousavam perguntar: “Não foi a ti que vimos, não faz muito tempo, ocupado em realizar trabalho de mulher?”

O rei, orientado por Elegbara, respondeu: “Sim, fui eu mesmo. Um grande mal estava por cair sobre nossa cidade. Consultei Ifá que me recomendou fazer um sacrifico, do qual faziam parte nozes de palma e frutos de ahwa pilados com minhas próprias mãos. Como podem ver, acabo de oferecer o sacrifico e Legba veio em minha companhia, para assegurar o bem estar da cidade.

Desta forma, o rei consegui readquirir o respeito de seus súditos, que passaram a depositar nele, mais confiança que antes do ocorrido.





ITAN TI ODÙ OBEOGUNDA



Foi o Odu Irete Meji, quem aboliu os sacrifícios humanos que eram, em tempos imemoriais oferecidos a Orunmilá.

Antes disto, havia uma filha do rei de Ayo, chamada Osu N’Layo, que tendo se casado, não conseguia gerar filhos. Inconformada com sua esterilidade, Osu resolveu consultar Ifá, em busca de orientação. Na consulta, o adivinho pediu um sacrifício de dois cabritos, duas galinhas, dois tecidos de ráfia e quatorze moedas. O sacrifício deveria ser arriado ao cair da noite, diante de um certo matagal, por ele indicado.

Naquela mesma noite, a jovem foi fazer o ebó e no caminho, caiu dentro de um enorme buraco, onde foi obrigada a permanecer, durante toda a noite ao lado de sua oferenda. Na manhã seguinte, percebendo que alguém se aproximava, pôs-se a pedir ajuda: “Socorro! Tire-me deste buraco onde cai com todas as oferendas que compunham meu ebó.

O passante era nada mais, nada menos, que Fa Aydegun que, da borda do buraco, falou: “Joga-me teus dois tecidos de ráfia!”

A mulher jogou os panos e Fa Aydegun, amarrou um ao outro e segurando numa das pontas, estendeu a outra para a jovem, que desta forma, foi içada até a superfície. Aproveitando-se da situação. Fá possuiu a mulher, depois do que, seguiu seu caminho.

Algum tempo depois, a mulher percebeu que estava grávida e passado o tempo de gestação, deu a luz uma menina, que ficou morando em companhia da mãe e do avô. A menina crescia rapidamente...

Um dia, o país foi envolvido numa guerra. Atacado o palácio, Osu N’layo foi morta e a menina capturada pelo inimigo.

Tempos depois, Fa Aydegun voltou e antes de chegar à cidade, mandou seus servidores capturarem um ser humano, para ser sacrificado em honra de seu Ipori. Em sua busca, os servidores encontraram uma jovem escrava, que era na realidade, a filha de Osun N’Layo, que desta forma, foi levada a casa de Fa.

Enquanto não chegava o dia da cerimônia a menina ocupava-se de pequenos serviços caseiros. Encarregada de pilar o maiz a fim de obter a farinha de akasa, a menina, que sabia tudo sobre a ligação de sua mãe com Fa Aydegun, começou a chorar, lamentando-se:

“Que triste sina a minha! Quando minha mãe tinha trinta e um anos, foi consultar um Babalawo, para poder ter filhos. No dia em que foi oferecer o sacrifício determinado, caiu num buraco de onde foi retirada por um homem negro, que se aproveitando da situação, fez amor com ela, seguindo depois seu caminho, sem jamais ser novamente visto. Foi este contato que me fez vir ao mundo. Agora vou morrer sem ter tido a chance de conhecer meu pai!...”

Os que ouviam seus lamentos, penalizados, perguntaram se ela sabia pelo menos o nome do tal homem negro que possuíra sua mãe.

“Minha mãe disse que seu nome era Fá Aydegun!” Respondeu a criança.

Suas palavras foram comunicadas a seu pai, que escondido, tentou escutar o que a menina tinha para dizer. Ao ver a menina, Fá teve a certeza de que estava diante de sua própria filha. Como poderia sacrificar alguém que ele próprio havia engendrado?

Fa ordenou que fossem trazidos cabritos, galinhas, pombos, ratos do campo, etc..., e mostrando ao seu Ipori, falou: “Aqui está o que comerás de hoje em diante. Tu não receberás mais sangue nem carne humana!”

Desta forma, foram suprimidos os sacrifícios humanos nos ritos de Ifá. Hoje em dia, os sacrifícios oferecidos compõe-se somente de animais.



Cânticos: Koma ma gbo mon lo mon

eku ni ke ogba.

Koma ma gbo mon lo mon

eye ni ke ogba,

Koma ma gbo mon lo mon

adie ni ke ogba,

Koma ma gbo mon lo mon

elã ni ke ogba,

Koma ma gbo mon lo mon.



Outro cântico: Elã ni ogba,

Mama gbe li eni,

Elã ni ogba,

Mama gbe li eni,

Kpalo, okpalo bajiwo feli elã.

Kpalo, kpalo, kpalo.



(Estes cânticos, acompanham os sacrifícios oferecidos a Irete Meji e tem aproximadamente o seguinte significado):



“Receba os animais, não aceite seres humanos. Decapite os animais, poupe os seres humanos”.





ITAN TI ODÙ OBEOGUNDA



Esta é a história da criança gerada por Ajé, mulher de Metonlonfin, chefe de todos os feiticeiros.

Em seu nascimento, esta criança prometida a Olofin - mestre de todas as coisas, aos homens, para servir de intermediário entre eles, recebeu o nome de Fá Aydegun. Logo depois de haver nascido, apesar da missão a que fora destinado. Fá Aydegun permanecia preso de um mutismo inexplicável, o que deixava seu pai muitíssimo irritado. Por mais que se insistisse, o menino limitava-se a chorar, sem emitir uma só palavra.

Certo dia, já bastante irritado pelo enigmático mutismo da criança, Metonlonfin deu-lhe uma pancada com um pedaço de marfim entalhado que portava no momento e o menino, interrompendo seu pranto permanente, gritou em alta voz: “Ogbe”.

Admirado, Metonlonfin golpeou-o novamente e o menino gritou a palavra Oyeku. A um terceiro golpe, foi dito Iwori e recebendo golpes consecutivos, o menino foi falando: Odi, Irosun, Owonrin, Obara, Okanran, Ogunda, Osá, Ika, Oturukpon, Otura, Irete, Oshe e Ofun.

Depois de pronunciados este dezesseis nomes, o pai parou de bater no menino que então lhe disse: “Pai, as palavras que me ouvistes pronunciar, são os nomes de meus dezesseis filhos espirituais. Eu não posso anunciar mais que um deles por cada golpe recebido, por conseguinte, não poderia manter uma conversação sem não receber consecutivos golpes de teu bastão, ao qual darei o nome de Irofá.

Assim sendo, quando mais tempo me baterem com o Irofá, mais tempo manterei contato com os homens. Devo revelar agora, os segredos de cada um dos meus dezesseis filhos, de posse destes segredos, qualquer ser humano poderá aliviar seus sofrimentos, amenizar suas vicissitudes.

Todos eles apresentam duplas características, são Meji (duplos), podendo assim, causar o bem e o mal. Seus nomes são sagrados e não devem ser pronunciados de forma profana, por bocas ímpias, sob pena de terríveis maldições. Para que se sintam bem e possam sempre trazer benções para os homens, devem ser tratados e agradados com os seguintes elementos que lhes pertencem especificamente.:

Ogbe Meji - a água fria.

Oyeku Meji - a galinha preta.

Iwori Meji - as bebidas alcoólicas.

Odi Meji - a banana.

Irosun Meji - o galo de penas amarelas.

Oworin Meji - a galinha de penas arrepiadas.

Obara Meji - a abóbora

Okanran Meji - o galo negro.

Ogunda Meji - peixe fresco.

Osa Meji - o óleo de palma.

Ika Meji - o pombo.

Oturukpon Meji - o pato.

Otura Meji - o carneiro

Irete Meji - o porco e o cabrito.

Oshe Meji - o milho torrado e o galo.

Ofun Meji - os ovos, as manteigas de ori e de cacau.



Um dia, Fá Aydegun, após revelar seus segredos a seu pai, transformou-se numa palmeira e por isto, é até hoje representado pelos negros caroços desta palmeira. É por este motivo que os adivinhos, para invocarem os filhos espirituais de Ifá, batem em seu Oponifá com os seus Irofá, pois só desta forma, Ifá estabelece conversa com eles.





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Todo mundo sabe que nada interessa mais a um muçulmano que o dinheiro, logo que o muçulmano chegou a Terra, consultou três Bokono, para que o orientassem na melhor maneira de obter dinheiro.

Após a consulta, os Bokonon recomendaram ao muçulmano, que oferecesse um sacrifício, para evitar o insucesso em seus negócios, mas o homem não concordou em fazê-lo.

O muçulmano, que morava no céu na companhia de Mawu, resolveu trazer de lá três cavalos, para serem vendidos na Terra.

Entre o Céu e a Terra, existia então, uma espécie de barreira alfandegária, que era fiscalizada por Agosu Sava (um dos nomes da morte).

Agosu Sava, barrou a passagem do marabu com os cavalos. Impedido de seguir viagem, ficou por ali, aguardando uma oportunidade de passar.

Durante a espera, o muçulmano encontrou um paralítico, que demonstrou interesse em dirigir-se a Terra. Aproveitando-se da situação, o muçulmano mandou que o aleijado montasse num dos seus cavalos.

O paralítico, sem que o muçulmano soubesse, carregava consigo três flechas.

Ao se aproximarem da barreira, alegaram que a montaria excedente era uma reserva, para o caso de cansaço daquele que carregava o paralítico, conseguindo desta forma, permissão imediata para ¤prosseguirem viagem.

Já na estrada, o muçulmano precisou apear para fazer suas necessidades. Aproveitando-se de seu afastamento, o paralítico temendo que o companheiro fosse utilizar o terceiro cavalo para transportar algum malfeitor, introduziu uma flecha na barriga do animal.

Prosseguiram viagem, sem que o muçulmano percebesse nada e de repente o animal caiu sem vida.

Caminharam algumas horas, depois de terem substituído a montaria do paralítico, quando o muçulmano, sentindo cólicas novamente, dirigiu-se ao mato para aliviar-se. Imediatamente e agora por compulsão, o paralítico introduziu outra flecha na barriga de seu cavalo, que após caminhar alguns minutos, veio a morrer.

O mesmo destino estava reservado ao terceiro animal e só então, o muçulmano se apercebeu de que tudo não passava de um castigo, por haver negligenciado o sacrifício determinado pelos adivinhos.

O paralítico, não tendo mais o que o carregasse, ficou pelo caminho e o muçulmano prosseguiu viagem a pé, chegando a terra no exato momento em que o rei do lugar acabara de morrer.

Segundo os costumes da época, o estrangeiro que chegasse no momento da morte do rei, deveria ser o seu substituto e ao muçulmano, foi dado o título de Imamú.

Foi a partir deste dia, que ficou estabelecida a dinastia Imamú (Islamismo).





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Quando o arbusto edau-de-folhas-vermelhas, chegou ao mundo, Shebo Lisa deu-lhe espinhos que foram presos ao seu próprio corpo, com a seguinte recomendação: “Haja com doçura! Se agires com doçura, será a ti mesmo que protegeras”.

Adãun-Ve, era uma moça. Logo que ela veio ao mundo, Shebo-Lisa lhe deu um punhal (espinhoso). Este punhal representava seu seios (anõ).

Quando os seios cresceram, os rapazes sentiam grande prazer em tocá-los, irritada com isto, a jovem resolveu ferir as mãos indiscretas mas agindo assim arriscava-se a ser destruída por um malvado que, ao se sentir ferido, viesse a matá-la por vingança. Seus belos seios seriam então, a causa da sua desgraça.

Da mesma forma, se a planta espinhos Adãun pica aqueles que tocam em seus espinhos, por vingança, será arrancada.





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Primeiro Deus criou o homem negro, depois o marabu e depois o branco.

Certa noite, Olofin estava numa encruzilhada, de onde abençoava seus filhos, quando um negro vinha passando, Olofin chamou-o e, entregando-lhe uma botija e cinco centavos, pediu-lhe que fosse comprar óleo de palma. O negro partiu, comprou quatro centavos de óleo e guardou um centavo para si.

Deus que tudo vê, perguntou ao negro: “Só este óleo por cinco centavos? Sabes que tudo vejo e vi quando embolsastes um centavo. Se achas que um centavo pode suprir suas necessidades, segue teu destino com esta importância!”

No outro dia passou o marabu, Olofin chamando-o, entregou-lhe a mesma botija com cinco centavos, dando-lhe a mesma ordem que havia dado ao negro. Chegando ao mercado, o marabú comprou três centavos de óleo e surrupiou os outros dois.

Ao receber de suas mãos a botija com óleo, Deus perguntou: “Só este óleo por cinco centavos? Vi muito bem quando guardastes dois centavos em tua bolsa. Se achas que dois centavos podem suprir suas necessidades, segue teu destino com esta importância!”

No dia seguinte foi a vez do branco. Deus confiou-lhe a mesma missão, com a botija e cinco centavos. O branco partiu, comprou cinco centavos de óleo e voltou com a botija cheia. Deus então lhe disse: “Muito bem! Dê-me tuas mãos para que as abençoe!” E soprando sobre as mão estendidas, assim falou: “Tu és bendito entre todos os teus irmãos. Tu os comandarás, eles viverão submetidos a ti”! É por isto que até hoje, todas as demais raças são subjugadas pela raça branca.





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Awasasatonu (formigueiro) e Bejinfin (rato do mato) eram amigos, com fortes distinções.

Rato do mato que era andante e Formigueiro que jamais se mudava de casa, possuía muitos filhos, Rato do Mato Procurou seu amigo e anunciou-lhe o deseja de residir junto dele e, como Formigueiro não concordasse, resolveu cavar um túnel que passasse em baixo da casa do amigo.

A casa de Formigueiro havia sido muito bem construída sobre um grande placa de terra batida e o Rato Construiu o seu túnel bem em baixo desta placa, túnel este, que era utilizado para servir de passagem, em suas investidas contra as plantações vizinhas, de onde surrupiava grande quantidade de nozes de palma.

A voracidade do Rato era tão grande, que em pouco tempo, as nozes que roubou davam para encher uma choupana.

Os frutos roubados pertenciam a uma plantação de propriedade de Metolonfin, que um dia ao visitar a plantação, sentiu falta de muitos cachos de dendê.

Regressando ao palácio, o rei mandou emissários ao local, com a missão de descobrirem o ladrão que lhe estava causando tantos prejuízos.

Os emissários, após um minucioso exame do local, descobriram o túnel aberto pelo Rato e na sua borda, vestígios claros da existência em seu interior de nozes de palma.

Retornando ao palácio, relataram sua descoberta e receberam de Metonlonfin, ordens de destruírem o túnel e matarem o ladrão.

Imediatamente os homens voltaram a fazenda onde, munidos de ferramentas apropriadas, começaram a cavar uma vala sobre o túnel e seguindo a direção por ele estabelecida, chegaram ao local onde se encontrava o Formigueiro, que foi destruído, sem que tivesse qualquer culpa no acontecimento.

“Que fiz eu para merecer tal castigo?” Perguntava Formigueiro, vendo seus filhos abandonando-o, enquanto era destruído pelos homens e suas ferramentas. Enquanto isso, Rato do Mato dormia tranquilamente abrigado sob as árvores, barriga cheia de nozes de dendê.

Quem causou tamanha desgraça a Formigueiro? É por isto, que todos aqueles que dão abrigo ou si juntam a pessoas de procedimento ruim, acabam pagando por coisas que não fizeram.

Se Formigueiro tivesse consultado Ifá, certamente teria encontrado orientação para livrar-se de tamanho malefício.





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Naquele tempo, uma epidemia dizimou a cidade de Ifé.

Ifá e os Vodun, que frequentemente alardeavam seus poderes, não puderam conter a mortandade.

Metonlonfin, rei de Ifé, aborrecido, mandou prender Sakpata (o Vodun da Terra), Xevioso (o Vodun do Fogo), Toxosu (o Vodun da Água), Ayidohwedo (o Vodun do Ar), e um jovem muçulmano muito poderoso, denominado Tula al Fa (Alafia).

Irritado, Metonlonfin gritou: “Vocês não passam de falsos amigos! Certos de suas imortalidades, deixaram morrer todo o meu povo! Agora eu os prendo no interior desta gruta, onde permanecerão encerrados durante oito dias.

No quarto dia, os Vodun morreram de fome, somente Alafia, que levava em seus bolsos vários obis e grãos de pimenta atakun, conseguiu sobreviver.

No oitavo dia, Metonlonfin ordenou que fosse aberta a entrada da gruta e, no seu interior, foram encontrados os quatro cadáveres dos Vodun e Alafia vivo, sempre mastigando seus obis e seus grãos de pimenta.

Levado diante do rei, Alafia ouviu de sua boca: “Tu Alafia, porque sobrevivestes ao castigo, ressuscita os Vodun, ou sirva-lhe de carrasco!”

Ressuscitados os Vodun, prosternaram-se diante do rei, ouvindo sua sentença: “Eu vos maldigo Vodun, tristes filhos dos elementos. Eu vos provi de sentimentos, mas eles não lhes serão úteis no futuro. Alafia, é a partir de hoje, o vosso rei. Ele verá, ele compreenderá, falará e agirá por vós. Ele estará sempre acima de vós, que nada podereis sem a sua intervenção. O Odu e denominado Rei!”

Depois disto, os Vodun deixaram de se comunicar com os mortais. Os Odu transmitem suas mensagens aos homens, através de seus códigos, que são interpretados pelos adivinhos.





ITAN TI ODÙ ALAFIA



Quando se encontrava no céu perto de Mawu, o caramujo Aje se chamava Aina e era do sexo feminino.

Naquela época, Fa Ayedogun passava por sérias dificuldades financeiras e, por ser muito pobre, não era convidado a participar de qualquer festa ou reunião social.

Aina, recém nascida, era muito feia. Sua aparência terrível fazia com que todos evitassem sua companhia e ninguém aceitava tê-la em casa.

Depois de ser rejeitada em todas as casas, Aina bateu na porta de Fa Ayidogun, que apesar do estado de miséria em que se encontrava, acolheu a menina.

Uma bela noite, Aina acordou Fa, anunciando que estava prestes a vomitar. O hospedeiro apresentou-lhe uma tigela para que vomitasse, mas ela recusou-se. Uma cabaça foi trazida e também recusada e depois, uma jarra foi objeto de nova recusa. 

Fá perguntou então, o que poderia fazer para ajudá-la e Aina disse: “Lá no lugar de onde venho, costuma-se vomitar todos os dias, no quarto. Conduzida ao quarto, Aina começou a vomitar todos os tipos de pedras preciosas, brancas, azuis, vermelhas, verdes, etc.

Naquele momento, um marabu que passava, penetrou na casa de Fá e perguntou por Aina.

“Ela está no quarto, acometida por uma crise de vômitos.” Respondeu Fá.

O estrangeiro foi ver o que se passava e ao deparar com Aina vomitando pedras preciosas, exclamou: “Ha! Nós não conhecíamos os poderes de Aina, hoje revelados!” Disposto a serví-la, colocou-lhe o nome de Anabi ou Ainayi, que em Yoruba quer dizer: Aina vomita, Aina deu toda riqueza a Fá Ayidogun. Os muçulmanos, depois disto, fizeram de Aina uma divindade, conhecida entre eles, como Anabi.

(Este Itan descreve a lenda do surgimento do Orixá Aje Shaluga).





ITAN TI ODÙ ALAFIA



O Esquilo grita: “Tõ-mpeun!” O Esquilo mesmo, com sua própria boca, chama a morte para si.

Legba e o Esquilo eram bons amigos, Esquilo era um camponês bastante próspero, o que despertou a cobiça de Legba.

Legba era então uma espécie de sócio de Ifá. Sua função era enviar consulentes para Ifá, com a finalidade de obter galinhas para sua alimentação.

A cobiça levou Legba a buscar em Ifá, orientação para apoderar-se da propriedade de Esquilo.

Um ebó foi determinado: um cabo velho de enxada, uma pedra de esmagar nozes de palma e um jarro cheio d’água. O sacrifício, depois de oferecido, foi despachado nas terras de Esquilo.

Vendo que o milho e tudo o mais que era plantado nas terras de Esquilo, brotava e crescia com muita abundância, Legba queixou-se a Lonfin: “Esquilo apoderou-se de minha lavoura!”

Chamado a presença do rei, o camponês defendeu-se afirmando que Legba jamais havia cultivado um campo. “Ele jamais trabalhou!”

Gritava, “Tudo o que faz na vida é arrebanhar clientes para Ifá e roubar tudo o que estiver ao seu alcance! A lavoura me pertence, eu a plantei e colherei seus frutos!”

Para solucionar a questão, o rei enviou alguns investigadores de sua mais alta confiança, para averiguarem quem estava mentindo.

Chegando na roça os investigadores encontraram Esquilo trepado numa árvore de onde costumava vigiar sua propriedade.

“É trepado nesta árvore que cultiva a terra?” Perguntaram os enviados do rei. Legba, que neste momento chegava, solicitou aos investigadores que o acompanhassem, conduzindo-os até o local onde arriara o ebó.

Na chegada, pegou a pedra manchada de azeite de dendê, dizendo: “Vêem? Esta é a pedra com que extraio meu próprio óleo dos frutos produzidos por minha plantação. Este é o cabo da enxada com a qual arei minhas terras, de tão usado, quebrou-se. Esta é a jarra onde carrego água para, todas as manhãs, sob o Sol inclemente, molhar minha plantação. Peçam agora ao Esquilo, para mostrar suas ferramentas!”

Solicitado, Esquilo não pode mostrar seus instrumentos de trabalho que Legba, momentos antes havia escondido.

Ao ser informado do resultado da investigação, o rei declarou Legba como legítimo dono da terra e de tudo o que nela pudesse ser colhido.

Revoltado, Esquilo disse a Legba: “Tu és um ladrão! Tu não vales nada! Serás maldito pela vida! Consolo-me em saber que nada mais possuirás que estes campos. Eu conquistarei outras coisas e terei muitos filhos, tu não poderás ter nada!”

Hoje, Esquilo não precisa, para viver, de nada mais do que saber subir em árvores e procriar!

Neste Itan existe um ebó que pode ser utilizado para fins escusos. A responsabilidade de interpretá-lo cabe a quem desejar fazer uso dele.

(8) Deus fez o mundo e quando criou os animais, disse-lhes que, aquele que encontrasse a cabaça da vida, seria o mestre da vida.

Nesta cabaça estava encerrados tecidos, dinheiro, filhos, mulheres e tudo o mais que havia criado para seu entretenimento e para entretenimento dos outros. Os animais consultaram Ifá, que os recomendou oferecerem um sacrifício, para que pudessem encontrar a cabaça da vida.

Tudo o que tem vida neste mundo, consultou Ifá com a mesma finalidade, mas todos se recusaram a fazer o ebó.

Quando os homens surgiram no mundo, consultaram Ifá com a mesma finalidade e não recusaram a fazer o sacrifício exigido por Alafia.

Depois do sacrifício, Ifá lhes deu duas varas e disse: “Se encontrarem peixes, serpentes ou qualquer animais lutando entre si, não os separem deixem que se destruam. Mas se encontrarem dois pássaros lutando, separe-os!”

Seguindo seu caminho, os homens depararam, sucessivamente, com dois búfalos, depois com dois leões, depois com duas serpentes, depois com dois peixes, que lutavam entre si. Sem tomar conhecimento seguiram em frente.

Encontraram depois, no interior da vida, dois pássaros que lutavam pela posse de uma cigarra e que, no ardor da luta, já haviam embaraçado suas penas.

O chefe dos homens, pegando uma das varas, lançou-a contra os pássaros. Assustadas as aves se separaram e a cabaça caiu no chão.

Os homens, de posse da cabaça da vida, encontraram em seu interior o Ashé, tudo o que pode satisfazer os Vodun, tudo o que pode apaziguá-los, tornando os homens mais poderosos que eles.

Os animais foram então dominados pelos homens e os reconheceram como seus mestres e senhores da própria natureza. É por isto que os homens receberam o nome de Gbe-to (Pais da Vida).





ITAN TI ÈSÙ



Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás. Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões entre as pessoas ou para preparar-lhes armadilhas. Ele pode fazer coisas extraordinárias, como por exemplo carregar, numa peneira, o óleo que comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente!

Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje! Se se zanga, ele sapateia uma pedra, na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar! Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca. Ele nada pode transportar sobre ela.

Exu pode também ser muito malvado, se as pessoas se esquecem de homenageá-lo. 
É necessário.


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Certamente, algumas das informações contidas aqui neste post, sim são partes de estudos pessoais e de pesquisas feitas em livros e na própria internet e logicamente com instruções de grandes mestres que tenho nesta vida 

O intuito principal destas postagens é apenas para dar mais informações sobre alguns dos assuntos que já estao sendo abordados na Actualidade! Nao quero de modo algum ser o dono da verdade e nem recomendo que as coisas ensinadas aqui sejam feitas por pessoas leigas e acredito que procurar um especialista para ajudar voce seja o melhor  a fazer!

Axé Olodunmare        Asé orunmila           Asé Obatàlá         Asé Esú       Asé todos Orixá

#henryifatola #iwureiseselagba #orisa #ifa

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